«Abuso do nome de Deus»

Papa alerta contra «abuso do nome de Deus», que leva ao fundamentalismo religioso e extremismo

Leão XVI convida ao diálogo inter-religioso, procurando respostas comuns a desafios como o desenvolvimento da inteligência artificial

Cidade do Vaticano, 29 out 2025 (Ecclesia) – O Papa alertou hoje, no Vaticano, para o “abuso do nome de Deus”, que leva ao fundamentalismo religioso e extremismo, assinalando evocando os 60 anos da declaração ‘Nostra aetate’, do Concílio Vaticano II.

“Juntos, devemos estar vigilantes contra o abuso do nome de Deus, da religião e do próprio diálogo, bem como contra os perigos representados pelo fundamentalismo religioso e pelo extremismo”, disse, na audiência geral, que reuniu responsáveis de várias confissões para assinalar o aniversário do documento conciliar, dedicado à relação da Igreja Católica com as outras religiões.

Leão XIV destacou que, 60 anos depois, é necessário agir em conjunto, para responder aos desafios do mundo contemporâneo.

“Mais do que nunca, o nosso mundo precisa da nossa unidade, da nossa amizade e da nossa colaboração. Cada uma das nossas religiões pode contribuir para aliviar o sofrimento humano e cuidar da nossa casa comum, o nosso planeta Terra”, indicou, perante milhares de peregrinos reunidos na Praça de São Pedro.

As nossas respetivas tradições ensinam a verdade, a compaixão, a reconciliação, a justiça e a paz. Devemos reafirmar o nosso serviço à humanidade em todos os momentos”.

A intervenção do Papa, um dia após as celebrações oficiais do 60.º aniversário da ‘Nostra Aetate’, no Vaticano, convidou os responsáveis religiosos a “abordar o desenvolvimento responsável da inteligência artificial”.

“Se for concebida como uma alternativa ao humano, pode violar gravemente a sua infinita dignidade e neutralizar as suas responsabilidades fundamentais. As nossas tradições têm um imenso contributo a dar para a humanização da técnica e, por conseguinte, para inspirar a sua regulamentação, para proteger os direitos humanos fundamentais”, sustentou.

Leão XIV afirmou que “a paz começa no coração dos homens”, sendo esta uma esperança fundamentada na fé de cada pessoa e na convicção de que “um mundo novo é possível”.

“Há 60 anos, a ‘Nostra Aetate’ trouxe esperança ao mundo do pós-II Guerra Mundial. Hoje, somos chamados a restabelecer essa esperança no nosso mundo devastado pela guerra e no nosso ambiente natural degradado. Trabalhemos juntos, porque se estivermos unidos, tudo é possível. Garantamos que nada nos divide”, apelou.

O encontro terminou com um momento de silêncio.

“Aoração tem o poder de transformar as nossas atitudes, os nossos pensamentos, as nossas palavras e as nossas ações”, concluiu o pontífice.

Após a reflexão, o Papa dirigiu uma saudação especial aos vários grupos presentes, incluindo os peregrinos de língua portuguesa: “Queridos irmãos e irmãs, cada cristão é chamado a participar do esforço pela unidade, levando a esperança ao coração da sociedade. Nunca nos esqueçamos de que o verdadeiro relacionamento com o Senhor conduz sempre à paz e à concórdia”.

Leão XIV recordou ainda que, nos próximos dias, a liturgia católica comemora os fiéis defuntos.

“A oração pelos nossos entes queridos lembra-nos que a nossa pátria está nos céus. Que os esforços para obter os bens temporais, necessários na vida terrena, brotem sempre do amor e da fidelidade à verdade do Evangelho, que não passam porque têm a sua fonte no próprio Deus”, apelou.

Semana dos Seminários 2025

Nota pastoral Precisamos de ti

Nesta semana de Oração pelos Seminários Diocesanos, que decorre entre 2 e 9 de novembro, o lema escolhido sai fora dos alvos tradicionais e dos desenhos a que estamos habituados. A começar pela imagem, desta vez é o rosto do Papa Leão XIV, o sucessor de Pedro, que com o dedo indicador aponta para cada um e apela: "Precisamos de ti". Não é uma proposta feita a partir do pessoal e do singular, mas no plural e em contornos eclesiais.

É aquele que, como Pedro, sabe que não é o único que foi chamado por Jesus, mas com outros, para continuar uma missão que se renova na colaboração de muitos que são "precisos", não só devido às carências, mas sobretudo contando com as potencialidades e os talentos de cada um.

O Papa precisa, a Igreja precisa, as Dioceses precisam, as Comunidades precisam e os Seminários particularmente precisam de jovens que sigam o convite de Jesus, para que como discípulos se disponham a ser sacerdotes diante dos desafios de hoje.

Todos nós “precisamos de ti" pessoalmente, com dúvidas e com medos, mesmo que nunca tenhas pensado nesta possibilidade de imitar Jesus, o Bom Pastor. Também tu podes ajudar a conduzir, a reunir, a defender, a alimentar o rebanho, que são as pessoas, tantas vezes dispersas, tristes, desanimadas e abandonadas.

A Igreja precisa de ti, para que, como ovelha que já faz parte do rebanho, mais próximo ou mais distante, possas fazer a experiência de pastor, como sacerdote.

Nós “precisamos de ti", e não só as outras ovelhas, mas aqueles que sendo pastores, também se sentem parte do mesmo rebanho do qual só Jesus é o único e bom pastor.

O papa, os bispos, os sacerdotes, os leigos, todos precisamos de ti. Através destes mediadores, é o próprio Jesus que se dirige a ti e aponta para ti: "Eu preciso de ti".

Alguns vão respondendo, são os que já estão nos Seminários e que vão percorrendo o seu caminho de discernimento. A esses também dizemos, através do Papa Leão XIV: nós “precisamos de ti". Outros são os que constituem as equipas formadoras dos Seminários, a quem também dizemos: nós “precisamos de ti", de cada membro que acompanha, com mais visibilidade ou com menos protagonismo. A cada família também dizemos: nós “precisamos de ti", da generosidade e da participação.

E a ti que sentes que o dedo indicador do Papa aponta na tua direção, recorda que há muitas ovelhas, muitos rebanhos que não conheces, mas que "precisam de ti". Precisamos de sacerdotes, precisamos de seminaristas, "precisamos de ti".

Os convites de Jesus dirigidos a Pedro e aos doze a quem chamou porque precisava deles, não estão esgotados, mas continuam a ser oferecidos por aqueles que já os receberam.

Oração

Senhor Jesus, precisamos de Ti.
Como Tu precisas de nós,
também nós precisamos de Ti.
Precisamos do teu amor.
Precisamos da tua coragem.
Precisamos do teu perdão.
Precisamos da tua entrega.
Precisamos da tua presença.
Precisamos do teu Espírito.

 Senhor Jesus, precisamos de Ti,
para termos sacerdotes.
Senhor, não nos abandones.
Precisamos de Ti,
como Tu precisas de nós.
Senhor Jesus,
que Tu e nós sejamos um só.

 Que a Igreja seja conduzida por Ti,
o Bom Pastor, e que
das ovelhas do teu rebanho,
saiam pastores-sacerdotes
que sempre precisam de Ti.

 Senhor Jesus
contamos Contigo
e com o conforto de tua Mãe,
Maria, que é nossa Mãe. 
Ámen.

 

+ Vitorino José Pereira Soares

Presidente da Comissão Episcopal Vocações e Ministérios

O que Miriam tem para nos dizer

(O relatório pode ser visto aqui)

Neste momento, alerta a AIS, dois terços da humanidade, ou seja, cerca de 5,4 mil milhões de pessoas vivem em países sem liberdade religiosa. Uma dessas pessoas é Miriam, uma jovem paquistanesa.

“Eram 6 horas da manhã quando tudo começou.” A história, dolorosa, é contada por uma jovem, Miriam, um nome que esconde a sua verdadeira identidade. Miriam sobressaltou-se com os gritos de uma multidão que se acotovelava furiosa em frente à sua casa, no Paquistão. Gritavam. “Vamos queimar-vos, saiam de casa!”

Miriam afirma que estavam todos aterrorizados. “O barulho da multidão era cada vez mais alto. Acusavam o meu avô de blasfémia. O meu avô e todos nós dissemos que não sabíamos do que estavam a falar. Recusaram-se a aceitar o que disséssemos e começaram a arrombar as portas e a partir as paredes e as janelas. Incendiaram a fábrica de calçado ao lado, que era propriedade do meu avô. Invadiram o meu quarto. Eu estava noiva e planeava casar em breve. Os meus pais guardavam objectos no meu quarto, como móveis, roupas e outros presentes, que faziam parte do meu dote. A maioria destes objectos foram roubados, outros foram destruídos. Corremos para salvar as nossas vidas. Escondemo-nos na casa de banho durante seis ou sete horas até que a polícia nos mandou sair. Por esta altura, estava tudo destruído. Tudo avariado, sem água canalizada, sem electricidade. Estávamos desesperados por encontrar o meu avô. Encontrámos um homem caído no chão. Estava coberto de sangue. Os seus dentes estavam partidos, assim como o nariz, e todos os ossos do seu corpo pareciam estar esmagados. Disseram-nos que aquele homem ali caído era o meu avô, mas simplesmente não conseguíamos acreditar.”

Mas era mesmo o avô de Miriam. Levado inconsciente para o hospital, acabaria por não resistir aos ferimentos. Poucos dias depois, a avó de Miriam morreria também, de desgosto. Esta história verídica, que ocorreu recentemente no Paquistão, elucida muito sobre a enorme vulnerabilidade em que se encontra a comunidade cristã neste país asiático. É uma minoria exposta a uma sociedade cada vez mais radicalizada, onde a lei da blasfémia é usada e abusada para atingir os mais frágeis. E muitos são cristãos.

O Relatório sobre a Liberdade Religiosa no Mundo, que abrange o período entre Janeiro de 2023 e Dezembro do ano passado, deixa um alerta: a situação agravou-se e neste momento mais de 5,4 mil milhões de pessoas vivem em países sem plena liberdade religiosa.

196 países analisados à lupa

A história de Miriam ocupa o Prefácio do Relatório da Fundação AIS sobre a Liberdade Religiosa no Mundo, lançado oficialmente esta terça-feira, dia 21 de Outubro, em Lisboa e nas principais capitais europeias. Miriam conta o que lhe aconteceu, mas, mais do que isso, lança-nos um desafio: é preciso agir em defesa das vítimas de perseguição religiosa no mundo. “O dia em que perdemos o meu avô está gravado no meu coração. Podemos recuperar os nossos pertences, podemos reconstruir a nossa casa, mas não podemos trazer o meu avô ou a minha avó de volta. Ao honrar a sua memória e procurar justiça pela sua morte, rezamos para que este relatório ajude as pessoas a compreender o terrível preço que muitos pagam pela falta de liberdade religiosa, uma liberdade que, como podemos testemunhar, é a diferença entre a vida e a morte”.

O Relatório sobre a Liberdade Religiosa no Mundo, que abrange o período entre Janeiro de 2023 e Dezembro do ano passado, deixa um alerta: a situação agravou-se e neste momento mais de 5,4 mil milhões de pessoas vivem em países sem plena liberdade religiosa. Ou seja, cerca de dois terços da humanidade. É o que se passa no Paquistão, o país de Miriam. O relatório analisa a situação em 196 países e documenta graves violações em 62 países a esse direito fundamental que está inscrito na Declaração Universal dos Direitos Humanos como o seu artigo décimo oitavo.

O relatório identifica o autoritarismo como o principal motor da repressão religiosa, mas também alerta que o extremismo islâmico continua a expandir-se, particularmente em África e na Ásia, e que o chamado nacionalismo étnico-religioso tem vindo a impulsionar a repressão religiosa das minorias em algumas partes da Ásia. O próprio crime organizado é também responsável pela violência religiosa, especialmente em países como o Haiti e México.

Se a Europa ou a América do Norte assistiram a um aumento do clima de hostilidade por motivos religiosos, em África, muitas comunidades vivem um ambiente de verdadeiro terror por causa da actuação crescente de grupos extremistas armados, impulsionadores de um jihadismo militante.

Mil ataques a Igrejas em França

E não se pense que a Europa ou a América no Norte estão imunes a esta realidade. Em 2023, a França registou quase mil ataques a igrejas; na Grécia, ocorreram mais de 600 actos de vandalismo; e picos semelhantes foram observados em Espanha, Itália e Estados Unidos, incluindo profanações de locais de culto, agressões físicas a clérigos e interrupções de serviços religiosos.

De acordo com a Fundação AIS, esses actos reflectem um clima crescente de hostilidade ideológica em relação à religião. E não são apenas os cristãos as vítimas desta intolerância crescente. O Relatório também documenta um aumento dramático nos actos antissemitas e antimuçulmanos após os ataques de 7 de Outubro de 2023, em Israel, e a consequente guerra em Gaza. Em França, os incidentes antissemitas aumentaram mil por cento enquanto os crimes de ódio contra muçulmanos aumentaram 29 por cento. Na Alemanha, houve 4.369 incidentes em 2023, em comparação com apenas 61 no ano anterior.

Alastramento do jihadismo militante

Se a Europa ou a América do Norte assistiram a um aumento do clima de hostilidade por motivos religiosos, em África, muitas comunidades vivem um ambiente de verdadeiro terror por causa da actuação crescente de grupos extremistas armados, impulsionadores de um jihadismo militante. É assim, por exemplo, na Nigéria, no Mali, Níger, Burquina Fasso, Somália, República Centro-Africana, mas também na República Democrática do Congo, Somália, Quénia e Moçambique. O que se está a passar neste último, país africano de língua oficial portuguesa, tem merecido particular atenção por parte da Fundação AIS. De facto, Moçambique tem assistido a um aumento da violência terrorista, especialmente na província de Cabo Delgado, onde militantes filiados no autoproclamado Estado Islâmico continuam a atacar comunidades cristãs, a queimar igrejas e a matar civis.

Apesar da presença de forças militares internacionais, os insurgentes expandiram-se para novos distritos, aproveitando o fraco controlo estatal e os vazios de governação. Neste contexto, as comunidades religiosas, em particular a Igreja Católica, têm-se mantido activamente empenhadas na promoção da paz e do diálogo inter-religioso. A Declaração Inter-religiosa de Pemba, assinada em 2022 por líderes cristãos e muçulmanos, reafirmou o seu compromisso partilhado de prevenir a instrumentalização da religião. Em 2024, o Conselho Islâmico de Moçambique assinalou a sua vontade de mediar com elementos jihadistas.

Estes esforços sublinham a resiliência dos actores religiosos face à crescente insegurança. Mas, apesar disso, as notícias que chegam de Moçambique sinalizam que a violência jihadista está a crescer de intensidade e está até a ultrapassar as fronteiras da província de Cabo Delgado, alastrando, por exemplo para Nampula.

Uma das consequências do terrorismo em Moçambique, como em todos os outros países em África, é o aumento também exponencial do número de pessoas em fuga, acelerando dessa forma as situações de pobreza e miséria e as crises humanitárias no mundo. O Relatório da Fundação AIS alerta para o facto de que as guerras e a violência religiosa desencadearam uma crise silenciosa de deslocamento forçado de centenas de milhares de pessoas. Na Nigéria, ataques de grupos armados ligados a pastores fulani, muito radicalizados, deixaram milhares de mortos e comunidades inteiras desalojadas. No Sahel — especialmente no Burquina Fasso, Níger e Mali – aldeias inteiras foram destruídas por milícias islâmicas. No Sudão, a guerra civil varreu do mapa comunidades cristãs centenárias.

A Fundação AIS decidiu este ano, e pela primeira vez na sua história, lançar uma petição global, de apelo aos governos e às organizações internacionais para que garantam que o Artigo 18.º da Declaração Universal dos Direitos Humanos não seja letra morta.

E agora, que fazer?

Miriam, a jovem paquistanesa que viu a sua vida sobressaltada no ataque em que o seu avô foi praticamente linchado por uma multidão sedenta de violência e sangue, pede-nos acção. Os crimes de ódio motivados pela intolerância religiosa não devem ficar impunes. Por isso, e porque há milhares de Miriams no mundo, a Fundação AIS decidiu este ano, e pela primeira vez na sua história, lançar uma petição global, de apelo aos governos e às organizações internacionais para que garantam que o Artigo 18.º da Declaração Universal dos Direitos Humanos não seja letra morta, mas sim um garante para que todas as pessoas tenham direito à liberdade de pensamento, consciência e religião.

O desafio fica lançado também aqui nas páginas do Ponto SJ. Agora é connosco. Assinar esta petição é um primeiro passo para que o mundo tome consciência deste gravíssimo problema. Afinal, a liberdade religiosa é o termómetro para todas as outras liberdades. Por isso, é tão importante esta petição. É preciso dizer alto e em bom som que a liberdade religiosa é um direito e não um privilégio.



Paulo Aido

Já não mora aqui

Morte: Escolher a empatia sem fugir da fragilidade foi o caminho de Maria Conde para fazer o luto do pai

Jovem de 23 anos é autora da página «Já não mora aqui» e mentora do grupo de partilha «Ainda estamos aqui», dirigido a jovens entre os 16 e os 25 anos

Lisboa, 22 de out 2025 (Ecclesia) – Maria Conde, autora da página na rede social ‘Instagram’ «Já não Mora Aqui», disse hoje que a morte abre um tempo de «porquê», centrado não apenas no acontecimento da perda mas no sentido da vida e na opção de prioridades.

“As prioridades de vida mudaram drasticamente com a morte do meu pai. Eu só tinha 21 anos e de um dia para o outro a vida é abalada por novas perguntas, quer para acompanhar a pessoa que passa por uma doença, mas também relativas à nossa vulnerabilidade. Passo a questionar sobre o que me vai preencher depois do luto, sobre o sentido a dar à minha vida depois de ter este testemunho de amor gigante”, explica à Agência ECCLESIA.

Maria Conde, hoje com 23 anos, foi cuidadora do seu pai a partir do momento em que lhe foi diagnosticado um cancro até ao momento da sua morte, seis meses depois.

“Eu sou católica e acredito que o céu existe, que o meu pai também está lá. É uma ideia que me consola saber que a vida não acaba aqui, e que no dia em que morremos começa uma nova vida, mas às vezes é muito difícil entender o vazio e o silêncio. Precisava que o céu fosse um bocadinho mais perto da terra”, conta.

A jovem diz que o “maior medo” que tem é “esquecer” e procura “valorizar” o processo pelo qual passou, que entende ter deixado marcas de empatia, de proximidade e de critério nas relações.

“O meu pai era uma pessoa espetacular; se calhar foi preciso demasiado tempo para eu perceber isso – o seu testemunho de perseverança e de esperança. Sinto que agora tenho a missão de pegar nisto que aconteceu e levá-lo aos outros, procurar que as pessoas se sintam menos sozinhas, que o cancro passe a ser um tema discutido e que a empatia e sensibilidade, que eu acho que se está a perder, voltem e que estejam no centro”, explica.

Meses depois de o seu pai falecer, Maria Conde criou uma página na rede social instagram «Já não mora aqui», onde partilha textos que escreveu quando era cuidadora, “para não esquecer e organizar ideias”, e onde procura que o luto que continua a fazer seja realizado de forma acompanhada.

“À medida que ia avançando no caminho e a solidão ia sendo cada vez maior, porque eu tinha dificuldade em falar com amigos sobre o processo, sentia também que tudo isto tinha de ter um propósito”, recorda.

Maria criou um “espaço de partilha” segura, onde testemunhos e histórias pessoais se encontram – em partilhas de tom azul, Maria escreve sobre o seu testemunho; com tons de amarelo, a autora partilha mensagens “de igual para igual com quem está a passar pelo mesmo”; os textos em tom verde “são direcionados a sensibilizar à sociedade para os temas do cancro” e a cor lilás “relaciona-se com o luto”.

“Senti que a maioria dos testemunhos que eu recebia eram de pessoas cuja doença, muitas vezes, conduzia à morte dos pacientes, e que fazia sentido partilhar o caminho de luto”, sublinha.

No processo de acompanhamento da doença, que durou seis meses, e no luto que teve início em dezembro de 2023, Maria percebeu que “o amor e a dor são faces da mesma moeda”.

“Foi algo que eu percebi logo no início da doença, mas que à medida que o tempo passa, e com a página «Já não mora aqui», é mais notório. Quando gostamos de alguém, e quanto mais construímos essa relação, o amor é cada vez mais forte. E portanto, invariavelmente, se acontece alguma coisa a essa pessoa, ou a essa relação, a dor vai ser proporcional. Portanto, quanto mais eu gosto, mais eu sofro. Mas ao mesmo tempo posso olhar ao contrário. Quanto mais eu sofro, mais eu gosto. Também no luto, importa virar a moeda para a face correta”, explica.

A página «Já não mora aqui» abre agora espaço para um grupo de partilha «Ainda estamos aqui», dirigida a jovens entre os 16 e os 25 anos, onde se pretende que a escuta,  companhia e partilha de experiências sobre a doença a formas de viver o luto possam aproximar pessoas.

A conversa com Maria Conde pode ser acompanhada esta noite no programa ECCLESIA, emitido na Antena 1, pouco depois da meia-noite, e no podcast «Alarga a tua tenda».

Seminário dinamiza Semana de Oração pelas Vocações Sacerdotais

A Diocese de Leiria-Fátima, através do Seminário Diocesano, convida todos os fiéis a unirem-se em oração, com a celebração da Semana de Oração pelas Vocações Sacerdotais, que decorre de 2 a 9 de novembro. As iniciativas previstas, enquadradas no lema pastoral deste ano, “Ser testemunha da esperança batismal”, visam mobilizar a comunidade para o discernimento e o apoio aos jovens que se preparam para o presbiterado.

As propostas centrais da Semana foram comunicadas pelo reitor do Seminário, padre Manuel Armindo Pereira Janeiro, e pretendem despertar nos mais jovens a atenção “aos sonhos que Deus tem para cada um deles”.

Iniciativas em destaque

O dia 8 de novembro concentra as atividades principais, que terão lugar na igreja paroquial de Nossa Senhora da Piedade, em Ourém:

Encontro Vocacional: Das 15h30 às 22h30, realiza-se um encontro especificamente direcionado a grupos de jovens que frequentam o nono e décimo anos de escolaridade. Esta iniciativa é um momento de reflexão e de partilha sobre o caminho vocacional.

Eucaristia e Vigília de Oração: A partir das 21h00, toda a comunidade é convidada a participar na celebração da Eucaristia e Vigília de Oração, pedindo a Deus o dom de novas e santas vocações sacerdotais. A celebração será presidida pelo Bispo de Leiria-Fátima, D. José Ornelas.

Peditório para o Seminário

A Semana de Oração é, também, um período dedicado à angariação de fundos para a formação dos futuros padres. Os peditórios das missas vespertinas e da Eucaristia de domingo, dia 9 de novembro, serão integralmente destinados ao Seminário Diocesano, contribuindo para a sustentabilidade da instituição.

Percursos de formação e discernimento

Também foram divulgadas informações sobre os caminhos formativos de dois jovens ligados à instituição, que testemunham a importância do acompanhamento vocacional na Diocese.

O aluno Miguel Francisco, natural do Souto da Carpalhosa, frequenta o sexto ano do Seminário Maior, em Lisboa, e mantém este ano a sua colaboração pastoral com o padre Jorge Guarda, na paróquia Nossa Senhora da Piedade e na Unidade Pastoral de Ourém.

Por outro lado, o antigo aluno do Seminário, Dani Gil, foi acolhido para uma nova etapa de discernimento depois de um ano de acompanhamento. Atualmente, está a fazer uma atualização teológica e pastoral na Universidade Católica do Porto, e a realizar um estágio pastoral com o padre Rui Acácio na Unidade Pastoral de Porto de Mós.

Pastoral vocacional contínua na Diocese

Para além da Semana de Oração pelas Vocações Sacerdotais, o Seminário dinamiza um conjunto de iniciativas ao longo do ano que mantêm viva a atenção à vocação:

— Noites de Oração, pela FOS: Mensalmente, realizam-se as Noites de Oração pela Família de Oração pelo Seminário (FOS), abertas à participação de todas as paróquias, Institutos de Vida Consagrada, Serviços e Movimentos da nossa Diocese. Estes momentos de oração têm lugar no Seminário à terceira quinta-feira de cada mês, pelas 21h00.

— Projeto Vocacional nas Escolas: Em colaboração com os Professores de Educação Moral e Religiosa Católica (EMRC), o Seminário desenvolve um projeto nas escolas públicas e particulares, que neste ano pastoral se guia pelo lema “Sonhar com Deus o sonho de Deus para mim”.

— Rede de Animadores Vocacionais: Está em curso a organização de uma rede de animadores vocacionais, com base nas Unidades Pastorais, que tem como objetivos a oração pelas vocações sacerdotais, a promoção anual de um encontro vocacional e a motivação de possíveis candidatos para um acompanhamento mais próximo e personalizado.

A programação para os mais jovens inclui ainda três propostas para 2025: o encontro “Stay With Jesus” para os Acólitos da Diocese (28 e 30 de março); o retiro “Entre (tantos) silêncios” no Sábado Santo (4 de abril), destinado a jovens entre os 16 e os 30 anos; e a peregrinação “Do lava-pés ao Pentecostes”. No caminho do essencial (24 de maio), também para jovens dos 16 aos 30 anos.

O padre Manuel Armindo Pereira Janeiro aproveitou a comunicação para informar que a próxima grande data a assinalar para o Seminário é o Dia do Seminário, cuja celebração está marcada para 8 de dezembro.

Formação de seminaristas da diocese de Leiria-Fátima regista défice de 12 mil euros

O Seminário Diocesano de Leiria-Fátima registou um saldo negativo de 12.208,37 euros no ano pastoral 2024/2025 referente aos custos de formação dos seminaristas. Este défice representa um aumento de 632 por cento face ao período homólogo anterior, 2023/2024, quando o saldo negativo se situava em 1.667,79 euros.

Os dados constam do resumo das Contas do Seminário em 2024, divulgado pelo reitor, padre Manuel Armindo Pereira Janeiro, num relatório que compara o ano pastoral 2024/2025 com 2023/2024.

Despesas e receitas da formação

A despesa total com a formação dos seminaristas atingiu os 34.644,43 euros no ano pastoral 2024/2025. O aumento mais significativo das despesas verificou-se nas Mensalidades, que subiram 116 por cento, passando de 5.500,00 euros para 11.870,00 euros. Outras rubricas de despesa, como as Deslocações dos Seminaristas, subiram 25 por cento (atingindo 3.855,02 euros) e a Remuneração da Equipa Formadora aumentou 12 por cento (8.487,13 euros).

No lado da receita, o valor total angariado foi de 22.436,06 euros em 2024/2025. A principal fonte de financiamento manteve-se o Ofertório da Semana dos Seminários, que totalizou 20.647,06 euros, um crescimento de 11.38 por cento em relação aos 18.537,38 euros do ano anterior. Os donativos de Outros Benfeitores também registaram um crescimento, subindo 31.39 por cento para 1.626,00 euros.

O Seminário recordou que, face ao saldo negativo apurado, os peditórios das missas vespertinas e da Eucaristia do domingo, 9 de novembro, da Semana de Oração pelas Vocações Sacerdotais, revertem na totalidade para o Seminário.

Nota: A informação financeira refere-se aos anos pastorais 2023/2024 e 2024/2025 [http://l-f.pt/ipuK]

Comunidade da Diocese contribui com mais de 20 mil euros para o Seminário

O Ofertório da Semana dos Seminários na Diocese de Leiria-Fátima ultrapassou os 20 mil euros no ano pastoral 2024/2025, registando um crescimento de 11,38 por cento face ao período homólogo anterior. O relatório, divulgado pelo Seminário Diocesano, revela que o montante total angariado através dos peditórios ascendeu a 20.647,06 euros, mais 2.109,68 euros do que no ano anterior.

Este valor reafirma o Ofertório da Semana dos Seminários como a principal fonte de financiamento do Seminário Diocesano, sendo um contributo fundamental para fazer face aos custos de formação dos seminaristas da Diocese.

Unidades Pastorais com aumentos significativos

A análise por Unidade Pastoral e por paróquia revela variações assinaláveis na generosidade da comunidade. A Unidade Pastoral de Leiria (UP1) demonstrou uma forte contribuição, com o total da paróquia de Leiria a ascender a 1.075,23 euros, um aumento de 385,57 euros.

O concelho de Ourém também se destacou pela subida dos donativos. A paróquia de Nossa Senhora da Piedade, em Ourém, viu o seu contributo aumentar em 179,50 euros, totalizando 580,00 euros. Já a paróquia de Caxarias registou um dos maiores crescimentos absolutos, contribuindo com 436,81 euros, o que representa mais 231,81 euros do que no ano anterior.

Outros aumentos expressivos foram notados:

  • A paróquia da Barreira aumentou o seu ofertório em 211,01 euros, para um total de 271,43 euros.

  • A paróquia de Marrazes viu a sua contribuição subir em 177,41 euros, para um total de 587,41 euros.

  • A paróquia da Freixianda recolheu mais 118,12 euros, totalizando 631,81 euros.

Apesar do aumento global, algumas paróquias registaram uma diminuição nos valores angariados, com destaque para a paróquia da Maceira, que viu o seu ofertório descer 360,24 euros, e a paróquia de Albergaria dos Doze, que angariou menos 146,50 euros.

Nota: Os dados apresentados comparam os valores do Ofertório da Semana dos Seminários referentes aos anos pastorais 2023/2024 e 2024/2025

Diocese de Leiria-Fátima admite 15 candidatos ao diaconado permanente

Numa celebração que marca a história da Diocese, 15 homens iniciaram formalmente o percurso de três anos que os pode conduzir à ordenação diaconal. O rito de admissão decorreu no Seminário de Leiria, presidido por D. José Ornelas.

A diocese de Leiria-Fátima realizou no sábado, 18 de outubro, a celebração eucarística de admissão de 15 homens como candidatos ao diaconado permanente. O rito, que decorreu na capela dos Santos Pastorinhos, no Seminário de Leiria, às 14h30, marca um passo histórico para a Diocese e representa o início formal de um caminho de formação de três anos para este ministério ordenado.

A celebração foi presidida por D. José Ornelas e contou com a presença de sacerdotes, familiares e amigos dos candidatos. A admissão acontece após estes homens terem concluído um ano de discernimento e acompanhamento pelo Serviço para o Diaconado Permanente.

Ao todo, 19 homens iniciaram o percurso de discernimento. No entanto, um deles faleceu e três desistiram por motivos diversos, resultando nos 15 candidatos agora admitidos oficialmente pela igreja diocesana.

Logo no início da celebração, D. José Ornelas não escondeu a emoção do momento: “Hoje é, sem dúvida, um dia muito feliz na vida da nossa Igreja diocesana e um dia também de esperança. E graças a vocês que estão aqui, candidatos ao diaconado, às vossas famílias e amigos que vos acompanham e aos padres que representam as comunidades de onde vindes.”

O bispo diocesano dirigiu-se particularmente às esposas dos candidatos casados, sublinhando que este é um caminho que se faz em conjunto: “Uma palavra muito específica para as esposas daqueles que são casados e familiares, porque é juntos que fazemos esse caminho. Vocês não estão perdendo ninguém, não estão dividindo o amor com ninguém; o amor que vocês têm uns aos outros é algo que se vai expandir precisamente no serviço à igreja.”

O ministério do serviço

Na homilia, D. José Ornelas contextualizou a decisão da Diocese em instituir o diaconado permanente à luz do processo sinodal que a Igreja está a viver. “Já foi tentado, mas pronto, chegou agora a vez”, afirmou, explicando que esta decisão foi votada “com alegria e esperança” nos órgãos próprios da Diocese.

O bispo sublinhou que não se trata apenas de ter mais dirigentes ao serviço: “Não é simplesmente uma questão de nós termos um grupo de dirigentes sólidos, capazes… Não é um grupo de dirigentes. É um grupo que, de diversas formas, dentro da nossa Igreja, foi chamado por Deus, que vai suscitando pessoas, homens e mulheres, para servir o seu povo.”

Recorrendo às leituras do dia, D. José Ornelas utilizou a imagem de Moisés com os braços levantados para ilustrar a importância da preparação e da oração: “É tão importante como a boa organização que nós temos, porque para fazer isso, estar verdadeiramente ao serviço de Deus para o seu povo, é preciso que nós tenhamos competência, que nós sejamos capazes de preparar-nos.”

O bispo destacou ainda a importância da experiência conjugal dos candidatos casados para o ministério: “E a vossa experiência de casados é muito importante para aqueles que dão vida e que estão ao serviço desta Igreja. Porque, senão, falta uma dimensão muito importante.”

Três anos de formação

Com este rito de admissão, os candidatos iniciam um percurso formativo com a duração de três anos que engloba componentes de pastoral social, profética e litúrgica, assim como espiritualidade e experiência apostólica e pastoral. O diaconado permanente é um grau da Ordem que se caracteriza pelo serviço à Palavra, à Liturgia e à Caridade.

Durante a homilia, D. José Ornelas enfatizou que a preparação não é apenas técnica: “Este período de preparação não é que é um período que tem um bocado de oração. Tem mais umas coisas para a gente aprender a ser eficiente.”

Ação de graças com dedicatória especial

Durante o momento de ação de graças, foi apresentado um vídeo com a canção “Quero servir-Te”, composta por Filipe Ferreira, um dos candidatos. O tema resultou do processo de discernimento do autor e espelha, nas palavras do próprio, “momentos significativos da minha caminhada cristã, passagens bíblicas que mais me tocaram e a convicção crescente de fazer caminho com os meus colegas candidatos”.

Filipe Ferreira dedicou o projeto a Bruno Coutinho, que também integrava o grupo de candidatos e que faleceu em setembro: “Ganhei coragem para concluir este projeto para poder dedicá-lo ao Bruno Coutinho, colega e amigo que partiu em setembro último, e cuja serenidade e entrega continuam a inspirar-nos.”

Histórias de chamamento

Entre os 15 candidatos admitidos, encontram-se histórias diversas de chamamento e discernimento. Micael Pereira, polícia de profissão e responsável pela catequese na sua paróquia há mais de 20 anos, conta que foi convidado pelo padre Jorge Guarda há cerca de dois anos: “Fez-me o convite, deixou-me a pensar ali seriamente, ainda há umas semanas, e depois senti uma força interior, digamos assim, que me levou a aceitar este convite.”

Casado, Micael sublinha que a esposa “aceitou bem” e descreve o caminho como “um sim diário”: “O ano de discernimento já passou, mas a meu ver até ao fim desta caminhada, acho que deve ser sempre um período de discernimento e ver se efetivamente é isto que Cristo quer para mim, ou não.”

João Dias, pasteleiro, tem um percurso particular. Foi seminarista mas deixou o seminário porque “o celibato não dava mesmo”. Depois de uma vida que descreve como “completamente ao contrário daquilo que aprendi no seminário”, sentiu o chamamento: “Tenho a certeza que Deus chegou ao pé de mim e disse, anda cá. E aí, agora sinto a obrigação de dar a cara por Ele na primeira linha até onde posso.”

Com o apoio da esposa, que está à frente da pastelaria para ele poder dedicar-se à formação, João destaca a importância do grupo: “Somos bastante diferentes. Temos vivências diferentes, até escolaridades diferentes. E dá para perceber a grandeza da Igreja aqui. Tornou-se uma relação de amizade.”

Sérgio Silva, encarregado-geral de uma empresa de mármores em Fátima, casado e com dois filhos e três netos, conta que o desejo de servir a Igreja vem desde criança: “Desde pequenino, quando tinha 12 anos, já fui fazer um estágio no seminário dis Monfortinos, na altura dizia que queria ser padre.”

Embora não tenha seguido esse caminho, constituiu família e foi catequista durante 25 anos. Quando surgiu o convite para o diaconado permanente, sentiu-o como natural: “Foi como um fogo ardeu dentro de mim. Foi uma luz que brilhou ainda mais e depois tive um grande apoio em casa. Isto foi tudo uma mais-valia. Eu posso dizer, do fundo do meu coração, que não houve a menor dúvida de nada.”

Palavras finais de união

No final da celebração, D. José Ornelas reforçou a importância da caminhada conjunta: “E só juntos é que podemos fazê-lo. E por isso hoje, muito obrigado a vocês, obrigado aos vossos familiares que estão cá, muito obrigado aos padres que vieram, porque juntos é que nós fazemos, formamos a Igreja.”

O bispo destacou ainda o significado do Seminário de Leiria como casa da Diocese: “Estava a dizer que queria que esta fosse a nossa casa. E o bispo também veio para aqui, exatamente para isso, para estar perto de onde se passam as coisas, para caminharmos juntos no caminho que o Senhor nos vai mostrando.”

José Sousa, um dos candidatos, resumiu o sentimento geral do grupo: “Era visível a felicidade de cada candidato neste primeiro passo, mas com a consciência do grau de dificuldade, e também da responsabilidade. Sentimos que não estamos sós, estamos unidos a esta Igreja sinodal onde vamos procurar aprofundar o sentido da missão inerente a este sacramento, no anúncio do Evangelho, e no serviço dos irmãos, particularmente dos mais necessitados.”

Os 15 candidatos ao diaconado permanente iniciam agora um percurso de formação que se estenderá pelos próximos três anos, com o objetivo de aprofundar a sua preparação para o serviço à Palavra, à Liturgia e à Caridade na diocese de Leiria-Fátima.

Entrevista ao padre Manuel Armindo Janeiro: Trabalho em equipa e discernimento marcam caminho das unidades pastorais

Entrevista realizada por: Paulo Adriano, da Diocese de Leiria-Fátima, e António Marujo, do jornal digital 7Margens (setemargens.com)

No âmbito da Assembleia Diocesana, realizada a 5 de outubro no Seminário de Leiria, o padre Manuel Armindo Janeiro, vigário-geral da diocese de Leiria-Fátima, explicou que as unidades pastorais representam uma forma sinodal de renovar a Igreja, privilegiando o trabalho em equipa entre sacerdotes, a colaboração entre paróquias e o discernimento no Espírito. Para o padre Armindo, estas metodologias valorizam a condição batismal de cada cristão e permitem responder aos desafios de novos contextos, promovendo uma vivência comunitária mais próxima e corresponsável.

O sacerdote destacou ainda que a implementação prática das unidades pastorais envolve a articulação entre os níveis diocesano, vicarial e unitário, integrando padres, leigos, diáconos permanentes e religiosos. Segundo ele, este modelo facilita a partilha de responsabilidades, a descoberta de talentos nas comunidades e a criação de novas dinâmicas de evangelização, tornando o trabalho pastoral mais vivo, participativo e centrado na palavra de Deus.

https://youtu.be/WwKv9x2z86s

Padre Manuel Armindo Janeiro, o que é isto das unidades pastorais?

É uma forma sinodal de renovar a Igreja. Agora explicando. Elas implicam três coisas que são profundamente motivadoras. Por um lado, o trabalho em equipa dos padres. Depois, o trabalho em conjunto das paróquias. E o método de discernimento, que chamam de conversação no Espírito.

Como é que estas metodologias se traduzem na vida concreta das comunidades?

Podemos ir ao método que a Ação Católica usa, da revisão de vida, se lhe quisermos chamar. Qualquer uma destas metodologias proporciona-nos o quê? A valorização da condição batismal de todos nós. Radicalmente iguais. Filhos muito amados, mas cujo amor em cada um de nós se revela de uma forma única, porque cada um de nós é amado por Deus também na sua especificidade, de uma forma única e, portanto, com dons próprios. 

E que desafios novos é que estas realidades trazem à Igreja hoje?

O outro lado é que há mais realidade, há mais vida neste momento, que nos traz desafios novos. A nossa vida, dentro das comunidades cristãs, hoje precisa deste refazer-se no Espírito e no encontro com a realidade, porque há novas realidades que exigem a nossa reflexão, a nossa proximidade. Ou seja, somos chamados pelo Senhor para darmos razões da nossa fé em novos contextos.

Estes novos contextos hoje são mais do que aquilo que a gente consegue, cada um por si, imaginar. Damos-nos conta quando começamos a rezar e a pensar juntos. É isso que o nosso Bispo tem insistido muitas vezes.

Como têm os padres aderido a esta proposta? O que significa viver em equipa?

Não há obrigatoriedade de viver juntos, há sim trabalhar juntos. O presbitério não se constitui em unidades paralelas, mas sim num corpo que é animado pelo Espírito Santo e liderado pelo Bispo.

Isto foi começado com os padres, todos os padres da Diocese. Começou por uma carta de princípios, em que nós, no fundo, acolhemos os desafios do concílio, os desafios sobre a sinodalidade, a nossa realidade concreta, e procuramos trabalhar isso, olhando para o contexto cultural em que estamos e para os desafios que temos internamente e externamente. Esta carta de princípios deu depois origem, depois de aprovada, a um documento sobre as unidades pastorais, a um documento sobre a revisão das vigararias e um projeto pastoral que há-de, pouco a pouco, ir pondo em marcha todo este dinamismo. Nas palavras do Sr. D. José, esta é só a primeira parte.

A dificuldade maior não será pessoas diferentes, com métodos de trabalho diferentes, porem-se de acordo sobre aquilo que pode ser mais importante?

Alguns acham que possa ser a intensidade do ritmo, ou seja, precisar de mais tempo. Outros acham que a sinodalidade, que sendo sempre uma expressão da ação do Espírito Santo, que no fundo já existia, de alguma maneira obriga-nos a uma disponibilidade interior e a uma capacidade de trabalho em conjunto por virmos de um modelo, com 400 anos, de pároco-paróquia, ou pároco-várias paróquias. Apesar do Concílio nos ter dito e nos falar da corresponsabilidade a todos os níveis e da participação a todos os níveis, isso ainda não se tinha feito “carne”, ainda não se fez vida. Mas já há muitos sinais disso na história e na vida da Igreja. Mas são precisos mais. Mas a realidade que está fora de nós para a evangelização não é menos exigente do que isso. Ou seja, temos de também caminhar ao ritmo do tempo. Nós temos hoje nas comunidades cristãs novas disponibilidades se nós soubermos ir de encontro a elas.

Essa diversidade de sensibilidades tem sido um obstáculo ou uma riqueza?

Há gente que, ao sentir-se envolvida e ao sentir que se quer a sua opinião e a sua palavra, despertam-se para novas ideias e novas formas de participação que nós, pela rotina, tínhamos desvalorizado ou nem sequer tínhamos equacionado. Portanto, mexer na forma de nos organizarmos traz surpresa que nós próprios podíamos prever, mas depois as variáveis são tantas que não sabemos muito bem como é que elas se organizam. Este trabalho de grupo que está agora a acontecer é precisamente para isso. É acolher essas diversas sensibilidades. Por isso é que o bispo diz que falamos de princípios, não de normas.  As normas vamos nós combiná-las uns com os outros. Finalmente ele dará a sua chancela e passarão a ser critério. Mas vamos construindo passo a passo.

Essa mudança implica também uma nova forma de formação dos padres?

Os modelos de formação nossos, mesmo no seminário, também tendo de facto estudado isto como ideia, como teologia, estavam menos vivenciados como prática. A passagem da teoria à prática tem também aqui um desafio. E esta passagem à prática significa a possibilidade de muitas formas… Como diz o documento final do Sínodo, é preciso fazer experiência, é preciso ir para a realidade e testar, animados pelo Espírito, lendo da melhor forma possível a realidade e tendo em conta os dons que temos para o serviço do povo de Deus.

No fundo isto é muito mais do que as reuniões de vigararia que os padres fazem uma vez por mês…

Sim. Neste momento estamos a articular três níveis: a diocesana, a vigararia e a unidade pastoral. Sabendo que depois a vida acontece nas comunidades paroquiais, evidentemente, mas a coordenação e a dinamização está a ser articulada desta maneira.

O dia-a-dia é em unidade pastoral. É aí que se programa o dia-a-dia, cada unidade pastoral para a sua realidade. Depois, a reflexão, a estratégia para aquela zona pastoral, projetos de fundo, novos dinamismos, ideias novas de evangelização ficam mais para o nível vicarial, que é mais reflexão e proposta alargada.

E depois temos a coordenação, que será a diocesana, que também se faz essa coordenação a nível da vigararia. As unidades pastorais estão viradas para aquilo que é a gestão corrente da vida. 

Qual é o papel dos leigos e dos religiosos neste novo modelo?

Vamos fazendo caminho, porque temos que ir afinando aqui. O que é que acontece? É outra grande mudança. Antes contávamos com os párocos, com os padres e alguns colaboradores. Agora, com a equipa de coordenação pastoral, da unidade pastoral, conta-se de igual modo com os leigos, com o Diaconado Permanente, que são bastantes a ser preparados na diocese para o efeito. Com os religiosos também. É para haver espaço também para os religiosos. Ou seja, é a Igreja que se manifesta na sua diversidade. Enquanto que antes estava muito centrada naquilo que era a função do pároco.

Não se perde nada da sua missão específica, mas é pensada e é enquadrada dentro desta equipa de coordenação pastoral, que tem as diversas valências. 

Como enquadramos a Assembleia Diocesana em toda a lógica de dinâmica sinodal? Qual é o seu objetivo?

Na dinâmica sinodal é precisamente continuar a ouvirmo-nos. E não é só nós nos ouvirmos. Porque o senhor Bispo vai passar também pelas unidades pastorais e vamos ouvir os párocos, vamos ouvir os conselhos económicos e pastorais e depois reunimos com os padres do chamado Colégio Presbiteral da Vigararia. Mas aqui é para que os leigos de toda a diocese, — nos grupos estão padres, estão leigos, está toda a gente, — todos nos possamos ouvir.

Que frutos já se podem ver dessa escuta e desse trabalho conjunto?

Estamos a criar mentalidade, estamos a criar um sentir comum, acolhendo as dificuldades, mas também alegrando-nos com as coisas boas que já estão a acontecer. E já aconteceram este verão algumas dificuldades que houve — um padre que não podia porque ficou doente e já teve ajuda na unidade pastoral; eles organizaram-se para… “olha, esta celebração não pode haver porque estou só eu”. Ou seja, já houve esse trabalho de equipa sacerdotal que foi útil. E isto é um primeiro ponto. 

O segundo ponto: como é que isto se inclui?

Nós estamos, como se diz o Sr. Bispo, no primeiro passo ainda que é, criámos aquele espaço para poder acontecer a relação. O Sínodo fala de conversão das relações e conversão dos processos. O espaço, no fundo, permitiu, permite dar condições, porque os párocos são párocos ‘in solidum’, ou seja, todos eles têm responsabilidade pastoral igual na unidade pastoral. Embora o nosso Bispo, para que as comunidades paroquiais não fiquem, de alguma maneira, desamparadas, deu a cada padre a responsabilidade por determinada paróquia. Para quê? Para que não houvesse este sentir-se um pouco desapoiado. Também há alguns casos em que o modelo é pároco e vigário paroquial. Há três unidades pastorais que funcionam no modelo pároco e vigário paroquial. O senhor Bispo atendeu às razões específicas que esses padres apresentaram. Mas o geral, as outras 14, é pároco ‘in solidum’. 

Como se articula essa dimensão pastoral com a responsabilidade civil e jurídica dos padres?

No direito canónico há conflito entre a figura do moderador e, quando diz que o moderador assume bastante a coordenação, às vezes exagera e praticamente faz dos outros párocos, subordinados. E essa é uma tensão que o sínodo tem que resolver. Está identificada e tem que resolver. O que é que o senhor Bispo quis? Manter essa mesma tensão, no sentido que não deixam de ser párocos, a colaboração entre eles é necessária, mas a moderação significa para o nível pastoral, significa a coordenação.

Para o nível civil, o senhor Bispo estabeleceu que usou a linguagem que é hoje precisa para efeitos concordatários e legislação civil, o termo de ‘beneficiário efetivo’ e ‘legal representante’. Para, no fundo, esclarecer a responsabilidade civil de cada padre no contexto daquela paróquia. Aqueles, no fundo, trabalham pastoralmente em conjunto, mas do ponto de vista civil, a responsabilidade primeira é deste padre, mas depois colabora nas outras todas. Isto permite também agilizar processos do ponto de vista de bancos e outras entidades.





E em que medida esta caminhada ajuda a clarificar a relação entre poder e serviço na Igreja?

Outro ponto, também, que interessa valorizar nesta caminhada sinodal é: o que nos une, o que nos identifica é, essencialmente, a dignidade de irmãos e de filhos. Esta condição é estruturante.

Todas as outras são de serviço. É verdade que o Ministério Ordenado participa no sacerdócio de Cristo de uma forma diferente do sacerdócio comum. E, por isso, para fazer acontecer os gestos de amor de salvação que Jesus quis oferecer aos seus irmãos, constituiu-os num corpo especial no presbitério e deu-lhes, em comunhão com o bispo, funções próprias específicas. Mas é sempre em serviço, não é poder. O que é que a gente tem de resolver e que vem do segundo milénio, é a distinção entre poder e serviço, poder e autoridade. Esta é uma tensão que atravessa todo o segundo milénio e que, agora, se pode começar a fazer esta distinção.

Fazendo esta distinção, tu tens o serviço do Ministério e tens o serviço que é delegado de competências de autoridade nas comunidades. Ora, o exercício da autoridade pode ser concedido pelo bispo a quem ele entender que tem condições específicas para fazer, porque essa autoridade pode-lhe vir das suas competências. Entra, então, este serviço que vem da jurisdição e o serviço que vem do sacramento, o que é que aconteceu? Juntámos estas duas coisas no segundo milénio. As funções de governo na Igreja ligaram-se ao sacramento da ordem. Não é obrigatório que esteja sempre ligado. Não é obrigatório que seja só um médico o diretor do hospital.

Numa perspectiva a curto prazo, espera que saia daqui alguma conclusão que possa, de certa forma, impactar as unidades pastorais ou as paróquias?

O que está previsto pelo Sr. Bispo é que este ano seja o tempo da constituição onde não houver conselhos pastorais, mas sobretudo as equipas de coordenação pastoral. O que é que é a equipa da coordenação pastoral? São as pessoas que, representando cada paróquia, vão para esta equipa ser, de alguma maneira, o motor da animação da unidade pastoral, com os padres, os religiosos que houver, os diáconos permanentes e os responsáveis dos serviços. Este é o que se está a pedir que seja o trabalho deste ano. 

E como tem sido a reação dos leigos e dos padres a este processo?

Alguns estão no princípio, outros estarão no meio e outros estarão no fim. Até dependerá muito da dinâmica das unidades pastorais. E sabendo que há padres que estão nisto com mais convicção e outros com menos. Leigos com mais convicção e outros com menos. Isto também vai ter resultados diferentes. Alguns terão mais dúvidas que outros. Isto também é um processo de consciencialização e de compreensão. O que foi dito pelo nosso bispo, é que o que está dentro de nós, os desafios que estão dentro de nós, é uma benção poder trabalhá-lo em equipa, como ele dizia agora na reflexão inicial, de uma forma simbólica, à volta da mesa, com os dons que o Espírito deu a cada um e estando todos disponíveis para, como em Jerusalém, ver qual é a vontade de Deus, o que é que o Espírito nos está a querer ensinar ou a fazer intuir de bem e de melhor para a comunidade. Este trabalho nós estamos a aprendê-lo. Os movimentos lançaram esta dinâmica e os religiosos tiveram esta dinâmica primeiro.

Nós, diocesanos, tínhamos um outro modo. Estamos a chegar também aqui e a aprender. Claro que em muitas comunidades isto já se fazia. Dependia muito do estilo do pároco. Aqui assume-se esta dinâmica como aquela que hoje corresponde melhor ao Espírito do tempo e à evangelização que é necessária.

Nesse capítulo há muito aquela ideia que o padre diocesano exatamente por essas razões não estará preparado para esse tipo de vivência comunitária do território pastoral. Isso verifica-se ou já há passos dados no que diz respeito a uma reconversão pessoal para adaptarem a sua própria atitude ao espírito comunitário?

Talvez sejamos injustos quando generalizamos. Eu acho que a maioria já está. Os que têm resistências e têm dúvidas têm dito ao senhor bispo. E temos conversado sobre isto tranquilamente. Mas também não estão parados. Ou seja, algum caminho vai sendo possível. Não estamos todos ao mesmo ritmo no sentido que uns podem dar só um passo, outros estão a dar dois ou três. A minha convicção desde o início é que o método e a proposta das unidades pastorais têm muito mais bondade do que dificuldades. Porque, no fundo, resolve problemas. Quase só por si está a resolver problemas. 

Esse novo modo de ser padre e de viver a missão tem trazido frutos visíveis?

Por exemplo, alguns dos colegas tiveram problemas de saúde graves que os impossibilitaram de dar o seu contributo à comunidade. Quando fui ver o que é que se passava e o que era preciso, já algumas comunidades tinham-se reorganizado, quando no passado essa questão vinha parar diretamente à Vigararia Geral. Ou seja, quando me falam de uma situação concreta, já vêm com resolução, porque já houve trabalho de casa. E é este assumir a responsabilidade e a missão da Igreja em conjunto que eu acho que é o melhor. 

E qual é o papel da Palavra de Deus neste processo de renovação e comunhão?

Nós estamos todos a centrar-nos mais na Palavra de Deus. Ela é que nos está a despertar. É uma oportunidade para escutar de novo a Palavra de Deus, porque a motivação é maior quando saímos do nosso canto, da nossa zona de conforto, do nosso territoriozinho, do nosso bairrismo. Saímos por causa da Palavra, porque é ela que nos converte. Porque temos um testemunho, porque temos uma missão a desempenhar, porque temos algo a realizar. É a Palavra de Deus que nos está a congregar. Verdadeiramente estamos a entrar na lógica da evangelização. E depois vamo-nos reunir à volta da Palavra. E como até diz o D. José, à volta da Palavra fazem-se muitos bons amigos. 

Isso abre portas a novas formas de organização?

Isso significa capacidade de poder trabalhar em conjunto e de ter projeto. 

Há depois aqui um outro ponto que é a possibilidade da gente, de uma forma organizada, ir à procura dos talentos que existem e não ficar só à espera que eles venham até nós, que era um bocadinho o modelo até agora, de apelarmos à participação e pronto. Agora, como queremos organizar-nos e atingir objetivos concretos, nós vamos perguntar, perguntamos uns aos outros, quem é a pessoa na nossa comunidade que está mais bem preparada para esta tarefa? A quem é que devemos pedir ajuda? Nós vamos à procura dos dons e dos carismas que existem. 

Não há uma rotina; há a possibilidade de inovar e de criar caminhos novos. Estas são as possibilidades que eu entendo mais próximas, porque às vezes já há acontecer, mas há muito mais riqueza. E depois, quando dois padres, uma dúzia de pessoas, podem conversar juntos de uma forma habitual, as coisas não ficam paradas.

Agora, se é só um padre que está com um peso enorme de três, quatro paróquias e tem de, no fundo, providenciar para que aqueles ritmos essenciais se mantenham, fica-lhe quase nada para o resto. E isso existe também. A verdade é que na nossa Diocese, com a ajuda dos religiosos, as coisas estão bastante equilibradas, mas… O tempo útil para nós podermos fazer esta mudança era agora. Daqui a cinco anos não era possível. Daqui a cinco, dez anos, as coisas seriam completamente diferentes.

Esta reorganização não será antes uma resposta à falta de padres?

É a dinâmica do sínodo. É o tempo do espírito. Esta disponibilidade que se gerou à volta do pensar-se as comunidades cristãs, de se poderem refletir a partir deste dinamismo lançado pelo Papa Francisco, é uma oportunidade única. Porque fora desta dinâmica, se não aproveitássemos agora, nós não teríamos aquela capacidade de sair de nós mesmos, ir à procura e de interessar. Havendo menos padres e não tendo uma dinâmica comunitária de anúncio, ou, digamos, um projeto de evangelização mais participado, quer dizer que os que estão, serão sempre menos e gastam mais energias porque o território é cada vez maior.

Porquê agora? Porque é que este tempo é considerado oportuno?

Portanto, a entrada desta dinâmica é oportuna, porque faz com que a comunidade cristã se sinta corresponsável. Claro que não é toda a gente. O Papa bem gostaria que fosse o maior número possível.

Eu quis passar pelos grupos todos que foram criando, mas não era possível. Mesmo assim senti a alegria de poder estar a participar. Este tempo foi o oportuno e o necessário para se poder caminhar. Será tanto mais benéfico para a Diocese quanto mais a gente se comprometer com ele. Porque essa é a oportunidade do Espírito Santo agir em nós e através de nós.

O apelo do Papa Leão XIV para o 99.º Dia Mundial das Missões

“Obrigado por tudo o que fareis para me ajudar a ajudar os missionários em todas as partes do mundo”

Por ocasião do 99º Dia Mundial das Missões, marcado para Domingo, dia 19 de Outubro, o Santo Padre Leão XIV lança um apelo a todas as paróquias do mundo para ajudarem as jovens Igrejas e apoiarem os missionários que trabalham nos cantos mais remotos da terra. 

O Santo Padre sublinha que o Dia Mundial das Missões, que no próximo ano celebrará 100 anos, é uma ocasião privilegiada em que toda a Igreja se une em oração pelos missionários e pela fecundidade do seu trabalho apostólico. E recorda a sua experiência missionária no Peru: «Quando era padre e depois bispo missionário no Peru, vi com os meus próprios olhos como a fé, a oração e a generosidade demonstradas neste Dia podem mudar comunidades inteiras.» 

No passado dia 22 de Maio, o Santo Padre Leão XIV já tinha mencionado a sua experiência pastoral, durante os anos do seu ministério na América do Sul. Ao dirigir-se com gratidão às Obras Missionárias Pontifícias, que trabalham nos países de missão, em nome do Dicastério para a Evangelização (I Secção para a Primeira Evangelização e as Novas Igrejas Particulares), afirmou que elas prestam, com dedicação, um serviço «indispensável à missão evangelizadora da Igreja». 

«Convido todas as paróquias católicas do mundo a participarem no Dia Mundial das Missões. As vossas orações e a vossa ajuda são importantes para difundir o Evangelho, apoiar programas pastorais e catequéticos, construir novas igrejas e responder às necessidades sanitárias e educativas dos nossos irmãos e irmãs nos territórios de missão», sublinha o Santo Padre na sua mensagem em vídeo, disponível nos sites Vatican.va e Vatican News, em várias línguas. 

O Papa Leão XIV, no final do seu apelo, convida-nos a reflectir sobre a nossa vocação baptismal e a sermos «missionários de esperança entre os povos», de acordo com o lema da Mensagem para o Dia Mundial das Missões deste ano, escolhido pelo Papa Francisco. 

«Renovemos o nosso compromisso doce e alegre de levar Jesus Cristo, a nossa Esperança, até aos confins da terra. Obrigado, obrigado por tudo o que fareis para me ajudar a ajudar os missionários em todas as partes do mundo», conclui o Santo Padre Leão XIV. 

LINK VIDEO: https://youtu.be/LcHNwwpri3Y?si=oLrLps-Qhmlue_qn

Transcrição do Apelo do Santo Padre para o Dia Mundial das Missões de 2025

Queridos irmãos e irmãs,

Todos os anos, no Dia Mundial das Missões, a Igreja inteira une-se em oração, especialmente pelos missionários e pelos frutos do seu trabalho apostólico.

Quando fui padre e depois bispo missionário no Peru, vi com os meus próprios olhos como a fé, a oração e a generosidade vividas neste dia podem transformar comunidades inteiras.

Convido todas as paróquias católicas do mundo a participarem no Dia Mundial das Missões. As vossas orações e o vosso apoio ajudam a espalhar o Evangelho, a apoiar programas pastorais e de catequese, a construir novas igrejas e a cuidar das necessidades de saúde e educação dos nossos irmãos e irmãs nos territórios de missão.

Neste dia 19 de outubro, ao refletirmos juntos sobre o nosso chamamento baptismal para sermos “missionários da esperança entre os povos,” renovemos o nosso compromisso alegre de levar Jesus Cristo, nossa Esperança, até aos confins da terra.

Obrigado por tudo o que farão para me ajudar a apoiar os missionários em todo o mundo.

Que Deus vos abençoe!

Quinze homens admitidos ao diaconado permanente na diocese de Leiria-Fátima

A diocese de Leiria-Fátima acolhe este sábado, dia 18 de outubro, a celebração da Eucaristia de admissão de quinze homens como candidatos ao diaconado permanente. O rito é um passo formal de grande relevância, marcando o início da sua formação para este ministério ordenado.

A celebração irá decorrer na capela dos Santos Pastorinhos, no Seminário de Leiria, às 14h30, e será presidida pelo bispo D. José Ornelas. A admissão acontece após estes homens terem concluído um caminho de discernimento e terem formalizado o seu pedido ao bispo diocesano, o qual foi aceite.

Ao todo, 19 homens iniciaram o percurso de discernimento e acompanhamento feito pelo Serviço diocesano para o Diaconado Permanente. No entanto, um deles faleceu e três desistiram por motivos diversos, resultando nos 15 candidatos que serão admitidos.

Com este rito, os homens passam a ser considerados oficialmente pela Igreja diocesana candidatos ao diaconado permanente e iniciam a sua formação formal. O caminho formativo tem a duração de pelo menos três anos e engloba componentes de pastoral social, profética e litúrgica, assim como espiritualidade e experiência apostólica e pastoral. O diaconado permanente é um grau da Ordem que se carateriza pelo serviço à Palavra, à Liturgia e à Caridade.

A manhã do dia 18 de outubro será dedicada à formação, com uma sessão sobre a pastoral social, conduzida pelo Professor Eugénio da Fonseca, antigo presidente da Cáritas Portuguesa.

A Eucaristia é aberta à participação de todos os fiéis.

«Dilexi Te» - Primeira exortação de Leão XIV

O Papa Leão XIV publicou hoje a primeira exortação apostólica do pontificado, ‘Dilexi Te’, na qual assume o legado pastoral e social de Francisco, numa reflexão sobre a relação da Igreja com os pobres.

“Em continuidade com a Encíclica Dilexit nos, o Papa Francisco, nos últimos meses da sua vida, estava a preparar uma exortação apostólica sobre o cuidado da Igreja pelos pobres e com os pobres, intitulada Dilexi te, imaginando Cristo a dirigir-se a cada um deles dizendo: Tens pouca força, pouco poder, mas «Eu te amei»”, explica o Papa, eleito a 8 de maio deste ano, pouco mais de duas semanas após a morte de Francisco (21 de abril).

O título ‘Dilexi Te’ (Eu amei-te, em português) é retirado de uma passagem do último livro da Bíblia, o Apocalipse (Ap 3, 9).

“Ao receber como herança este projeto, sinto-me feliz ao assumi-lo como meu – acrescentando algumas reflexões – e ao apresentá-lo no início do meu pontificado, partilhando o desejo do meu amado predecessor de que todos os cristãos possam perceber a forte ligação existente entre o amor de Cristo e o seu chamamento a tornarmo-nos próximos dos pobres”, escreve Leão XIV.

A reflexão sublinha a “opção preferencial pelos pobres”, uma expressão que se generalizou na Igreja Católica a partir da América Latina – onde Francisco nasceu e onde o atual Papa foi missionário e bispo – como uma dimensão teológica, e não apenas social, na vida da Igreja.

“A condição dos pobres representa um grito que, na história da humanidade, interpela constantemente a nossa vida, as nossas sociedades, os sistemas políticos e económicos e, sobretudo, a Igreja. No rosto ferido dos pobres encontramos impresso o sofrimento dos inocentes e, portanto, o próprio sofrimento de Cristo”, sustenta a encíclica.

Na linha do seu antecessor, Leão XIV defende o ideal de uma Igreja humilde, fiel à sua vocação de serviço aos necessitados, inspirando-se em figuras como São Francisco de Assis e os membros das ordens mendicantes, surgidas no século XIII.

“A Igreja é luz quando se despoja de tudo, a santidade passa por um coração humilde e dedicado aos pequenos”, refere, falando numa “revolução evangélica, na qual o estilo de vida simples e pobre se converte em sinal profético para a missão”.

Jesus é um mestre itinerante, cuja pobreza e precaridade são sinais do vínculo com o Pai e são pedidas também a quem deseja segui-lo no caminho do discipulado, precisamente para que a renúncia aos bens, às riquezas e às seguranças deste mundo seja um sinal visível do ter-se confiado a Deus e à sua providência.”

O Papa enfatiza que a Igreja deve assumir “uma decidida e radical posição em favor dos mais fracos”, num texto em que retoma a tradição bíblica e patrística (teólogos da antiguidade cristã), convidando a reconhecer os pobres como “carne de Cristo” e “modo fundamental de encontro com o Senhor da história”.

“A caridade não é uma via opcional, mas o critério do verdadeiro culto”, aponta.

A exortação apostólica assume críticas dentro e fora da Igreja a esta mensagem em defesa dos mais frágeis.

“Observar que o exercício da caridade é desprezado ou ridicularizado, como se fosse uma fixação somente de alguns e não o núcleo incandescente da missão eclesial, faz-me pensar que é preciso ler novamente o Evangelho, para não se correr o risco de o substituir pela mentalidade mundana”, adverte o pontífice.

Leão XIV sustenta que os pobres não são apenas destinatários de assistência, destacando a “necessidade de considerar as comunidades marginalizadas como sujeitos capazes de criar cultura própria”.

Existem muitas formas de pobreza: a daqueles que não têm meios de subsistência material, a pobreza de quem é marginalizado socialmente e não possui instrumentos para dar voz à sua dignidade e capacidades, a pobreza moral e espiritual, a pobreza cultural, aquela de quem se encontra em condições de fraqueza ou fragilidade seja pessoal seja social, a pobreza de quem não tem direitos, nem lugar, nem liberdade”.

O primeiro Papa da Ordem de Santo Agostinho, da qual foi responsável mundial, escreve que “numa Igreja que reconhece nos pobres o rosto de Cristo e nos bens o instrumento da caridade, o pensamento agostiniano permanece uma luz segura”.

“Hoje, a fidelidade aos ensinamentos de Agostinho exige não só o estudo de suas obras, mas a predisposição para viver com radicalidade o seu apelo à conversão que inclui necessariamente o serviço da caridade”, indica.

A ‘Dilexi Te’ está dividida em 121 pontos, com quase 60 citações de Francisco, entre as 129 notas do texto.

“Devemos sentir a urgência de convidar todos a entrar neste rio de luz e vida que provém do reconhecimento de Cristo no rosto dos necessitados e dos sofredores. O amor pelos pobres é um elemento essencial da história de Deus conosco e irrompe do próprio coração da Igreja como um apelo contínuo ao coração dos cristãos, tanto das suas comunidades, como de cada um individualmente”, apela Leão XIV.

Uma exortação apostólica é um documento formal do Papa dirigido principalmente aos católicos, sem se limitar a eles, cujo objetivo principal é orientar os destinatários sobre um tema específico – neste caso, “o amor para com os pobres” –, estimulando a reflexão e a ação.

Uma exortação apostólica é um documento formal do Papa dirigido principalmente aos católicos, cujo objetivo principal é orientar os destinatários sobre um tema específico – neste caso, “o amor para com os pobres” -, estimulando a reflexão e a ação.

Sem o peso oficial de uma encíclica, o documento papal mais solene, cada exortação apostólica é vista como um texto que expressa diretamente a visão do pontífice sobre o tema em análise.