Sementes de paz e esperança

MENSAGEM DE SUA SANTIDADE
PAPA LEÃO XIV
PARA O X DIA MUNDIAL DE ORAÇÃO
PELO CUIDADO DA CRIAÇÃO 2025

Queridos irmãos e irmãs!

O tema para o Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação deste ano, escolhido pelo nosso amado Papa Francisco, é “Sementes de Paz e Esperança”. No décimo aniversário da instituição deste Dia de oração, que coincidiu com a publicação da Encíclica Laudato si’, encontramo-nos em pleno Jubileu, “peregrinos de Esperança”. E é precisamente neste contexto que o tema adquire todo o seu significado.

Na sua pregação, Jesus usa com frequência a imagem da semente para falar do Reino de Deus e, na véspera da Paixão, aplica-a a Si mesmo, comparando-Se ao grão de trigo, que deve morrer para dar fruto (cf. Jo 12, 24). A semente entrega-se inteiramente à terra e aí, com a força impetuosa do seu dom, a vida germina, mesmo nos lugares mais inesperados, numa surpreendente capacidade de gerar um futuro. Pensemos, por exemplo, nas flores que crescem à beira da estrada: ninguém as plantou, mas elas crescem graças a sementes que foram parar ali quase por acaso e conseguem decorar o cinzento do asfalto e até mesmo penetrar na sua dura superfície.

Assim, em Cristo, somos sementes. Não só isso, mas “sementes de Paz e Esperança”. Como diz o profeta Isaías, o Espírito de Deus é capaz de transformar o deserto árido e ressequido num jardim, num lugar de repouso e serenidade: «Uma vez mais virá sobre nós o espírito do alto. Então o deserto se converterá em pomar, e o pomar será como uma floresta. Na terra, agora deserta, habitará o direito, e a justiça no pomar. A paz será obra da justiça, e o fruto da justiça será a tranquilidade e a segurança para sempre. O povo de Deus repousará numa mansão serena, em moradas seguras e em lugares tranquilos» (Is 32, 15-18).

Estas palavras proféticas que, de 1º de setembro a 4 de outubro, acompanharão a iniciativa ecuménica do “Tempo da Criação”, afirmam com força que, junto à oração, são necessárias vontades e ações concretas que tornem perceptível esta “carícia de Deus” sobre o mundo (cf. Carta enc. Laudato si’, 84). Com efeito, a justiça e o direito parecem remediar a inospitalidade do deserto. Trata-se de um anúncio extraordinariamente atual. Em várias partes do mundo, já é evidente que a nossa terra está a cair na ruína. Por todo o lado, a injustiça, a violação do direito internacional e dos direitos dos povos, a desigualdade e a ganância provocam o desflorestamento, a poluição, a perda de biodiversidade. Os fenómenos naturais extremos, causados pelas alterações climáticas provocadas pelo homem, estão a aumentar de intensidade e frequência (cf. Exort. ap. Laudate Deum, 5), sem ter em conta os efeitos, a médio e longo prazo, de devastação humana e ecológica provocada pelos conflitos armados.

Parece ainda haver uma falta de consciência de que a destruição da natureza não afeta todos da mesma forma: espezinhar a justiça e a paz significa atingir principalmente os mais pobres, os marginalizados, os excluídos. A este respeito, o sofrimento das comunidades indígenas é emblemático.

E não basta: a própria natureza torna-se, por vezes, um instrumento de troca, uma mercadoria a negociar para obter ganhos económicos ou políticos. Nestas dinâmicas, a criação transforma-se num campo de batalha pelo controlo dos recursos vitais, como testemunham as zonas agrícolas e as florestas que se tornaram perigosas por causa das minas, a política da “terra queimada” [1] , os conflitos que eclodem em torno das fontes de água, a distribuição desigual das matérias-primas, penalizando as populações mais fracas e minando a própria estabilidade social.

Estas várias feridas devem-se ao pecado. Não era certamente isso que Deus tinha em mente quando confiou a Terra ao homem criado à sua imagem (cf. Gn 1, 24-29). A Bíblia não promove «o domínio despótico do ser humano sobre a criação» (Carta enc. Laudato si’, 200). Pelo contrário, «é importante ler os textos bíblicos no seu contexto, com uma justa hermenêutica, e lembrar que nos convidam a “cultivar e guardar” o jardim do mundo (cf. Gn 2, 15). Enquanto “cultivar” quer dizer lavrar ou trabalhar um terreno, “guardar” significa proteger, cuidar, preservar, velar. Isto implica uma relação de reciprocidade responsável entre o ser humano e a natureza» (ibid., 67).

A justiça ambiental - implicitamente anunciada pelos profetas - já não pode ser considerada um conceito abstrato ou um objetivo distante. Ela representa uma necessidade urgente que ultrapassa a mera proteção do ambiente. Trata-se verdadeiramente de uma questão de justiça social, económica e antropológica. Para os que creem em Deus, além disso, é uma exigência teológica, que para os cristãos tem o rosto de Jesus Cristo, em quem tudo foi criado e redimido. Num mundo onde os mais frágeis são os primeiros a sofrer os efeitos devastadores das alterações climáticas, do desflorestamento e da poluição, cuidar da criação torna-se uma questão de fé e de humanidade.

Chegou verdadeiramente o tempo de dar seguimento às palavras com obras concretas. «Viver a vocação de guardiões da obra de Deus não é algo de opcional nem um aspecto secundário da experiência cristã» (ibid., 217). Trabalhando com dedicação e ternura, muitas sementes de justiça podem germinar, contribuindo para a paz e a esperança. Por vezes, são precisos anos para que a árvore dê os primeiros frutos, anos que envolvem todo um ecossistema na continuidade, na fidelidade, na colaboração e no amor, sobretudo se este amor se tornar um espelho do Amor oblativo de Deus.

Entre as iniciativas da Igreja, que são como sementes lançadas neste campo, gostaria de recordar o projeto “Borgo Laudato si’”, que o Papa Francisco nos deixou como herança em Castel Gandolfo, uma semente que pode dar frutos de justiça e paz. Trata-se de um projeto de educação para a ecologia integral que visa ser um exemplo de como se pode viver, trabalhar e fazer comunidade aplicando os princípios da Encíclica Laudato si’.

Peço ao Todo-Poderoso que nos envie em abundância o seu «espírito do alto» (Is 32, 15), para que estas sementes e outras semelhantes possam dar frutos abundantes de paz e esperança.

A Encíclica Laudato si acompanha a Igreja Católica e muitas pessoas de boa vontade desde há dez anos: que ela continue a inspirar-nos, e que a ecologia integral seja cada vez mais escolhida e partilhada como caminho a seguir. Assim se multiplicarão as sementes de esperança, a serem “guardadas e cultivadas” com a graça da nossa grande e indefectível Esperança, Cristo Ressuscitado. Em seu nome, envio a todos vós a minha bênção.

Vaticano, 30 de junho de 2025, Memória dos Santos Protomártires da Igreja Romana.

LEÃO PP. XIV             

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[1] Cf. Pontifício Conselho Justiça e Paz, Terra e Cibo, LEV 2015, 51-53.

Jesuítas: Novo projeto musical quer ajudar a promover a leitura e «combater a crise de linguagem»

O grupo ‘Zipoli’, liderado pelo padre Miguel Pedro Melo, jesuíta, e com 25 músicos, lançou a primeira música do álbum ‘Livro Arbítrio’, que quer “ajudar” a promover a leitura e “combater a crise de linguagem” nas gerações mais novas.

“Este projeto foi nascendo de conversas entre jesuítas que geraram a consciência de duas coisas que vão acontecendo na nossa vida pastoral: por um lado, a noção de que há imensas pessoas ligadas à Província Portuguesa da Companhia de Jesus que têm muita ligação às artes e à música em particular”, explica o padre Miguel Pedro Melo, num comunicado enviado à Agência ECCLESIA pela Companhia de Jesus (Jesuítas) em Portugal.

“E ainda a perceção que temos, através do acompanhamento que fazemos a tantos jovens, de que muitos têm uma profunda falta de linguagem. Têm dificuldade em falar da sua interioridade”, acrescentou o sacerdote compositor e intérprete do álbum de música.

Neste sentido, o comunicado salienta que “há gestos e mundos que podem desaparecer” quando não têm palavras partilhadas para lhes aceder, e lembra a carta do Papa Francisco, sobre a importância da leitura na educação humana, publicada em agosto de 2024, que foi “uma verdadeira confirmação” deste projeto musical.

“A literatura ajuda-nos a dizer a nossa presença no mundo, a “digeri-la” e a assimilá-la, captando o que vai para além da superfície da experiência”, escreveu o Papa argentino, na carta ‘O Papel da Leitura na Educação’.

Foto: Capa «Ler e ser lido»

‘Livro Arbítrio’ é um álbum “que quer ajudar a ler e a ser lido”, desafia a redescobrir a palavra e a leitura “num tempo de hiperestimulação que parece perdê-las”.

“Nascido da consciência de que vivemos uma crise de linguagem partilhada para falar bem da vida e da interioridade humana, o projeto une música e literatura para nos aproximar dos chamados clássicos da literatura”, acrescentam os Jesuítas.

‘Ler é ser lido’, é o tema do primeiro single deste projeto musical, que o grupo Zipoli lançou no dia 15 de agosto, quando a Igreja Católica celebrou a Solenidade da Assunção de Santa Maria.

‘Livro Arbítrio’ é composto por 12 canções que “não são religiosas”, mas que têm uma “motivação pastoral e querem ajudar a elevar”, no início do próximo mês de setembro “será apresentado o álbum na totalidade”, nas plataformas digitais de som, e numa apresentação ao vivo, “em data e local a anunciar”, referem os Jesuítas.

“Propõem um percurso total e um caminho individual: enquanto percurso total, as músicas integram capítulos com uma estrutura semelhante à dos Exercícios Espirituais de Santo Inácio de Loiola. Trata-se de um percurso espiritual católico, no qual se propõe uma série de exercícios meditativos ou contemplativos que pretendem criar na disposição daquele que se exercita a experiência de ser parte integrante de uma narrativa”, desenvolve o comunicado.

O grupo ‘Zipoli’ é composto por 25 músicos ligados à Companhia de Jesus, que é liderado pelo padre jesuíta Miguel Pedro Melo, o sacerdote cantor e compositor do novo álbum vive em Roma, onde colabora com a Rede Mundial de Oração do Papa (RMOP).

O nome deste novo projeto musical é inspirado em Domenico Zipoli, compositor italiano do século XVII que foi contratado pelos jesuítas para ser o organista da igreja do Gesù, em Roma, e que entrou para a Companhia de Jesus.

Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação

Em sua mensagem para o Dia, o Papa Francisco ressalta importância da interligação entre a Criação e a Redenção, já apontada pelo Papa Bento XVI. A compreensão da relação intrínseca entre esses dois aspectos é crucial, pois o Redentor é, ao mesmo tempo, o Criador.

Orani João, Cardeal Tempesta, O. Cist. - Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ

No dia 1º de setembro, celebramos o Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação. Esse dia não é apenas um momento de comemoração, mas um convite profundo para refletirmos sobre nossa sagrada responsabilidade em relação a tudo aquilo que o Divino Criador nos confiou. À medida em que essa reflexão nos conduz à contemplação da Criação, somos chamados a enxergar não somente a beleza e a complexidade do mundo, mas também a nossa parte na teia da vida. Esse dia abre o “tempo da criação” que vai até o dia 4 de outubro, Dia de São Francisco de Assis. É um tempo ecumênico. O Papa Francisco enviou sua mensagem para esse Dia de Oração.

Rio de Janeiro

“Jorre a equidade como uma fonte, e a justiça como torrente que não seca” (5,24). É com essas palavras do profeta Amós que o Papa Francisco inicia a mensagem para o Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação, de 2023. A justiça e a paz são temas centrais neste ano, inspirados pelas palavras do profeta Amós: "Corra a justiça como um rio, e a retidão, como um riacho perene". O Papa Francisco destaca que buscar a justiça é essencial para nós, que fomos criados à imagem e semelhança de Deus. Essa justiça não se restringe apenas às leis, mas engloba a maneira como tratamos a nós mesmos, aos outros e à natureza.

Em sua mensagem, o Papa Francisco ressalta, ainda, a importância da interligação entre a Criação e a Redenção, já apontada pelo Papa Bento XVI. A compreensão da relação intrínseca entre esses dois aspectos é crucial, pois o Redentor é, ao mesmo tempo, o Criador. A nossa capacidade de anunciar Deus em toda a sua grandeza como Criador e Redentor molda o significado da Redenção em nossas vidas.

O conceito de criação vai além do ato inicial de Deus trazer o mundo à existência a partir do nada. Ele abrange o contínuo trabalho misterioso de Deus, que ainda se desenrola, e que é refletido na majestade e na beleza do universo que nos cerca. Esse processo criativo, em constante evolução, é um presente generoso e inesgotável que experimentamos diariamente.

Rio de Janeiro

Nos momentos de liturgia e nas nossas orações pessoais, somos convidados a entrar na “grande catedral da criação”. Essa expressão evoca a ideia de que o mundo natural é, por si só, um lugar sagrado, um espaço onde podemos sentir a presença do Grande Artista. Ao refletirmos sobre a maravilha da criação, somos convidados a contemplar o mistério do amor de Deus manifestado em Sua escolha amorosa de criar o mundo.

Nesse contexto, a mensagem enfatiza que nossa conexão com Deus não se limita ao plano espiritual, mas se estende à própria natureza. A Criação é uma manifestação do amor e da presença de Deus, e nossa missão inclui o reconhecimento e a preservação dessa obra divina. Compreender essa profunda união entre Criação e Redenção nos ajuda a valorizar a beleza e a dignidade de todo o universo e a reconhecer a presença constante de Deus em nossas vidas.

Rio de Janeiro

Deste modo, nossa missão é de cultivar um cuidado reverente pela criação, de modo que as gerações presentes e futuras possam partilhar dos frutos dessa dádiva divina. Na medida em que lutamos por um ambiente equilibrado e saudável, também expressamos nosso amor pelo próximo e pelo Deus que nos presenteou com essa morada terrestre.

Muitas vezes, erroneamente, atribuímos a Deus a responsabilidade pelas catástrofes que assolam o mundo. No entanto, precisamos reconhecer que tais eventos são, na verdade, em grande parte, resultados das ações humanas. É imperativo que nos empenhemos em zelar pela nossa “casa comum”, ou seja, pelo nosso planeta Terra, um local onde todos têm o direito de viver com dignidade e desfrutar de seus direitos fundamentais, como moradia, alimentação, água e trabalho.

A Encíclica “Laudato Si'”, escrita pelo Papa Francisco, ressalta a conexão intrínseca entre nossa fé e o cuidado da criação. Ela nos recorda que somos chamados a ser guardiões da natureza, a cultivar uma relação respeitosa e responsável com o mundo que nos cerca. Aguardamos com carinho a segunda parte desse tema que o Papa está escrevendo. Para o cristão, a natureza é vista como um dom precioso que Deus nos confiou, e somos chamados a administrar esse dom com sabedoria e gratidão.

Devemos ser diligentes na conservação dos recursos preciosos, como a água e a energia, e evitar o desperdício. Esses bens valiosos devem ser acessíveis a todos os habitantes do mundo. Um dos principais fatores do aquecimento global é o desmatamento, o que exige uma preservação mais atenta de nossas florestas, pois são elas que sustentam a vida, influenciam o clima e purificam o ar.

Cristo Redentor

O cuidado com nosso lar comum deve ser um compromisso universal, já que nossa casa é compartilhada por todos e Deus a criou para abrigar a Humanidade. Ao cuidarmos do nosso meio ambiente, estamos, na verdade, cuidando da criação de Deus. Nossas ações diárias, como descartar lixo impróprio ou contribuir para a poluição, afetam diretamente aquilo que Deus nos confiou. Os sinais dos danos já estão visíveis: rios poluídos e secas generalizadas, todos frutos da ação humana desenfreada.

O Papa Francisco também ressalta a importância de cuidar de nosso próprio bem-estar físico e mental. Assim como preservamos o ambiente, devemos cuidar de nossos corpos, evitando comportamentos prejudiciais e promovendo um estilo de vida saudável. Antes de cuidar do planeta, precisamos cuidar de nós mesmos.

Neste Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação, abrindo o tempo da criação, encorajados pela mensagem do Papa Francisco, é oportuno fazer uma avaliação de como estamos nos cuidando e como estamos preservando nosso ambiente. Devemos lembrar que aquilo que não desejamos para nós mesmos não devemos desejar para os outros. Ao construirmos um reino de justiça, paz e respeito mútuo, honramos a criação e preparamos o caminho para um futuro melhor para todos.

Celebração do Padroeiro da Diocese 2025

No próximo dia 28 de Agosto, celebramos a festa de Santo Agostinho, Padroeiro igualmente principal da nossa Diocese, juntamente com Nossa Senhora de Fátima. Vamos assinalar esta data com a celebração da Eucaristia, na igreja que lhe está dedicada na cidade de Leiria: Igreja de Santo Agostinho, às 21h00, presidida pelo nosso Bispo D. José Ornelas.

Convidam-se a participar todas as pessoas que desejem honrar o nosso Padroeiro e, de modo especial, os mais empenhados na vida da nossa Diocese: sacerdotes, religiosos, religiosas, leigos e leigas que colaboram na ação apostólica, particularmente os ligados a serviços e conselhos diocesanos, a movimentos e associações.

Dois padroeiros

Santo Agostinho foi adoptado como padroeiro, em 1918, aquando da restauração da Diocese. Esta escolha radicava, certamente, no facto de Leiria ter sido, do século XII ao ano de 1545, uma vigararia do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, da Ordem de Santo Agostinho. Correspondendo ao pedido do bispo da Diocese, motivado pelo significado das aparições de Fátima, o Papa João XXIII, em documento de 13 de Dezembro de 1962, deu à Igreja diocesana de Leiria dois padroeiros principais: manteve o anterior, Santo Agostinho, e acrescentou Nossa Senhora de Fátima. Em 1984, a Diocese passou a chamar-se de Leiria-Fátima.

 Nota biográfica

Agostinho nasceu a 13 de novembro de 354, em Tagaste, actual Sukh-Ahras, na Argélia, norte de África. Os pais, Patrício e Mónica, intuindo o génio do filho, não se pouparam a esforços na sua educação. Depois dos primeiros estudos na cidade natal, enviaram-no para Madaura, centro intelectual da região, e de lá para Cartago - cidade que o deslumbrou - onde estudou retórica. Aqui descobriu a filosofia, aderiu à seita dos Maniqueus e apaixonou-se por uma jovem, com quem teve um filho de nome Adeodato.

Em busca de maior seriedade e fama, mas também com uma imensa inquietação na alma, partiu para Roma. Não contente com o ambiente ali encontrado e desiludido com os maniqueus, candidatou-se a professor de retórica em Milão. Nesta cidade recebeu a visita de sua mãe, que o ajudou a clarificar ideias.  Na sua procura incansável e por sugestão do bispo Santo Ambrósio, pôs-se a ler a Bíblia. O encontro com os textos sagrados fez mudar a sua vida. Tinha 32 anos.

Na Vigília Pascal, de 24 para 25 de abril do ano 387, foi batizado juntamente com o filho e o seu amigo Alípio. De regresso a África, vendeu o que tinha e deu-o aos pobres, ficando apenas com uma casa que transformou em mosteiro. Nascia assim a regra de vida para os servos de Deus. Já sacerdote e bispo em Hipona, hoje Annaba, na atual Argélia, manter-se-ia fiel a esse estilo de vida.

Até à sua morte, a 28 de Agosto do ano 430, entre as múltiplas ocupações de pastor, escreveu ou ditou mais de uma centena de livros. De Santo Agostinho, pelo seu itinerário espiritual e intelectual, disse João Paulo II, todos na Igreja e no Ocidente nos sentimos discípulos e filhos.

Pe. Armindo Janeiro, vigário geral

Papa: “A Eucaristia celebra-se não só no altar, mas também na vida quotidiana”

Leão XIV iniciou, nesta quarta-feira, 06/08, um novo ciclo de catequeses, dedicado à reflexão sobre o mistério pascal e a importância espiritual de se preparar para o encontro com Cristo. "O verdadeiro amor – recorda-nos o Evangelho – é dado antes mesmo de ser correspondido. É um dom antecipado. Não se baseia no que recebe, mas sim no que deseja oferecer.", afirmou.

“Irmãos e irmãs, bom dia!”

Com essas palavras proferidas em português, o Papa iniciou a Audiência Geral desta quarta-feira, 6 de agosto, realizada na Praça São Pedro. Leão XIV deu continuidade às reflexões sobre o itinerário jubilar e propôs uma nova etapa de meditações sobre a paixão, morte e ressurreição de Jesus. O Pontífice sugeriu aos fiéis uma leitura espiritual do verbo “preparar”, a partir de um trecho do Evangelho de Marcos.

“Continuamos a nossa caminhada jubilar para descobrir o rosto de Cristo, em quem a nossa esperança toma forma e substância”, afirmou o Papa. E, partindo do episódio evangélico em que os discípulos perguntam a Jesus onde desejava celebrar a Páscoa, Leão XIV destacou a importância dos pequenos detalhes: “No primeiro dia dos Ázimos, quando se imolava a Páscoa, disseram-lhe os seus discípulos: ‘Onde queres que vamos fazer os preparativos para comeres a Páscoa?’” (Mc 14,12).

Segundo o Papa, “a resposta de Jesus parece quase enigmática: ‘Ide à cidade, e virá ao vosso encontro um homem carregando uma bilha de água’ (v. 13)”. E prosseguiu explicando que os elementos aparentemente banais da cena – como o homem com o cântaro ou a sala no andar superior – revelam uma realidade mais profunda: “Com efeito, é exatamente assim. Neste episódio, o Evangelho revela-nos que o amor não é fruto do acaso, mas de uma escolha consciente. Não é uma reação simples, mas uma decisão que exige preparação.”

Deus sempre nos precede

O Papa ressaltou que a imagem da “sala já pronta no andar superior” mostra como Deus se antecipa às nossas necessidades: “Antes mesmo de percebermos que precisamos de ser acolhidos, o Senhor já preparou um espaço para nós, onde nos podemos reconhecer e sentir seus amigos.” Esse espaço, segundo o Santo Padre, é o nosso próprio coração, muitas vezes vazio, mas chamado a ser preenchido pela presença divina:

“Jesus não enfrenta a sua paixão pelo destino, mas pela fidelidade a um caminho que abraçou e percorreu com liberdade e cuidado. É isso que nos consola: saber que o dom da sua vida vem de uma intenção profunda, não de um impulso imediato.”

Neste caminho, destacou o Pontífice, “a graça não elimina a nossa liberdade, mas desperta-a. O dom de Deus não anula a nossa responsabilidade, mas torna-a fecunda.”

Celebrar a Eucaristia na vida quotidiana

Leão XIV advertiu para a tentação de confundir os preparativos com ativismo ou expectativas vazias. Preparar-se para celebrar esta ação de graças não significa fazer mais, mas deixar espaço. Significa remover o que é pesado, baixar as nossas exigências, deixar de cultivar expectativas irrealistas:

“Ainda hoje, como então, há uma ceia a preparar. Não se trata apenas da liturgia, mas da nossa disponibilidade para participar num gesto que nos transcende. A Eucaristia celebra-se não só no altar, mas também na vida quotidiana, onde é possível experimentar tudo como oferta e ação de graças.”

Para o Papa, a cena do Cenáculo revela o verdadeiro amor de Cristo, que prepara um banquete mesmo diante da traição e da negação dos discípulos: “Enquanto eles ainda não compreendiam, enquanto um estava prestes a traí-lo e outro a negá-lo, Ele preparava uma ceia de comunhão para todos.”

Preparar a Páscoa da vida

O Papa também fez um convite concreto aos fiéis e peregrinos: “Também nós somos convidados a ‘preparar a Páscoa do Senhor’. Não só a Páscoa litúrgica, mas também a Páscoa das nossas vidas.” E sugeriu uma reflexão:

“Que espaços da minha vida preciso de reorganizar para estar pronto para acolher o Senhor? O que significa ‘preparar’ para mim hoje? Talvez signifique renunciar a uma exigência, deixar de esperar que o outro mude, dar o primeiro passo. Talvez signifique ouvir mais, agir menos ou aprender a confiar no que já foi predisposto.”

Mistério de um amor infinito

Ao concluir a catequese, Leão XIV sublinhou que, se aceitamos o convite para preparar o lugar da comunhão com Deus e uns com os outros, iremos descobrir que estamos rodeados de sinais, encontros e palavras que nos indicam aquela sala espaçosa e já pronta, onde o mistério de um amor infinito, que nos sustenta e sempre nos precede, é incessantemente celebrado. E completou:

“Que o Senhor nos conceda ser humildes preparadores da sua presença. E, nesta disponibilidade diária, cresça em nós aquela confiança serena que nos permite enfrentar tudo de coração aberto. Pois, onde o amor estiver pronto, a vida pode verdadeiramente florescer.”

Jubileu: Departamento Nacional da Pastoral Juvenil elogia «alegria contagiante de uma geração que procura sentido»

O Departamento Nacional da Pastoral Juvenil (DNPJ) saudou hoje a “alegria contagiante” dos peregrinos que viveram o Jubileu dos Jovens, em Roma, entre 28 de julho e 3 de agosto.

“Foram dias intensos de encontro, partilha e descoberta, marcados pela alegria contagiante de uma geração que procura sentido, relação e compromisso”, refere uma nota do organismo católico, enviada à Agência ECCLESIA.

Portugal esteve representado por mais de 11 mil jovens, constituindo uma das maiores delegações internacionais presentes, entre os mais de 146 países registados.

“Ao longo da semana, os jovens rezaram, viveram a reconciliação, dialogaram com a cidade, participaram em atividades culturais e artísticas, encontraram jovens de todo o mundo e testemunharam o seu compromisso cristão com criatividade e alegria”, assinala o comunicado.

O DNPJ, ligado à Conferência Episcopal Portuguesa, destaca que Leão XIV esteve “presente com palavras de proximidade e escuta, respondendo às inquietações dos jovens com verdade e esperança”.

“’Não estamos doentes, estamos vivos’, afirmou lembrando o Papa Francisco no JMJ em Lisboa, desafiando cada um a reconhecer, na própria sede de infinito, o sinal de um coração feito para o bem e para o dom”, acrescenta a nota.


A esplanada de Tor Vergata, nos arredores de Roma, acolheu mais de um milhão de pessoas, segundo dados do Vaticano, entre sábado e domingo, para a vigília de oração e a Missa conclusiva, presididas pelo Papa.

“O Jubileu dos Jovens 2025 deixa uma marca profunda em todos os que participaram: não como um evento isolado, um encontro, mas um encontro com Cristo Vivo como ponto de partida para um caminho renovado”, refere o DNPJ-

Ao regressarem às suas comunidades, os jovens levam o apelo do Papa a serem presença ativa, amizade verdadeira e esperança viva onde vivem, estudam, trabalham e habitam. Roma foi o lugar do encontro — agora, a missão continua.”

O Departamento Nacional da Pastoral Juvenil expressa o seu “profundo agradecimento” aos que permitiram a participação dos jovens portugueses, desde os membros do clero a familiares, dirigindo-se a “todos os que, com afeto, perseverança, cuidado e fé, tornaram possível esta peregrinação”.

“O seu testemunho discreto, mas essencial, continua a ser semente de futuro e sinal vivo de uma Igreja que confia nos jovens e caminha com eles”, pode ler-se

Os jovens portugueses vão encontrar-se no ‘Encontro Nacional de Jovens – Rejoice’, de 24 a 26 de julho de 2026, em Lamego.

Jubileu dos jovens: ao 4º dia, fé rima com gratidão

O calor aperta, as ruas fervilham de gente e os passos sucedem-se em direcção a basílicas, praças e fontes — mas não há cansaço que vença a alegria. Desde domingo, Roma acolhe 389 jovens da Diocese de Leiria-Fátima, que participam no Jubileu dos Jovens, evento promovido pelo Vaticano e que decorre até 3 de agosto. São dias intensos, de oração, descoberta e encontro, que muitos descrevem como uma continuação natural da Jornada Mundial da Juventude, vivida há um ano em Lisboa.

“Estamos em Roma, onde chegámos no domingo, integrando um grupo de 389 peregrinos, entre os quais se encontra o senhor bispo. A viagem foi longa e exigente, mas chegámos com alegria. Esta peregrinação está a ser vivida com grande intensidade e gratidão.” As palavras são do padre André Batista, diretor do Serviço Diocesano da Pastoral Juvenil (SDPJ), que acompanha este grupo numeroso de jovens vindos de várias paróquias da Diocese. No seu testemunho, destaca-se o tom de entusiasmo, mas também de profunda espiritualidade, que tem marcado os dias desde a partida de Leiria, no passado dia 25 de julho.

A presença em Roma não tem sido apenas marcada pelos grandes momentos do programa oficial do Jubileu. Houve também tempo para se sair da cidade e conhecer um lugar muito especial para todos os que procuram viver a fé com simplicidade, radicalidade e alegria: Assis.

“Aproveitando a estadia em Roma, realizámos também uma visita à cidade de Assis, situada nas proximidades”, explica Gabriela Francisco, da equipa do SDPJ. “Tivemos a oportunidade de conhecer mais de perto o testemunho de São Francisco de Assis e de Carlo Acutis, cujos exemplos se revelam inspiradores, especialmente para os jovens. A jornada foi muito apreciada por todos e constituiu uma oportunidade de enriquecimento pessoal e espiritual.”

Francisco e Carlo: dois nomes que dispensam apresentações e que, apesar da distância temporal entre ambos, continuam a tocar os corações dos mais novos, desafiando-os a viver com coerência, generosidade e coragem. Visitar os seus lugares de vida e de testemunho é, para muitos, um momento de viragem.

Também D. José Ornelas, bispo da Diocese de Leiria-Fátima, faz parte desta peregrinação. Presença próxima e atenta, partilha com emoção o ambiente que se vive em Roma. “Nós, portugueses, trazemos ainda viva a memória da Jornada Mundial da Juventude”, afirma. “Em Roma, respira-se um ambiente semelhante: a cidade está repleta de jovens, vindos de diferentes partes do mundo. Por toda a parte se ouvem grupos a cantar em várias línguas, prontos para comunicar e partilhar a fé.”

Mais do que uma experiência turística ou um programa religioso, o Jubileu dos Jovens tem sido, até ao momento, um testemunho vivo de comunhão, diversidade e beleza eclesial. “Este ambiente é profundamente belo”, sublinha o bispo diocesano. “Desejamos que a nossa presença, enquanto Diocese de Leiria-Fátima, juntamente com tantos outros peregrinos portugueses, contribua para edificar esta experiência de Igreja viva em Roma. Que esta peregrinação seja também uma fonte de inspiração para a construção de um mundo em paz, no qual os jovens acreditem e se envolvam activamente na transformação da realidade, tornando a Igreja mais viva, mais autêntica e mais fraterna.”

Recorde-se que este forte envolvimento da juventude portuguesa no Jubileu dos Jovens nasce de um apelo muito claro deixado pelo Papa Francisco no encerramento da JMJ Lisboa 2023. No Parque Tejo, o Papa lançou um desafio aos jovens do mundo inteiro: reencontrarem-se em 2025, em Roma, para um novo tempo de fé, reconciliação e esperança. Foi essa chamada que muitos escutaram e à qual quiseram responder.

O lema do Jubileu é simples, mas profundamente marcante: No caminho eu confio em ti. E é isso mesmo que estes jovens, vindos de Leiria-Fátima, estão a viver. Caminham muito, partilham ainda mais. Rezam, celebram, cantam. Encontram Deus em cada igreja, em cada rosto, em cada silêncio e em cada abraço.

Estes dias em Roma são um tempo de graça. E, quem os vive, sabe que há memórias que não se esquecem — e caminhos que, uma vez começados, não se voltam a fazer da mesma maneira.

ANGOLA: Missionário português denuncia “escândalo da fome” no Sumbe, província do Cuanza Sul

A cerca de 400 km a sul de Luanda, fica a cordilheira montanhosa do Gungo. Nessa zona de difícil acesso, vive uma população muito empobrecida que está no centro das preocupações de missionários portugueses da Diocese de Leiria-Fátima, que tem, desde 2006, um protocolo de geminação com a Diocese do Sumbe. O Padre Joaquim Domingos Luís, que acompanha esta missão em Angola, denuncia, à Fundação AIS, “o escândalo da fome” que afecta este “povo esquecido”… Uma denúncia que é reforçada pela nota pastoral da conferência episcopal, divulgada recentemente, e em que os bispos alertam para a “indigência” em que vivem os sectores mais frágeis da sociedade angolana.

“Os acessos são muito difíceis, com as picadas, como nós chamamos, e na altura das chuvas é mesmo uma aventura conseguir chegar à missão na Donga, na montanha.”As palavras são do Padre Joaquim Domingos Luís, responsável pelo Serviço de Animação Missionária da Diocese de Leiria-Fátima, que tem a responsabilidade de acompanhar o que se passa nesta missão na zona de montanha do Gungo, na província do Cuanza Sul, desde que foi assinado um protocolo de geminação com a Diocese angolana do Sumbe.

Uma geminação que foi celebrada em 2006 e que se tem mantido activa desde então, sendo mesmo um bom exemplo do intercâmbio missionário, com a presença, em terras de Angola, de um sacerdote e de um grupo de leigos missionários, o Ondjoyetu, que significa “a nossa casa” na língua Umbundu.

O Padre Joaquim Domingos Luís, da Congregação do Verbo Divino, esteve por lá em 2018 e guarda ainda uma forte memória do local, das pessoas e das dificuldades de quem, nesta zona de Angola, procura levar esperança às populações locais.  “Nós trabalhamos sobretudo nas montanhas do Gungo, o povo vive da agricultura e do pequeno comércio”, explica o sacerdote à Fundação AIS. A dificuldade no acesso a esta região montanhosa ajudará a perceber a situação em que se encontra este “povo esquecido”, como diz o sacerdote português. E a questão da fome está sempre presente.

A segurança alimentar não existe, pois basta haver mais chuva ou falta de chuva para que as colheitas diminuem e os ‘stocks’ de comida baixem e os preços aumentem vertiginosamente. De 2018 para cá – explica – os preços dos bens essenciais triplicaram, como é o caso do milho, do arroz, da mandioca e do amendoim.”

Padre Joaquim Domingos Luís

MUITAS INICIATIVAS DE SOLIDARIEDADE

Ser missionário nesta região significa partilhar os problemas, anseios e dificuldades das populações. É isso que que faz a equipa da diocese de Leiria-Fátima. Estão lá para ajudar, para serem sinal de esperança, mas também para dizerem ao mundo que naquela região de Angola – como infelizmente em muitas outras áreas do país – as pessoas vivem com extrema dificuldade e isso não deve ser ignorado.

O Padre Joaquim Domingos Luís diz mesmo que “para o povo simples, que não tem salário e vive de uma agricultura de subsistência, é mesmo muito difícil” a sobrevivência do dia-a-dia. E destaca, também por isso, a importância de diversas iniciativas de solidariedade, que incluem a Igreja e que se têm vindo a alargar à sociedade civil.

“A mortalidade infantil é elevada, apesar nos últimos anos ter diminuído graças a um projecto de saúde materno-infantil levado a cabo por uma ONG portuguesa que se chama ‘Saúde em Português’, orientado pela doutora Inês Figueiredo e com a colaboração do grupo missionário Ondjoyetu. Há também alguns factores culturais que impedem uma maior produtividade”, explica o padre de Leiria-Fátima.

AS MULHERES SÃO MAIS SACRIFICADAS

O Gungo é uma região montanhosa, fica a cerca de 400 km a sul de Luanda, a capital de Angola. Por ali, como diz o Padre Joaquim Domingos Luís, as mulheres são quem mais trabalha, quem mais se sacrifica, e a missão da Igreja Católica tem procurado ajudar, nomeadamente através de uma cantina, que foi, entretanto, criada para que os camponeses possam vender os seus produtos sem serem explorados.

“Habitualmente, quem trabalha nos campos são as mulheres. Os homens pouco ajudam e são sempre elas as mais sacrificadas. A missão procura ajudar no que pode, sobretudo no escoamento dos produtos para serem vendidos a melhor preço na cidade, pois os comerciantes vêm às aldeias e exploram os camponeses, comprando os seus produtos a baixo preço, por estes não terem meios de transporte para os escoar para a cidade. Ao mesmo tempo, a missão possui uma cantina que vende bens de primeira necessidade a um preço acessível para ajudar os camponeses a não serem explorados por comerciantes sem escrúpulos”, descreve o missionário.

“QUEM GOVERNA ESTÁ LONGE…”

Na mensagem enviada para a Fundação AIS, o Padre Joaquim Domingos Luís fala de uma região remota, onde vive um povo esquecido, que os políticos só visitam em época de eleições. E dá o exemplo do que pode ser feito para minimizar o sofrimento de quem vive do trabalho dos campos e mal consegue alimentar os seus filhos.

“Como são zonas remotas, os políticos só chegam lá por ocasião das eleições e às vezes nem isso. É um povo esquecido e que vive com muitas dificuldades”, diz, acrescentando:

A nível de segurança alimentar, Angola poderia produzir o suficiente para alimentar a sua população e vender para outros países. A organização de pequenas cooperativas, o apoio às mulheres para a agricultura e comércio, a formação agrícola poderia ajudar a evitar situações de escassez alimentar e de especulação nos preços. O problema é que quem governa está longe, na cidade, e ignora o sofrimento dos que vivem isolados”.

Padre Joaquim Domingos Luís

PAÍS RICO, POVO POBRE…

Desde Portugal, o Padre Joaquim Domingos Luís mantém-se em contacto constante com as equipa que estão em Angola e, como homem de fé, espera sempre que as coisas melhorem e que se ultrapasse o que chama de “escândalo da fome”, até por se estar a falar de Angola, que é um país rico em recursos naturais, nomeadamente petróleo e diamantes, mas onde vive uma população muito empobrecida.

Estudos apontam para que cerca de 17 milhões de angolanos possam viver actualmente em situação de pobreza neste país africano de língua oficial portuguesa, o que representa 49,8% da população. Uma percentagem que tem vindo a crescer de ano para ano e que faz aumentar a incompreensão de quem olha para o potencial do país e vê a miséria de quem vive por lá.

“Esperemos que a situação melhore rapidamente para que este escândalo da fome, num país tão rico como Angola, acabe o mais rapidamente possível com a ajuda de políticas de apoio aos camponeses e pequenos comerciantes”, conclui o Padre Joaquim Domingos Luís, na mensagem enviada para a Fundação AIS em Lisboa.

BISPOS DENUNCIAM “ANGÚSTIA” DAS POPULAÇÕES

Os alertas do missionário português acabaram por ser sublinhados numa reflexão pastoral publicada no passado dia 17 de Julho pela Conferência Episcopal de Angola e São Tomé. No documento, enviado para a Fundação AIS, os bispos angolanos traçam também um retrato preocupante da crise social no país e falam na “visível angústia” das populações que não conseguem “suportar a carestia de vida, nos últimos tempos agravada com o aumento generalizado dos preços”.

Este aumento funcionou como o “principal gatilho”, dizem os prelados, para a “degradação social dos tecidos mais frágeis da sociedade que antes viviam com parcos meios, vendo-se agora na condição de indigência”, dando “poucas alternativas de vida com dignidade a que se tem direito como pessoas”. Os Bispos alertam ainda para o facto de esta realidade poder resultar na “inevitável indignação popular” que “pode ameaçar a paz social”, e criticam mesmo o “uso desproporcional da força policial, quando está em causa o legítimo direito de indignação popular”.

A confirmar as previsões de indignação popular e de convulsão social, a greve dos taxistas decretada em resposta ao recente aumento do preço dos combustíveis, degenerou em actos de vandalismo, saques de lojas e bancos em Luanda que tiveram como resposta a colocação de um forte dispositivo militar nas ruas. Só na segunda-feira, dia 28, morreram quatro pessoas e mais de 500 foram detidas.

OUTRAS DENUNCIAS DE FOME

As palavras dos Bispos de Angola e também do Padre Joaquim Domingos Luís, vêm na linha também da denúncia, em Novembro do ano passado, da Irmã Maria do Céu Costa, franciscana missionária da Mãe do Divino Pastor. De passagem por Portugal, a religiosa descreveu também à Fundação AIS, uma situação de profunda crise em Angola. Referindo-se especialmente à zona de Luanda, onde está em missão há vários anos, a religiosa referiu que “há muita fome”, e é mesmo comum ver pessoas a vasculhar comida nos contentores do lixo, tal como é normal encontrar crianças fora do sistema de ensino, muito analfabetismo e “muitos suicídios”.

*Notícia da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre

D. José Ornelas fala em «sementes» da JMJ Lisboa 2023

Cidade do Vaticano, 30 jul 2025 (Ecclesia) – O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) considera que a presença de mais de 11 mil jovens portugueses no Jubileu, em Roma, é “um sopro de esperança” e que a juventude “está atenta” ao que se passa no mundo.

“É um sopro de esperança porque este é o Jubileu da Esperança e isso significa que a esperança não morreu nos jovens e por mais difíceis que os tempos sejam, eles são o caminho da esperança”, sublinhou D. José Ornelas à Agência ECCLESIA.

O Jubileu dos Jovens conta com 11 527 participantes portugueses, a maior delegação num evento do género, no estrangeiro; Lisboa acolheu a Jornada Mundial da Juventude em agosto de 2023.

Esta quarta-feira é vivida como o “dia dos portugueses”: além das duas Missas celebradas esta manhã em São Paulo fora de Muros, os participantes portugueses são convidados a conhecer, esta tarde, as igrejas que foram atribuídas aos cardeais do país, em Roma.

Para D. José Ornelas, este é um momento “altamente inspirativo”.

“Paulo é a figura que cria mundos novos e é muito importante entender esta Igreja que quer renovar-se”, salientou.

Quando os conflitos bélicos dominam a cena internacional, o presidente da CEP refere que o “mundo está em cacos” e “é preciso recompô-lo, é preciso ser reconstrutores de ruínas”.

“É só olhar para Gaza, olhar para a Ucrânia, olhar para tantos outros lugares do mundo onde se procura destruir a esperança, destruir povos inteiros. Os morticínios de Gaza são uma tragédia absoluta, é preciso criar esperança e a esperança é a última que morre”, afirmou.

D. José Ornelas refere ainda que presença de cerca de 11 mil jovens portugueses no Jubileu é “sinal” de que a Jornada Mundial da Juventude, realizada em Lisboa, em 2023, “deixou sementes”.

Foto: Agência ECCLESIA/CB

O Jubileu dos Jovens é um dos eventos centrais do Ano Santo, convocado pelo Papa Francisco e continuado por Leão XIV.

Milhares de jovens de todo o mundo começaram a ser recebidos em Roma desde segunda-feira, num evento que segue, na maior parte do seu programa, a agenda de uma Jornada Mundial da Juventude.

No sábado, informa o Vaticano, os portões da área junto à Universidade de Tor Vergata serão abertos às 09h00 locais (menos uma em Lisboa); das 14h00 às 20h00, o palco contará com animação com música e depoimentos.

Apos a chegada do Papa Leão XIV começa vigília de oração, pelas 20h30, durante a qual três jovens farão perguntas ao pontífice sobre os temas amizade, coragem e espiritualidade.

Estima-se que cerca de um milhão de participantes passem a noite no local, onde Leão XIV vai presidir à Missa, pelas 09h00 de domingo.

O Jubileu dos Jovens conta com 11 527 participantes portugueses, a maior delegação num evento do género, no estrangeiro.

O Papa Bonifácio VIII instituiu, em 1300, o primeiro Ano Santo – com recorrência centenária, passando depois, segundo o modelo bíblico, cinquentenária e finalmente fixado de 25 em 25 anos.

Não está, mas está

Há alguns dias, um amigo meu fez-me notar que, na primeira temporada da série The Young Pope, o fictício Papa Pio XIII impede que sejam feitos souvenirs e outros produtos com a sua imagem, pois somente Deus é o verdadeiro protagonista. Disse-me isso comentando o espanto que os turistas e peregrinos, em pleno Ano Jubilar, manifestam diante da falta de “lembranças” com a imagem de Leão XIV.

Aparentemente, o Vaticano (o próprio Leão XIV?) ainda não autorizou o uso da imagem do Papa para esse fim. Seria bom que essa autorização nunca chegasse e começássemos a valorizar a imagem do Papa, seja ele quem for, sem a necessidade de a explorar nos mais variados objetos, alguns de gosto duvidoso.

Em muitas ocasiões, essa comercialização da imagem papal é acompanhada por um culto insano – muitas vezes inconsciente –, mas que alimenta uma forma de religiosidade que fica nesse ponto, sem avançar mais, sem crescer na fé, sem questionar nada que permita aprofundar o caminho que todos os cristãos devemos percorrer. Pode-se dizer que, às vezes, isso toca a idolatria.

Podemos dizer, assim, que Leão XIV, pelo menos por enquanto, não está prestes a entrar no mercado de lembranças que alimentam as lojas nos arredores da Praça de São Pedro. Essa «ausência comercial» leva algumas pessoas a dizer que ele não está, mas ele está. Na verdade, ele está desde o início, mas, para alguns, era um «estar tranquilo».

Provavelmente viam essa «calma» porque não se deram ao trabalho de ouvir ou ler, sobretudo ler as suas homilias, discursos, catequeses, alocuções do ângelus… Mas, de repente, o letargo desses alguns foi abalado porque Leão XIV incluiu no missal romano uma fórmula litúrgica para rezar pela guarda da «casa comum» e ele próprio celebrou a primeira eucaristia que surpreendeu muitos, em plena natureza, como se fosse uma catedral.

Porquê essa surpresa? Porque acreditavam que todas essas coisas sobre o cuidado da criação, que vêm desde os tempos de João XXIII e que Francisco colocou em primeiro plano, eram coisas de cuidar de plantinhas e floreiras e, com a morte de Francisco, a causa morreu. E nada disso. A ecologia integral, o cuidado da nossa casa comum, é pura Doutrina Social da Igreja.

Na Laudato si’, pela primeira vez Francisco utilizou a expressão «casa comum». Estas duas palavras encerram uma visão do mundo muito concreta e um programa para toda a humanidade – crente e não crente – com uma profunda carga social. Se a Terra é uma casa onde todos habitamos, temos a legitimidade de encontrar o nosso lugar-lar nela; se é comum, deve ser partilhada. Apenas duas palavras apresentam todo um programa social que, ao que parece, Leão XIV está disposto a seguir.

A sua experiência no Peru, onde toda a riqueza natural está sob o olhar e a ação destrutiva de multinacionais sem escrúpulos, como em muitos outros países, permitiu-lhe ver a realidade dessa necessidade ecológica que coloca o ser humano no centro da reflexão e do cuidado.

Parece que, para alguns, de repente Leão XIV está e está de uma forma que começa a não agradar. Ser Leão XIV não implica ser o sucessor de Leão XIII, mas, evidentemente, a intenção de colocar a Doutrina Social da Igreja em cima da mesa será um ponto muito comum nos dois papas. A Doutrina Social da Igreja é evangelho, e apenas evangelho, e no evangelho o centro é sempre o bem-estar da pessoa. Mas Jesus incomodava, não podemos esperar que o magistério de um papa não incomode alguns.

Aliás, em alguns setores, começa-se a dizer que este papa «também é comunista», reafirmando assim que Francisco foi o primeiro. Que falta de originalidade e que pouco conhecimento da história quotidiana da Igreja! No pontificado de Leão XIII, os jornais – único meio de comunicação de massa da época – publicavam em muitas cidades o convite para rezar o rosário em igrejas e catedrais pela conversão do papa comunista. Tudo por causa da publicação da encíclica Rerum novarum.

Como diz o Livro do Eclesiastes (1,9), não há nada de novo sob o sol. É uma pena, porque isso significa que algumas pessoas nunca leram nada e confiaram e confiam no que alguns dizem.

Lembremos: a ecologia integral e, consequentemente, o cuidado da casa comum, nada mais é do que a Doutrina Social da Igreja. E é preciso rezar para que todos vivamos essa conversão.

 

*Cristina Inogés Sanz é teóloga e foi membro do Sínodo dos Bispos sobre a Sinodalidade por nomeação do Papa Francisco, depois de ter integrado a comissão metodológica de preparação.