Perguntaram-me hoje que diz a Igreja sobre o Halloween e nem foi a primeira vez esta semana.
Falar disto é como tirar conclusões com dados estatísticos, ou se preferirem, como os políticos em dia de eleições: cada um lê como quer e ganham todos.
Invariavelmente é um tema em que as opiniões se polarizam (é assim que se diz, não é? Nunca usei o termo antes, estou a tentar parecer tão maduro a escrever como na cara que já acusa uns anos extra) perigosamente depressa.
E, há quem endemonize (trocadilho temático inconsciente), há quem relativize, a verdade tende a ir, como o bebé, com a água do banho.
Fiz uma pesquisa rápida na internet junto de sites habitualmente sérios e fidedignos, deixo os links aqui e espero que passem os olhos e já continuo.
https://www.vidapastoral.com.br/atualidades/os-catolicos-e-o-halloween/
https://clube.cancaonova.com/outras-materias/halloween-e-contrario-a-fe-catolica/
https://www.acidigital.com/noticia/56551/catolicos-e-halloween-e-perigoso-participar
https://padrepauloricardo.org/episodios/o-halloween
A mim ocorre-me sempre a ideia de que só a forma como perguntamos diz muito. Reduzir “ a coisa” ao posso ou não posso, é sempre redutor e sobretudo des-responsabilizador no sentido que “se alguém decidir por mim não tenho de pensar no assunto”.
E honestamente nem me estava a sentir com coragem para falar do assunto, mas serviu de desculpa para falar disto com vossas mercês.
Assim, grosso modo:
Sim é verdade que há todo um mundo pagão/demoníaco/satânico que não conhecemos bem. E tendemos a não falar, por não saber muito, ou por vergonha. Mas ainda há bem pouco tempo vi testemunho de quem por lá andou e que partilham que há até sacrifícios humanos necessários para se alcançar as etapas mais avançadas. E não podemos achar que não há mesmo actividade demoníaca e gente tola, porque os há. E o diabo sabe bem como fazer a sua acção parecer inocente e inofensiva.
E é por aqui que o assunto fica assustador. Sabem como quando pegamos nos nossos bebés e crianças e nos consagramos a Nossa Senhora?
Pois ele há malta que faz isso neste tempo ao contrário “às forças e ao capeta”.
“Ah senhor padre, mas a gente não sabe e não tem essa intenção!”. Sim, é verdade. E a minha afilhada Sofia também não teve intenção nenhuma quando no dia do baptismo a consagrei e apresentei à Senhora da Conceição, e vocês que a veem correr na missa, digam lá que a bênção não correu bem?!
Também é verdade que é tudo uma espécie de Carnaval de Outono. E que não passará disso e de ser uma coisa engraçada e inócua.
Esta semana falava com amigos pais que estavam justamente nesse dilema. Porque lá na terra deles já só se faz o Halloween e o “peditório” de guloseimas nocturno, no dia de todos os Santos ninguém abre a porta! Ficam divididos porque querendo ser fiéis aos seus valores e Fé, não querem que os filhotes sejam ostracizados e se sintam excluídos, mas também não os querem sujeitar a influências que não são positivas, sociais ou espirituais.
E honestamente, acho que é neste ponto que a questão se torna interessante. Então a malta já não pede o bolinho? Vendemo-nos assim tão depressa?
Aqui na nossa urbe[1] fazem uma mistura curiosa: pedem o bolinho mascarados de vampiros e fantasmas.
Pessoalmente assusta-me esta assimilação cultural e mistura sem nexo, sem questionar.
Aqui em casa é difícil estar disponível para dar o bolinho, mas há uns dois anos, um grupo veio já a meio da tarde, todos mascarados!
E eu disse-lhes:
- vocês estão atrasados um dia.!
Só um dos meninos percebeu e explicou aos outros. Ninguém sabia nem o que era o Halloween nem o bolinho, nem o dia de todos os Santos!! Sabiam só que era dia de ir pedir doces e enfardar forte sem supervisão parental!
Volto ao ponto inicial, mais do que podemos ou não podemos, não deveríamos perguntar: convém ou não convém? Não deveríamos questionar: “Faz sentido? Porquê?”
O porquê das coisas é sempre um bom ponto de partida.
E sejamos honestos, perdemos o porquê muito facilmente, em tudo.
Reparem, para a semana é um fim de semana estranho para os padres, não há sábado, é tudo Domingo. É suposto a malta ir à missa no sábado, celebrar o dia de todos os Santos e no Domingo o dia de preceito dominical e obrigatório, que coincide também os os Fiéis defuntos.
Sábado celebro 4 missas e já se antevê: “ah e tal, mas queremos abrir a porta aos meninos e vamos visitar a família e dar o bolinho e passa. E no Domingo lá se vai dar a volta dos cemitérios.
- Portanto se formos a uma missa já é uma sorte.”
E isto é que é perigoso. Porque se o povo andar com a confissão em dia, uma vida sacramental cuidada, pois o capeta de pantufas não tem poder algum.
Ganha poder e vantagem sobre nós quando há confusão, quando é tudo igual, quando há um sincretismo religioso[2] que já nem os mínimos olímpicos cumpre.
Então ai perde-se tudo, a água do banho, o bebé e a banheira.
Temos uns dias fortes pela frente. Uma tradição incrível, tão nossa. Recordar a multidão dos Santos e os nossos defuntos, celebramos a Igreja no seu todo: militante, padecente e triunfante.
Aproxima as famílias, ensina a generosidade aos mais novos.
Grave é perdemos o sentido da nossa tradição, dos nossos valores, da nossa Fé!
Grave é perdermos a coragem de assumir que estamos no mundo, mas não somos do mundo, e que estamos no mundo para o moldar e transformar.
Grave é não contarmos as histórias dos Santos aos vossos filhos, até aqueles que conhecemos bem!
(A Marvel tem uma banda desenhada sobre João Paulo II falemos destes nossos grandes heróis)
Prepocupante é estarmos a tornarmo-nos mornos! E a ceder ao politicamente correto e às modas, sem discernimento nenhum.
“Então, mas podemos ou não” Diria: precisamos?
Talvez pudéssemos ser mais conscientes, atentos, aproveitar de um modo mais consciente e positivo a nossa tradição, popular e religiosa.
E aceito bem que vamos assimilando outras culturas e tradições. Aliás, a Igreja fez isso com imensas tradições e datas, também com esta de Todos os Santos.
A nós compete ser inteligentes e conscientes. Saber o porquê das coisas. Interrogar e escolher ativamente o que nos convém, o que é importante, para nós, para os miúdos e para a educação que lhes queremos dar.
A vida é demasiado rápida e preciosa para se viver à toa e sem consciência.
Pe. Patrício Oliveira
[1] urbe
(ur·be)
nome feminino
Povoação que corresponde a uma categoria administrativa (em Portugal, superior a vila), geralmente caracterizada por um número elevado de habitantes, por elevada densidade populacional e por determinadas infra-estruturas, cuja maioria da população trabalha na indústria ou nos serviços. = CIDADE
"urbe", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2025, https://dicionario.priberam.org/urbe.
[2] Uma mistura confusa de tradições onde já não se sabe o que é o quê. Vejam aqui este artigo: https://www.leiria-fatima.pt/tempo-de-paixao-sincretismo-religioso-e-confusao/
