Hic Domus Dei est et Porta Coeli

Vi, esta manhã, uma multidão de pais e miúdos a caminho da escola.
Senti-me o S. João a ter as visões do Apocalipse. Professores que já não sabem estacionar o carro. Dois terços dos pais não sabiam que o portão da escola já não é onde era no tempo deles.

Um dos miúdos há tinha bigode! Pedi uma opinião técnica a quem tem mais olho que eu e foram unânimes: não pode ter mais de 12 anos, mas já mandava uma bigodaça que envergonharia a tia do Raúl Solnado. E logo a seguir outro, tão franzino que eu juraria não ter peso para andar o no quinto ano.
Mas lá iam todos. Os miúdos ensonados, os pais num misto de alívio que as férias terminaram, mas um coração apertado. Imagino que todos tenham medo de que a escola não suporte os filhos e os devolvam antes de poderem almoçar sossegados.

Imagino os pensamentos, os sonhos, os medos que se juntam nestes dias.
Para os pequenos é uma mudança grande, radical, há medo expectativa.
Há pais assustadíssimos, que não chegando a ansiedade do dia, ainda se confrontam com o desapego com que os filhos os deixam ao portão.
E há os outros que precisam explicar ao filho que tem de ser, que tem de largar a perna da mãe, mesmo que aquele coração grite “FICA COM O MENINO EM CASA PARA O RESTO DA VIDA!”

Recordo uma família que precisou ensinar o menino a ir de autocarro, sozinho, quinto ano.
Pela frente: tu és capaz, tu és crescido, confiamos em ti!
Pela frente seguiram a criança discretamente a pé e atrás do autocarro durante uma semana, só para ter a certeza.
Hoje cheirava a sonhos, expectativas, a ansiedade e determinação e um bocadinho a medo, coisa pouca.
Estamos às portas do fim de semana em que celebramos a “Exaltação da Santa Cruz” e fui assaltado por uma ideia palerma: será que Deus Pai também tinha o coração apertado quando O Filho veio ter connosco?
Sabendo para o que ia, o que era necessário. A dor, o esforço que seriam necessários.
Talvez pudesse ser de outra maneira, diríamos nós, para não roçar aqui a heresia.
É também um coração cheio, confiante. Ofereceu-nos o Filho por amor, lançou-se numa aventura que para nós significa esperança, nova oportunidade, vida nova!

Porque os pais são todos iguais: querem o melhor para os filhos, mesmo que o coração fique pequenino e fiquem sem ar.
No amor dos pais, revejo e projeto o Amor de Deus pela humanidade.
Na exaltação da Santa Cruz, recordo o sacrifício dos pais, a doação, a entrega que nos/me fizeram chegar aqui.

E assim brota uma tímida, mas sentida oração:
Obrigado. Aos pais que nos levaram ao portão da escola.
Obrigado ao Filho que nos abriu o portão do Céu.
Obrigado ao Espírito que nos conduz no caminho.
Obrigado ao Pai que nos aguarda do outro lado do portão celestial.

Pe. Patrício Oliveira

Para quem tem o latim enferrujado:
Hic Domus Dei est et Porta Coeli significa: “Aqui(Esta) é a casa de Deus e a porta do céu”
Célebre frase, que se encontra em muitas igrejas, nomeadamente na capela de S. Pedro de Moel.

Raúl Solnado e brigadeiro de chocolate

O Raúl Solnado* dizia que lá em casa, a família tinha uma cadeira que servia para quando eram despedidos, não tendo eu uma igual e porque também não fui despedido ainda, gosto de fazer o mesmo exercício de me sentar na cadeira de pensar a vida, a apanhar sol, a ouvir os passarinhos, habitualmente a uma distância de casa suficiente para passar por turista anónimo.

Por estes dias, precisando eu de pensar na vida, dei por mim num sítio novo. Rapidamente me arrependi. O espaço era agradável e pitoresco, o sol agradável e a esplanada pouco movimentada.

Eis que chegam duas senhoras que se tornam minha vizinhas, da frente, que mandam vir uma talhada de bolo brigadeiro. Percebi logo que eram missionárias do demo para me apoquentar.

Resisti, estoico e determinado.

O demónio não se deu por vencido e mandou 3 brasileiros que me atacaram pelas costas. Cheirou-lhes a brigadeiro e vai de pedir igual. Rezei ao Senhor a pedir força e uma má disposição para me impedir de me juntar à festa do brigadeiro que ali se instalara.

E ali estou a pensar na vida e no futuro e a pensar em como me saberia bem experimentar aquelas coisas, quando chega uma ambulância.

Temi que fosse para me evacuar dali para fora!

Era um transporte de doentes não urgente, traziam uma senhora em cadeira de rodas e o marido.

Homem já nos seus 80 anos, que se aproxima jovialmente das vizinhas da frente, claramente conhecidos dos tempos em que eram os três ainda jovens.

Mas rapidamente aquele jovem rumou para junto de mim, e eu só pensava: se me ofereces brigadeiro, eu aceito!

Abeirou-me com uma simpatia e um à-vontade que eu já estava convencido ter sido reconhecido.

“E este jovem venha aqui para ajudar a levar a minha senhora”.

Não foi um pedido, não foi uma pergunta. Informou-me que ia ajudar o motorista.

O sorriso era tão genuíno e cheio, que dei por mim de pé, a meter o telefone ao bolso e a deixar a mesa cheia de cadernos, livros e a mochila com o computador para trás e segui-o.

Fiquei surpreso e deslumbrado pelo à vontade, pela simplicidade e determinação com que me abordou. Plenamente confiante de que eu ia. E fui!

Convencido que seria ali os degraus da entrada do prédio.

Depois de um breve briefing com o maqueiro sobre o procedimento da manobra, perguntei:
- E vamos para onde?

- Segundo piso, respondeu-me o jovem, enquanto vira costas para iniciar a manobra.

A meio caminho perguntei como se chamava a princesa. Rosa e ele é Sr. Ferreira.

Não resisti e disse-lhe que iam ter uma história bonita para contar à família, quando lhes contarem que foram à boleia do padre da Marinha.

Fui recebido como se fosse da família. Vim com o coração cheio da genica dele, do entusiasmo com que cuida da esposa, ambos já com mais de 80, mas a pensar na dificuldade dos dias em que não está ninguém na esplanada, ou até no dia a dia normal.

Mas sobretudo com a determinação daquele homem.

A situação logística não é fácil, fácil era lamentar-se e queixar-se e deixar-se abater.

Fez o óbvio, fez o ato corajoso, pediu ajuda.

A este propósito, e daí todo o introito das minhas desventuras, ouvi um padre esta semana dizer: “os Santos amam dar uma mãozinha!”. Os amigos amam dar uma ajuda, cuidar, poder ser para o amigo.

Esta semana a Igreja declara e canoniza dois novos santos. Jovens, enérgicos, como o Sr. Ferreira, são mais duas vozes, mais dois pares de mãos a auxiliar a mão paterna e amorosa de Deus Pai.

“Se vós, que sois maus, sabeis dar coisas boas ao vossos filhos, quanto mais o Pai que está nos Céus”

Pedir. Estender a mão. A humildade de quem se sabe curto para ser quem desejava, curto para ser santo, humilde para ouvir a Voz. Do Pai, da Mãe, do Filho, do Carlo, do Pier Giorgio, o Céu exulta estes dias de grande alegria, mas exulta infinitamente mais sempre que um pobre pecadorse arrepende e se converte.

O Sr. Ferreira encontrou, provavelmente o padre adequado para ajudar a carregar a esposa, e nós, certamente encontraremos a mesma ajuda.

Humilde, dóceis, com desejo de crescer, converter e ser nova criatura.

 

Pe. Patrício Oliveira

*Para quem não conhece a referência aqui fica:

O Papa precisa de Amigos

Gastei imenso tempo a olhar para esta imagem e o coração enche-se-me de coisas boas.
A reacção é natural nas crianças, e aqueles olhos arregalados talvez ainda não sejam capazes de distinguir bem as feições do nosso Papa, menos ainda o seu sorriso.
Mas uma parte de mim sussurra: “e se a criança sabe alguma coisa que nós não sabemos?”

Viajemos na maionese.
Penso no entusiasmo com que Maria recebeu a notícia da gravidez da prima Isabel e vice-versa.
Penso no entusiasmo de João Baptista (acho que devíamos traduzir como os ingleses e chamar-lhe João o Baptizador) ao reconhecer o Menino Jesus.
Penso na criança que Jesus puxou para si para explicar aos discípulos o tamanho que é necessário ter para ajudar a construir O Reino dos Céus.
E permitam-me que veja algo mais. O Santo Padre nem ficou bem neste instante. O vídeo é claro, o momento é rápido (uma nota rápida para o à-vontade com que agarra crianças e a ligeireza e facilidade, o homem é atleta!), e não há dúvida que houve ali surpresa pelo vigor com que lhe agarraram os colarinhos (sim, eu sei, chama-se Romeira ou Peregrina, conhecida também como "peregrineta", em italiano), mas o Papa parece surpreso!
Recorda-me o dia da eleição e a surpresa ao contemplar o mar de gente na praça que dava voz e rosto à Esposa de Cristo.

Pois eu vejo ali o Menino Jesus que o abençoa e o encoraja porque ele está a superar-se!
Tem sido incrível ver, ouvir, a calma, serenidade, a dignidade, a contenção das palavras e gestos deste Papa. Depressa os extremos o quiseram reclamar e rotular e ele, qual Jesus a passar pela multidão que o queria apedrejar, passou por eles e foi fazer o que lhe pareceu melhor.

Partilho aqui um corte do discurso ao jovens do Jubileu:

Não me sai da cabeça que o próprio Jesus veio na pessoa daquela criança suportar, incentivar este homem de Deus.
Porque o Papa precisa de amigos, que o suportem, amparem, rezem com ele e por ele. Que o incentivem a ser Santo, a cumprir os desígnios que Deus tem para ele.
Quem não se sente motivado quando alguém lhe puxa os colarinhos daquela maneira?
Quem não sente que é capaz de tudo quando à sua volta há quem queira apenas o seu bem, que seja santo, forte, inteiro e todo de Deus?
Foi para os jovens, mas serve bem a toda a gente.
Não podemos garantir que todos os que nos rodeiam sejam assim, mas podemos garantir que o somos na vida dos nossos.
Aquela criança, talvez seja hoje uma espécie de Percursor, como o João de quem recordamos hoje a decapitação, do Papa.
Desejo profundamente que aquele sorriso seja sinal da bênção de Deus.
Sinal que estamos a entrar numa nova época, numa nova fase, guiados pelo Menino que se fez Homem por nós.
Rezemos com e pelo Papa e sobretudo deixemo-nos contagiar pela sua palavra e pelo seu incentivo.

 Pe. Patrício

Pequeno pormenor

Esta semana noto um padrão à minha volta, um padrão positivo, um tom de esperança.

O vizinho Joaquim falava de esperança na segunda-feira. A irmã Susana celebrou 30 anos de consagração e dos seus votos. A Agência Ecclesia deu nota deste título: “Papa indica atitude «caridosa, compreensiva e paciente», em relação a desafios atuais, aos participantes de um congresso na Colômbia[1]”. E ontem a memória de S. Pio X.

A nota no missal Romano dizia:

Pio X nasceu na aldeia de Riese, na região de Veneza, em 1835. Depois de ter desempenhado santamente o ministério sacerdotal, foi bispo de Mântua e patriarca de Veneza. Em 1903 foi eleito papa. Adotou como lema do seu pontificado «instaurar todas as coisas em Cristo», ideal que orientou o seu pontificado. No motu próprio Tra le sollecitudini (1903) afirma que a participação nos santos mistérios é a fonte primeira e indispensável da vida cristã. Incentivou os fiéis a intensificar esta vida com a participação na Eucaristia, a dignidade da sagrada liturgia e a integridade da doutrina. Morreu no dia 20 de agosto de 1914.

Efectivamente no início do Século XX, já o pai do Joaquim tinha 3 anos, o panorama da participação na vida da Igreja era bastante diferente do que conhecemos hoje.
Foi um tempo marcado pelo século XIX, ateísmo comunista, secularização, perseguições, filosofias nihilistas, etc, criaram um ambiente bastante difícil.
De modo especial a participação nos sacramentos, Eucaristia, comunhão, era reduzida.
Assim de grosso modo: “ia-se pouco”, comungar era ainda mais reduzido. Daí a referência do trabalho de Pio X em intensificar a participação na Eucaristia, a dignidade da sagrada liturgia e a integridade da doutrina.

Pensava justamente nesta memória de como o mundo e o nosso ambiente mudou. É certo que 100 anos, é muito tempo, mas ao mesmo tempo é relativo. Os minutos de qualquer das minhas homilias fazem qualquer pessoa achar que os 100 anos do século XX foram rápidos. E quando olhamos a história como um todo, chegamos ao hoje e aqui bem depressa.

Apesar das dificuldades culturais, dos ateísmos, perseguições, houve também simultânea e estranhamente movimentos que cresceram e frutificaram ora cem, ora sessenta, ora trinta[2].

Começou o movimento ecuménico, e de modo muito especial o litúrgico.
Numa altura que parecia de derrota, um burburinho de confiança germinou e foi ganhando força, quase silenciosa, mas crescente e determinada.
Tudo isto levou à enorme revolução do Concílio Vaticano II e o resto já vocês conhecem.
Pensemos na origem do Concílio, uma ideia peregrina de um Papa, João XXIII, que era tido como um Papa de passagem.

Penso na quantidade de pequeninas coisas que foram moldado a história, que foram sendo instrumentos de Deus.
Hoje vivemos em tempos também eles conturbados, são de crise que é uma palavra assustadora para dizer de oportunidade e de Graça, porque não dizê-lo?

É verdade que somos esmagados por tanto que não controlamos e é mais forte que nós, gente humilde que não joga no tabuleiro da globalização. Mas lá diz a voz do povo: se achas que és demasiado pequeno para fazer a diferença, pensa numa melga que te visita de noite.

Não seremos nós chamados à esperança, à perseverança? A reconhecer que somos todos, todos, todos, chamados a sermos Pedras Vivas, mesmo que pequeninas? E a pedra no sapato faz muita diferença.

Voltar a olhar a beleza dos Sacramentos, a Eucaristia como fonte e lugar privilegiado de Graça e encontro com Deus, com e nos irmãos. Não como um preceito obrigatório, mas como oportunidade, onde somos chamados a participar com os olhos da Fé.

 

Imagem que esta semana comungam de olhos fechados, não é o Patrício, ou um ministro extra-ordinário, é o próprio Jesus que se coloca na palma da mão. Como comungar só com uma mão ou à pressa e sem reverência?

Devíamos todos de tremer na fila da comunhão, de temor, de entusiasmo, antecipação, mas cheios de confiança.

Um exame de consciência honesto, consciente. Uma confissão de coração aberto.

Pequeninas pedras que fazem a diferença em nós e na nossa vida e com ela, na grande construção que é a nossa família, a paróquia comunidade, a cidade e o mundo!

Olhemos com esperança, com confiança os sinais dos tempos. Vamos conscientes da dificuldades, dos desafios e das responsabilidades, mas certos e confiantes da misericórdia, da paciência e do Amor de Deus. De coração aberto à acção do Espírito Santo.

Pe. Patrício Oliveira

1] XVII Congresso Internacional de Teologia Moral
[2] Mt 13, 23

E um poema da cultura Pink/Rock portuguesa:

Pequeno Pormenor

Pequenas coisas que faltam na vida
Tornam-se as grandes incompletas
Pequenas coisas fazem parte
Não te esqueças
A grande ponte para lado nenhum
Fica distante da pequena estrada
Esburacada, onde arriscas a vida
necessáriamente
E se tudo é um todo
E o todo é que importa
Não ponhas de lado
Aquilo que falta

Mesmo que não tenhas tempo
Pensa o que tens a fazer
Mede bem a importância
Dum pequeno pormenor
Um parafuso no foquetão
Um beijo ao deitar, um papel no chão
Uma prenda com cartão, um voto aqui
Ali um não

A justiça em grande faz sombra à pequena
Frágil, diária de todos
Tantas pequenas injustiças
tornam falso o sistema
A pequena dor nunca aliviada
Nas filas de espera do grande hospital
torna a doer, mesmo que te digam
vais ser atendido mais lá pro outro natal

Se tudo é um todo
E o todo é que importa
Não ponhas de lado
Aquilo que falta

Mesmo que não tenhas tempo
Pensa o que tens a fazer
Mede bem a importância
Dum pequeno pormenor
Um parafuso no foquetão
Um beijo ao deitar, um papel no chão
Uma prenda com cartão, um voto aqui
Ali um não

Encontrou-se uma cabra nas Figueiras

Há umas semanas dei por mim a pé numa rua que não conseguia identificar. Não estando perdido não me fazia sentido que ponta da paróquia era aquela. Passei várias vezes e não me saía da cabeça. Num destes dias, porque mais folgado de tempo, desviei do caminho habitual decidido a esclarecer o mistério. Não andei nem 20 metros quando vi um homem chegar ao cruzamento, lento, mas decidido, bengala na mão direita, a esquerda apoiada nos muros das casas.

Reconheci o rosto e nem me queria acreditar, já não o via, nem sabia dele há tanto tempo, que honestamente já me teria passado pela cabeça que tivesse falecido sem que eu tivesse sabido.

Estranhou o turista de calções e boné a aproximar-se e não estava mais espantado que eu. Era o Sr. Roque, carteiro da Marinha de vários anos, cruzava-me com ele com frequências na garagem quando fazia transportes para a Conferência de S. Vicente Paulo.

Conversámos um bocadinho. A saúde já não ajuda muito com a ida à missa, daí a ausência, mas não desiste de dar a volta ao quarteirão. Talvez para as pernas se recordarem de quando vinha de bicicleta lá dos lados do Louriçal, para vir trabalhar (sim, façam como o engenheiro Guterres, é só fazer as contas aos kms).

Ofereci-lhe um ministro da comunhão, envergonhado por não lhe ter chegado a proposta há mais tempo.

E, faço aqui um mea culpa, deixei passar mais tempo do que gostaria, mas esta semana lá tirei a manhã para visitar o Roque e a amiga, que a Alzira também se queria confessar. Já não me recordo de onde os vi juntos, e a expressão roque e a amiga me surgiu. Afinal são amigos e vizinhos há largos anos e até vinha cavaram juntos.

Voltei a cruzar-me com ele, para ir afinar pormenores e conhecer a esposa. Apanhei-o na volta, e juntei-me a ele. E é aqui que a coisa fica bonita e se torna graça de Deus na vida deste padre.

Não houve uma palavra que fosse acerca da minha demora. Mas também não houve uma palavra acerca dele. Só me disse:

- Se calhar tem pressa, mas sabe, há ali uma senhora ainda nova, que teve um AVC e está acamada, eu às vezes ou lá visitá-los. E se calhar também iam gostar de receber a visita.

- Vamos a isso!

- Mas eu ainda demoro um quarto de hora a chegar lá...

- Não há pressa vamos lá ver qual de nós chega primiro.

- Sabe, há aqui um outro vizinho, mas o padre se calhar está com pressa, ele nem era muito de Igreja, mas também já tem uns anos e nunca é tarde para um homem de arrepender e se reconciliar. Eu também o visito às vezes.

O vizinho também vinha a chegar da volta higiénica. Apresentações feitas, o Roque nem teve meias medidas.

- É o padre cá da terra, veio ver-me e eu recebo lá o ministro da comunhão. Tu se calhar também podias aproveitar. Nunca é tarde para um homem fazer as pazes com a vida e com Deus e a graça de Deus é certa.

Eu mal podia acreditar no que ouvia. O vizinho lá me disse que tinha participado nas actividade dO partido, “mas não é por isso que não sei rezar! Que a minha mãe ensinou-me!”.

Ficámos para outras núpcias.

La fomos ver a vizinha acamada, dois dedos de conversa, e siga a viagem, que as pernas e as dores já estranhavam a demora da volta extraordinária.

- O senhor padre se calhar tem pressa, mas há aqui outra pessoa, gente boa...

 

Resumindo, eu saí para entregar um paroquiano ao ministro extraordinário da comunhão, ganhei mais 4 ou 5, que alguns não estavam em casa.

 

Continuámos a volta, que eu ainda queria conhecer a esposa! Fui ver agora ao Google Maps e o Roque não estava enganado, a volta ao quarteirão tem bem uns mil metros.

Sorria, visivelmente aflito, mas sorria, partilhou o entusiasmo do Cursilho “fiz quando tinha 40 anos”.

O sol do meio-dia apertava-me já o suor pelas costas abaixo. Mas a brilho dos olhos dele e da forma simples e apaixonada com que me contava a sua experiência de encontro pessoal com Cristo, o amor aquele episódio e ao movimento, era mais forte. Marco-o profundamente e agora já com oitentas e muitos, não teve o mínimo de pudor em falar de Deus e O oferecer já que o padre ali estava.

 Foi como um murro no estômago para mim, em bom, que levei naquela manhã.

É fácil perder o entusiasmo, ou deixar que o desgaste e a frustração falem mais alto. Encontros como este levam-me sempre ao que é mais importante e recordam o básico: quando abrimos o coração e O deixamos habitar a nossa vida, Ele vem, ocupa, transforma e renova.

E nem a vida, a doença, o cansaço, afastam esse fogo que arde e alenta.

Quando li o evangelho da Senhora da Assunção, a visita de Maria a Isabel, que a levou numa viagem de 150 kms, pensei naquele km que partilhei com o senhor Roque. E acreditem em mim, não foi menos longo, não foi menos difícil para ele, e tenho a certeza que não foi menos importante.

É a viagem que somos chamados a fazer, uma vida de renovação, conversão; uma vida que leve Jesus aos que nos rodeiam.

Já falei disso em tempos e reforço, sejam como o Roque na vossa rua, estejam atentos aos vossos vizinhos, procurem, e ofereçam a possibilidade. Se forem precisos mais ministros extraordinários, eu mando fazer mais!

Quanto à cabra, parece que foi encontrada lá nas Figueiras, era o que dizia no cartaz da volta ao quarteirão que vimos, se for vossa, mandem SMS ou WhatsApp para o 966 022 426.

 

Pe. Patrício Oliveira

Férias...?

Vivemos dias de grande entusiasmo, este Jubileu dos Jovens deixou-me o coração cheio, de inveja por não ter ido; de alegria pelo nossos que foram e que me foram partilhando o entusiasmo e que estão a partilhar connosco, hoje na Noite de Louvor, em breve também na Eucaristia; de entusiasmo pelo programa e pela mensagem do Papa que continua a dar sinais de ser Deus que comanda a sua Igreja.

Enche-me de Esperança perceber que contando com o nosso esforço, o nosso trabalho, entrega e dedicação, a palavra final vem do Alto. E é com entusiasmo que sinto que esta nova geração cresce, amadurece e se coloca numa posição que os levará a assumir, a cuidar, a conduzir a nossa comunidade, a igreja do curto prazo.

Ingenuidade minha? Talvez. Não era a primeira vez, nem a última.

Mas o coração está também cheio de formigueiro, uma ansiedade que me desinquieta e me faz pensar constantemente “o que é que Vossemecê me quer? Onde é que me quer? Como me quer?”.

É tempo de nos colocarmos a jeito. De rezar, pedir as graças, mas também pedir que seja feita a Sua vontade.

Olho o Evangelho deste Domingo e a mesma inquietação. A urgência de estar atento, preparado, o futuro é agora. Deus não vai de férias, embora seja paciente e espere por nós. Mas o momento é agora. Não por medo de podermos morrer a qualquer momento e termos de apresentar contas ao Senhor. Mas porque a vida é preciosa e não pode ficar para amanhã cuidar dela.

Não estamos cansados de sentir tristeza e abatimento a sentir que somos menos, e que as pessoas se afastam e que não sabemos como vai ser no futuro?

Será que não temos visto um fenómeno doloroso de ver jovens a espelhar a atitude dos que os conduzem e guiam?

Será que não querendo ceder a uma ansiedade que se traduz num activismo frenético de fazer muitas coisinhas de Deus e um frenesim de preceitos, tradições, piedades e etc e tal. “coisinhas de Deus quanto mais melhor” ouvia um padre de Coimbra repetir imensas vezes, justamente para “ganharmos tino na mona”.

Fazer sem descanso, mas fazer bem, a escuta da vontade de Deus, o que nos pede.

Esta Esperança que ouvimos repetidas vezes este ano, precisa tocar-nos. Recordo o Papa João Paulo II: não tenhais medo!

Nem os jovens de se chegarem à frente e assumir responsabilidades e a sua voz; nem os mais velhos de incentivar e dar espaço à renovação e à transformação.

Preparados porque em tudo Deus nos desafia a sair de nós, do que é confortável, seguro e familiar, para a novidade que é uma maior proximidade com Ele.

Amadurecer na Fé, crescer no Amor e na confiança, não pode ter férias, nem pausa, está sempre a acontecer, mesmo quando tiramos férias dos afazeres.

Quero mesmo ganhar o Céu ou quero só uma consciência tranquila por ter feito o que era suposto?

Pe. Patrício Oliveira

A irmã Susana não está cá

A Irmã Susana continua a aventura Romana do Jubileu dos Jovens, pelo que a minha semana foi desafiante e ocupada, confesso não ter tido tempo para me sentar a pensar na vida.

Mas penso na Irmã Susana e nos miúdos e no Tiramisú que sei que eles já comeram e na pontinha d inveja de não ser jovem como eles.

Mas penso sobretudo nela e no desafio de ser uma galinha a cuidar dos pintainhos na Cidade Eterna, conhecendo bem eu aquele pintainhos.
A pensar neste desafio maternal, cruzei-me com um artigo que partilho convosco. Pareceu-me interessante e desafiador, a meio da leitura quase desisti da ideia, mas que “diacho!”, talvez seja mesmo o desafio necessário.

Até porque os miúdos andam por lá a trocar coisas também. Já vão perceber.

Amar os filhos sem lhes dar coisas

Sei que pareço má mãe quando eles não têm dossiers e mochilas novas quando querem. Mas acredito que valorizam o compromisso que temos, enquanto família, para com a sustentabilidade e os destinos do planeta.

Às vezes, aos olhos dos outros, sou uma má mãe. Porque não compro ao meu filho mais velho um casaco bom para o frio, camisolas e calças novas para a minha filha adolescente, uma caneca barata do Benfica para o pequenino, de 5 anos, que a pediu e não tem uma caneca com o seu nome como os irmãos.

É difícil dizer que não a uma criança. Sobretudo quando insiste. E sobretudo quando o que pede aparenta ser (quase) uma necessidade prática. E mais ainda quando essa criança é um filho nosso que se porta bem e merece e tudo o mais.

Mas a verdade é que acabo sempre por me arrepender xmuito mais quando cedo do que quando resisto por fidelidade aos meus princípios. Por exemplo, cedi no Natal, quando ofereci ao meu filhote mais novo um “panda de peluche gigante”, como ele tinha pedido na sua lista de presentes, apesar de eu achar que era uma prenda pateta, à qual ele ia deixar de achar graça rapidamente, que iria ficar só a apanhar pó aos pés da cama sem servir para nada. E infelizmente, assim foi. Não lhe quis dar o desgosto de não receber o panda gigante, mas arrependi-me. É mais um brinquedo que é como se fosse lixo antes de o ser, pois está para ali sem que se brinque com ele, só pelo capricho de uma criança que viu um peluche semelhante no quarto de um amigo e quis ter um também. Mãe tola, que não soube arranjar uma estratégia para dar a volta à coisa, em vez de contribuir para a loucura de consumismo e desperdício que é, atualmente, o Natal

Melhor fiz quando ele pediu a caneca do Benfica e eu lhe disse que não.

– Porquê, mãe?

– Porque cá em casa não compramos coisas de que não precisamos.

– Mas eu preciso, porque não tenho nenhuma caneca minha, mãe.

– Não “precisas”. Tu “queres”, que é diferente. Não precisas realmente de uma caneca só tua, quando no armário temos umas 15 canecas diferentes, que podes usar.

Mas…

… e mas e mas. A argumentação continuou, ao longo de vários dias, até que ele desistiu e deixou de pensar no assunto. E eis que então aparece uma caneca nova na cozinha. Nova, mas velha, pois veio de um saco cheio de loiça e talheres que, juntamente com dezenas de outros sacos, vasos e cadeiras, eu trouxe de uma casa que fui ajudar a esvaziar. Era da minha antiga vizinha de baixo, que agora foi para um lar e que deixou centenas de milhares de objetos na casa onde viveu, sozinha, toda a vida. É uma caneca amarela com flores brancas, que o Tomé viu no armário e que adorou:

– Pode ficar para mim, mãe?

– Sim, boa ideia, de agora em diante será a Tua caneca.

Ficou radiante, aos pulos, não se lembrando nem remotamente que um dia tinha querido tanto, tanto, uma caneca do Benfica.

E foi este episódio que me deu a ideia de escrever este artigo. Porque precisamos sempre de nos lembrar que a grande maioria das nossas prementes “necessidades” são só caprichos, e basta esperar um pouco para que se resolvam. Ou porque acabamos por nos esquecer delas, dada a sua insignificância, ou porque, com criatividade, arranjaremos outra forma de as resolver. Feiras de garagem, lojas e sites de vendas em segunda mão, mensagens para amigos e conhecidos que sabemos que têm filhos um pouco mais velhos do que os nossos e que ficarão todos contentes por passarem para outra casa a roupa que já ficou pequena.

Há anos e anos que não compro roupa nova, nem para mim, nem para os meus filhos, tirando os ténis de desporto federado. E recebo tantos sacos de roupa “herdada”, por parte de colegas meus de trabalho, pais de amigos dos filhos, etc, que vos garanto que nunca há falta lá em casa e eles até têm muito por onde escolher. Mas é preciso ter um bocado de lata (e sei que para algumas pessoas não é fácil esta iniciativa de andar a pedir roupa aos colegas e afins), fazer desta atitude rotina e cultivar nos filhos este espírito, fazendo-os compreender o porquê. Compreender que cada uma das coisas que compramos (e poderíamos não comprar) é mais um objeto cuja produção teve um custo ecológico enorme (7.000 litros de água só para umas calças de ganga, por exemplo) e que irá acabar por atolar em lixo a nossa Casa Comum.

Saber o porquê e assumir hábitos anti-consumistas leva a que os nossos filhos, quando precisam de algo novo, saibam que o procedimento é: mãe, pode mandar mensagens a pedir roupa para eu herdar? No espaço de uma semana, no máximo, haverá calças e camisolas novas, casacos e pijamas, garantindo uma economia circular em vez de contribuirmos para a lógica da extração, produção, poluição e desperdício que tão bem foi retratada no recente documentário: “Buy Now! The shopping conspiracy”, que aconselho todos a ver na Netflix.

À semelhança da roupa, também toda a mobília da minha casa (incluindo os quartos dos miúdos) e até de um anexo que remodelei foi herdada, apanhada na rua, restaurada (por mim ou por carpinteiros) ou comprada em segunda mão. O olhar nosso sobre um candeeiro recuperado, uma porta a que foi dada nova vida ou um beliche comprado no OLX é de ternura e orgulho. O olhar deles, dos filhos, é de naturalidade. É claro que a minha cama não foi comprada nova! É claro que, quando preciso de algo para o quarto (uma nova prateleira, uma nova cadeira, uma nova secretária), vou procurar numa feirinha ou no OLX. Nem outra coisa faria sentido.

Sei que pareço má mãe quando eles não têm dossiers novos e mochilas novas quando querem. Quando as festas de anos lá em casa não são temáticas e não estão cheias de balões e decorações a condizer. Mas acredito que eles valorizam o compromisso coletivo que temos, enquanto família, para com a sustentabilidade e com os destinos do nosso planeta. Será o deles, muito mais do que o meu, pois são eles que têm a vida toda pela frente.

Joana Rigato, no site www.pontosj.pt

Peregrinos do algoritmo juvenil

Em férias tenho gosto em ir à missa à paisana. Gosto de ir com os pais, como quando era miúdo, que o tempo já não sobra muito para estes momentos. Vamos a Fátima, eu não tenho de preparar homilia, nem levar túnica. Ainda estacionamos o carro no mesmo sítio há 30 anos.

Esta semana fomos à Basílica do Rosário às 07h30, porque é de manhã que se começa o dia e para grande surpresa encontrei uma igreja cheia.

Surpreendeu-me, no entanto, o número de comunidades religiosas presentes. Uma boa meia dúzia, todos com um grupo significativo, o que significa que não era uma ida individual, pareceu-me ser a “missa da comunidade”.

Cresci, e já depois de padre e de velho, a ouvir a expressão: “há muito padre em Fátima”. (Sobretudo como forma de reclamação quando não há missa nalguma capela, quando a solução óbvia seria ir buscar um a Fátima. A maior parte destas vozes nem sabe distinguir a Cova da Iria com Fátima, ou a Estrada da Beira com a beira da estrada).

O número de padres ali observados no Santuário (aqui equiparado a um espaço de observação de aves raras – curiosamente também chamado de santuário) é muito enganador. Sempre foi.
Os que vemos nas grandes celebrações são, como os leigos, peregrinos e por isso de passagem.
Outros passam algum tempo e por isso dão uma ajuda temporária, mas não permanecem.
Na cidade, e dado o grande número de casas religiosas, sim, “sempre houve muito”, que vivem nas suas comunidades e vivem o seu ministério de acordo com o seu carisma próprio.

Mas Domingo, ao olhar a quantidade de comunidades, e sim, reconheci várias e são residentes em Fátima, senti como que um arrepio. Uma voz dizia-me que vivemos tempos de mudança. E até onde houve sempre abundância começa a haver escassez. E sim, é uma leitura rápida, que terá outras implicações. Há muitas comunidades novas, algumas recentes em Portugal, com poucos meios, etc, falaremos disso outro dia.

A mudança é óbvia e está lá. É um sinal negativo? Não sei. Sei que desafia e desinstala.
Pode ser aproveitado pelos profetas da desgraça, pode ser um desafio positivo.

Numa semana em que as notícias do Jubileu dos Jovens nos enchem o coração e os números nos surpreendem dou por mim a pensar: “o que é que Vossemecê me quer dizer com isto?”
Não é de todo uma questão de falta de fé, ou o abandono.
Há curiosidade. Não são, no nosso caso 11.000 “apenas” turistas religiosos.
A JMJ 23 deixou-me com uma sensação de montanha que pariu um rato? Sim.
Porquê senhor padre?
Porque não lhe soubemos dar o enquadramento para tirar proveito, talvez. Porque foi uma coisa gira e fixe, mas que não deu o “alão” que gostávamos.

Há uns dias o colega de Constância dizia-me que em todos os países em que se fazem as Jornadas, tem acontecido um boom vocacional, em Portugal não se viu nada semelhante. Creio que não exsta um estudo que prove esta observação, vale o que vale, mas entendo o ponto de vista.

Talvez insistamos em dar respostas aos jovens a perguntas que eles não sentem como suas. E por sua vez, porque teremos dificuldade em responder às perguntas que eles colocam.

Que eles colocam na cabeça deles, porque não falam, não expressam, não articulam, e nem sempre entendem fazer sentido nas suas cabeças. E aguardam um algoritmo que os entenda, e que os ajude a entender o mundo e a perceber de onde lhe vem a fome e a comichão.

 A falta de padres e de vocações pode ser sinal deste desencontro.
Não é culpa de ninguém por assim dizer. É o mundo a acontecer muito depressa. Depressa demais para o nosso ritmo.
Por isso vejo com grande expectativa estas iniciativas, e de modo muito especial este evento do Jubileu e os nossos 8 Peregrinoturistas. E tenho grande esperança.

Ao mesmo tempo sinto uma grande pressão em sermos capazes de nos posicionar corretamente para os acolher, para ouvir, mas sobretudo para recebermos o mundo novo que se está mostrar e a caminhar apressadamente para substituir este em que vivemos.

Bem sei que estamos aqui há pouco. O Papa João Paulo II - que deve estar a rebentar de rir com esta movimentação juvenil e com as suas dimensões – falou em Nova Evangelização. E esmagadora maioria da igreja ainda procura perceber o que significa e como fazer. Passaram 40 anos.

Impõe-se voltar ao Evangelho. À origem. À missão. Ao exemplo de Jesus.

Hoje celebramos o S. Tiago Maior, filho do trovão! Cheio de boa vontade, até queria mandar vir fogo do céu.
A tradição coloca-o a fazer a viagem de Jerusalém até aos “fins da terra[1]” tal não era o desejo ardente de levar Jesus a todo o lado.  
Imaginam o que é uma viagem daquela no primeiro século?
Parar não é opção, ficar quieto menos ainda.
O tempo é de mudança, mas sobretudo de oportunidade.

Jesus chamou gente normal, com o coração na boca! Que demorou muito tempo a perceber o que era a missão.
A igreja mudou muito em 2000 anos. E agora muda ainda mais rápido, rezo para que saibamos acompanhar a mudança e que ela seja uma evolução em ordem à origem e não apenas uma adaptação às necessidades.
Este Jubileu da Esperança, esta geração, que são os próximos, enche o meu coração de inquietação, mas de expectativa.

Anseio o regresso deles, e dos outros, e do brilho de quem diz: “eis-nos aqui e trouxemos ideias e vontade!”

Pe. Patrício Oliveira

______________________
[1] O cabo Finisterra é popularmente tido como o ponto mais ocidental da Espanha. Diz-se que antes da viagem de Colombo, em 1492, era considerada como o ponto extremo do mundo conhecido, algo muito estranho pois tal distinção devia ser antes atribuída ao cabo Touriñán, também na Galiza, e mais ainda ao cabo da Roca, já em território português, verdadeiramente o ponto mais ocidental da Europa continental, facto que é referido no Canto III de Os Lusíadas.

Onde encontro Deus

Sim, é tempo de férias,
mas nem era a mesma coisa se não dissesse nada.

O algoritmo do Youtube chamou-me a atenção para um género que eu não ouvia.

Esta foi uma surpresa muito bonita, chamou-me a atenção a doçura com que um homem tão grande, barbudo e másculo consegue colocar.

Descobri que é um dos grandes nomes da música Country da actualidade, já deu uma perninha com o meu querido Zach Wlliams que deixou a música country para se dedicar ao louvor, mas mantém a barba.

Nestes dias mais tranquilos de férias e de calor e dias demorados, partilho convosco esta, em jeito de oração.

Segue-se a tradução muito livre e automática.

E sim, pode ser em qualquer lado, abrandamos o ritmo (alguns), o que pode ser uma oportunidade incrível para o encontro. Assim como assim, agora sobra mais tempo para a oração e até para ir à missa, mesmo no verão!!

Até já!

Pe. Patrício Oliveira

Naquela noite cheguei ao fundo do poço sentado num velho banco de bar
Ele pagou a minha conta e meteu-me num táxi - não precisava
Mas Ele podia ver que eu estava a sofrer, ah, eu queria ter o nome Dele
Eu não me sentia digna de ser salva, mas ele salvou-me na mesma

E naquele dia na água em que o peixe simplesmente não mordeu
Larguei a minha vara, flutuei - estava tão quieto
Eu ouvia o meu velho... Dizendo: filho, fica quieto
Não se pode encontrar paz assim numa garrafa ou numa pílula 

De um banco de bar, para aquele Evinrude[1]
Domingo de manhã num banco de igreja
Numa barraca de caça de veados ou num campo de feno

Uma autoestrada interestadual de volta para Nashville
Num Chevrolet com as janelas abertas
Eu e Ele apenas a passear
É, às vezes.... Esteja eu à procura Dele ou não
É onde encontro Deus

 Às vezes, tarde da noite, deito-me e ouço
O som do coração dela a bater e aquela música que os grilos cantam
E não sei o que estão a dizer
Mas parece-me um hino
Não, não sou muito bom a rezar
Mas obrigado por tudo 

De um banco de bar, para aquele Evinrude
Domingo de manhã num banco de igreja
Numa barraca de veados ou num campo de feno
Uma autoestrada interestadual de volta para Nashville
Num Chevrolet com as janelas abertas
Eu e ele apenas a passear
Sim, às vezes... Esteja eu à procura dele ou não
É onde encontro Deus

 De um banco de bar, para aquele Evinrude
Domingo de manhã num banco de igreja
Numa barraca de veados ou num campo de feno
Uma autoestrada interestadual de volta para Nashville
Num Chevrolet com as janelas abertas
Eu e ele só a andar por aí a conversar...
Bem, eu faço muito isso, bem, eu faço muito isso
Porque é onde encontro Deus

_______________
[1] Marca de motores de barco

PERDER TEMPO PARA RECUPERAR O SENTIDO DO TEMPO

Esta semana partilho a voz de quem sabe bem  o que diz.

A PROPÓSITO DO JUBILEU DO ANO 2025

Editorial da Revista Brotéria de Fevereiro de 2025, do padre José Frazão Correia, SJ

Tudo, a toda a hora, em todo o lado, escreveu recentemente Stuart Jeffries[1], mostrando como nos temos vindo a tornar mais consumidores acríticos do que cidadãos conscientes. Homens e mulheres pós-moder- nos, dessacralizados e abertos, fluidos, flexíveis e irónicos, cada vez mais sofisticados e especializados, deixou de nos constringir qualquer sentido sacral originário e último que se reconheça à vida e à história. A noção de que o tempo tenha um sentido esvazia-se. Sem qualquer ato fundador, o tempo não vai para lado algum; sem sentido anterior ou exterior a cada indivíduo e às dinâmicas sociais, simplesmente corre, e nós corremos com ele ou atrás dele, constantemente atrasados, sempre com falta de tempo. Parece, por isso, poder-se ignorar a origem e o papel da memória, dispensar o horizonte e um fim último que organize sensatamente o curso do tempo. Bastará o instante presente como lugar de realização do direito à felicidade individual que facilmente se identifica com produção e consumo, competição e sucesso – num artigo publicado no jornal Público no passado dia 5 de janeiro, intitulado “Elon Musk, a parábola de um ‘génio’”, escrevia Davide Scarso que um «individualismo competitivo» se vai elevando «ao estatuto de virtude

suprema». Até para o gozo dos bens culturais passámos a usar o verbo consumir. Estranhamente, também as artes e as letras se consomem. Produzimos, portanto, e consumimos, investimos e acumulamos para crescer sempre mais. Se há progresso, é todo económico, servido pelo tecnológico. Ao mesmo tempo, lamentamos não ter o suficiente. Nunca basta o que temos. Na saúde, na escola, na justiça, na habitação, na defesa… faltam sempre recursos económicos. Entre nós, esta narrativa contabilística e utilitarista parece gerar, hoje, mais consenso do que a causa da qualidade da democracia, da fraternidade que seja verdadei- ramente universal ou do cuidado da casa que partilhamos.

A experiência temporal é, porém, mais complexa e conviria salva- guardar tal complexidade como forma de cuidado da humanidade que nos é comum e dos seus ritmos mais elementares. Hoje, esta poderia ser mesmo uma parcela muito relevante do contributo que o universo religioso, de modo particular o judaico-cristão, poderia oferecer para o bem comum – pena é que, tantas vezes, a palavra pública dos crentes afunile no registo, ora moralizante, ora espiritualizante, e não cultive suficientemente nem consiga expor de forma significativa a sabedoria prática sobre dinâmicas humanas elementares acumulada ao longo de gerações e o seu alcance político.

Entre o tempo do trabalho e o tempo livre, entre o tempo produtivo e o tempo de descanso, há um outro tempo, com uma sabedoria e uma lógica próprias: o tempo festivo, aquele em que, com outros, de modo festivo, precisamente, se perde tempo para recuperar o sentido do tempo. Fazer memória e projetar, religando à verdade da existência, é a função do tempo festivo. Sem esta ordem terceira do tempo, o carácter binário do trabalho e do tempo livre, a que, desde o início da industrialização das nossas sociedades, a lógica do tempo tem vindo a ser reduzida, facilmente degenera, o primeiro, em necessidade funcional e imposição externa da qual não se pode escapar e, o segundo, em fuga temporária do trabalho opressor e procura de divertimento evasivo.

Não podendo o ser humano decidir o próprio início e não tendo total domínio sobre o seu destino, a festa põe de novo em contacto com a bondade e a gratuidade da origem e da promessa das coisas últimas. Faz-se memória grata do mais essencial e necessário para relançar o futuro na confiança. A existência – o tempo e a natureza, as relações e o amor e os outros bens elementares sem os quais não vivemos bem – é recolocada no registo do dom, aquém e além do mero acaso, da produção, do comércio, da conquista. A verdade passa por aqui. Por- tanto, a razão também. A graça é mais originária do que o mérito, o gratuito precede o conseguido, ter recebido vem antes de poder dar, partilhar é mais originário do que comerciar.

Como explica o teólogo Armido Rizzi, perante a dureza da necessidade que o trabalho pode exprimir e o caráter alienante que o tempo livre tende a exibir, a festa recoloca a vida no horizonte da gratuidade do necessário, da necessidade do gratuito, da beleza do essencial.[2]Consequentemente, da responsabilidade pelo dom recebido e do dever da partilha. Por isso, a festa é mais lugar de compromisso ético do que lugar de êxtase estético.

Neste sentido, ainda nas palavras de Rizzi, «a dimensão estética não salva o mundo. O homem que se reconhece na festa bíblica diz que a beleza será o mundo salvado, mas não será a beleza a salvar o mundo. Será antes a responsabilidade pela justiça e pelo amor que o salvará».[3] Reconhecer e acolher a vida como dom, gera gratidão, reforça laços e responsabiliza pelo que é comum. Com outros, porque a festa é estruturalmente comunitária, recorda-se, louva-se, agradece-se e assume-se responsabilidade por um bem originário e promissor, uma dádiva primeira, incondicional e permanente que tudo traz à vida e que tudo mantém em vida. Suspendendo ciclicamente por momentos o fluir inexorável do tempo e a ação produtiva no espaço, recupera-se da tentação existencial ao esquecimento, à inveja, à ingra- tidão, à demissão.[4] Ao interromper o trabalho e ao dar uma fisionomia própria ao descanso, o tempo festivo celebra a vida gratuita, própria e alheia, recuperando o que lhe é mais elementar e necessário. Assim se assume responsabilidade por ela.
A beleza que a festa celebra é a do mundo salvaguardado – salvo pelo cuidado, assim mesmo.

Este longo preâmbulo vem a propósito do Jubileu que a Igreja Católica celebra ao longo de 2025, porque é com a lógica do tempo sensato e com a forma responsável como se age no tempo que o Jubi- leu tem a ver. Este ano, trata-se do 27º Jubileu Ordinário, que, desde o século XV, acontece de 25 em 25 anos, tendo sido o primeiro procla- mado em 1300.[5] O Papa Francisco convocou-o a 9 de maio de 2024 com a Bula Spes non confundit e quis pô-lo, precisamente, sob o sinal da esperança que não engana. As “portas santas” que se têm aberto desde o início do ano ficam como símbolo performativo de passos coerentes de conversão e de passagens promissoras.

Com a santificação do domingo, o primeiro dia da semana, a tradição cristã retomou a tradição hebraica que identificava o sábado como o centro do tempo semanal (há um dia em que não se trabalha, se abstém de produzir e de comerciar e se consome o que se produziu antes), a páscoa como centro do tempo anual (Deus criador age na história salvando), o jubileu como centro da sucessão das gerações (de 49 em 49 anos – 7x7 –, vive-se um tempo em que a terra, da qual Deus é o único senhor, repousa e os escravos readquirem a liberdade). Invenção medieval, o Jubileu cristão recupera e repropõe para o ciclo de uma geração a lógica semanal do sábado/domingo que é outra em relação à da posse e da produção, da conquista e do mérito, do crédito e do débito. A graça – a abundância, a gratidão, a gratuidade – diz o sentido do tempo e pode dar uma forma justa à vida individual e coletiva. Viver bem o presente com outros, sobre a terra recebida como casa, pede memória do bem recebido, arrependimento do mal praticado – recuperando a lógica do dom, abre-se espaço para o perdão pedido e concedido –, projeção do futuro como promessa.

É muito o que se joga no Jubileu como tempo extraordináriopropício para que a forma ordinária da vida se confronte criticamente com a avidez da posse e a obsessão do crédito e recupere o dom e o perdão como seu princípio e fundamento. Será um propósito ingénuo, sem alcance social e político, atendendo às grandes lógicas que determinam a geopolítica mundial e a nossa vida coletiva? Não seria certamente se, como apela o Papa na sua Bula, levasse a atender convenientemente à causa dos doentes e dos idosos, dos migrantes e dos pobres, das dívidas públicas dos países mais pobres e das penas dos reclusos. Mas, mesmo que tal não acontecesse, voltar a considerar a gratuidade do necessário, a necessidade do gratuito, a beleza do essencial é uma necessidade para permanecermos humanos, responsabilidade à qual, cada um ao seu modo, não deverá renunciar.

Paul Krugman, prémio Nobel da Economia em 2008, despediu-se recentemente da coluna que teve durante 25 anos no The New York Times, escrevendo sobre como encontrar esperança numa era de res- sentimento. Também na economia mundial, na política internacional, no conserto das nações, parece importante manter aberta a porta da esperança. A lógica do dom e do perdão que o tempo festivo retoma e celebra poderá orientar os passos que é preciso dar para a atravessar. O Jubileu oferece um tempo oportuno.


Padre José Frazão correia, SJ

_____________________________________

[1] Lisboa: Zigurate, 2024. 

[2] Cf. Il problema del senso del tempo. Tempo, festa, preghiera
(Assis: Cittadella, 2006), 75-84.

[3] Ib., 81.

[4] Cf. Andrea Grillo, Tempo graziato. La liturgia come festa
(Pádua: Messaggero, 2018), 39.

[5] Cf. Bula de Proclamação do Jubileu Ordinário do Ano 2025, Spes non confundit, de 9 de maio de 2024. Para uma breve resenha histórica dos jubileus, veja-se: https://www.iubilaeum2025.va/pt/giubileo-2025/ giubilei-nella-storia.html

 

Gente como a gente

Julho traz consigo várias memórias de santos que trazem consigo histórias de gente humana, normal, “gente como a gente” e que as circunstâncias da vida me têm feito para eles de uma forma nova.

Ontem foi o Tomé, hoje nossa querida Isabel, o Tiago lá para o fim do mês, a Maria Madalena, os amigos de Jesus Marta, Maria e o Lázaro. Não vou esconder, rever The Chosen tem ajudado muito neste novo olhar sobre aquilo que conhecemos. Vejam!

O amigo Tomé e o Evangelho deste domingo enquadram-se muito bem. O João usou de forma muito habilidosa a história de Tomé para humanizar a mensagem de Jesus. O tal que era o Dídimo, gémeo, já sabemos, de todos nós, da nossa humanidade e da nossa miséria também, dá voz a todo um conjunto de sentimentos, questões que todos colocamos e que provavelmente temos medo de verbalizar em voz alta.

Mostra-nos o Pai. Como é que havemos de saber o caminho? Ou até um certo espírito adolescente/inconsequente: vamos também para morrer com Ele!

Na verdade, parece, à primeira vista, que sempre que ele abre a boca, é cada tiro cada melro.

Mas não é verdade. Somos nós ali espelhados e ainda bem.

Porque somos frágeis, hesitamos, duvidamos, porque queremos que nos faça sentido, nem é perceber tudo, mas que faça sentido.

E estes santos deste mês trazem carne como a nossa.

Hesitaram, questionaram, mas não desistiram de ir mais além, mais longe até no caso do Tiago.

Esta semana o evangelho manda-os em Missão com o poder e a autoridade de Jesus, capazes de fazer milagres, curar, expulsar demónios. Mesmo não entendendo, sentiram que era possível serem extensão da autoridade de Jesus.

Tomé queria ver as marcas, as chagas para acreditar. E quem não?

Hoje a missão é a mesma, o envio continua, os milagres são noutro nível, mas não menos reais e transformadores.

Hoje o desejo secreto de querer ver os sinais da Paixão continua bem presente e compreensível, o que muda são os sinais. Já não se trata de ver chagas, feridas da lança. Hoje a missão é mostrar ao mundo sinais de vidas transformadas. Gente normal, frágil, falível, mas que não desiste de ser mais, melhor, de querer ser por inteiro.

Gente que enfrenta o dia com a certeza da Misericórdia do Pai e que encontra a sua Paz no regaço do Pai. E a nossa paz repousará sobre o Mundo.

Pe. Patrício Oliveira

Eu vos chamo amigos. Paróquia viva, padre morto

Em dia de Sagrado Coração de Jesus, as notícias de longe trazem as palavras do Papa Leão (que me parece arrancou com força, vigor e unção, dá gosto ver uma recepção quase de rock star à sua chegada), esta semana decorre o Jubileu do Clero, li com agrado muito do que nos foi chegado e dito pelo Papa, partilho convosco:

 

“Por ocasião do Jubileu dos Sacerdotes, o Papa Leão XIV se reuniu com milhares deles no Auditório Conciliação, o título do evento é “Sacerdotes Felizes” e foi a partir daí que o Pontífice fez sua reflexão, inspirado no capítulo 15 do Evangelho de João: “Eu vos chamo amigos”.

Para o Pontífice, essas palavras não são só uma declaração afetuosa aos discípulos, mas a chave de compreensão do ministério sacerdotal. 

“O sacerdote é um amigo do Senhor, chamado a viver com Ele uma relação pessoal e de confiança, nutrida pela Palavra, pela celebração dos Sacramentos e pela oração cotidiana. Esta amizade com Cristo é o fundamento espiritual do ministério ordenado, o sentido do nosso celibato e a energia do serviço eclesial ao qual dedicamos a vida. Ela nos ampara nos momentos de provação.”

O Pontífice pediu então um novo ímpeto missionário. “Vê-se quando alguém crê: a felicidade do ministro reflete o seu encontro com Cristo.” E agradeceu aos sacerdotes pela dedicação quotidiana, principalmente nos locais de formação, nas periferias existenciais e nos locais difíceis, com uma menção especial a quem se doou a ponto de entregar a vida, derramando o próprio sangue.

“Obrigado por aquilo que são! Porque lembram a todos que é belo ser sacerdote, e que todo chamado do Senhor é, antes de tudo, um chamado à sua alegria. Não somos perfeitos, mas somos amigos de Cristo.”

E acrescentou:

“Muitas vezes, quando precisarem de ajuda, procurem um bom ‘acompanhante’, um diretor espiritual, um bom confessor. Ninguém aqui está só. E mesmo que esteja trabalhando na missão mais distante, você nunca está sozinho!”

É difícil concordar mais com ele.

Mas por outro lado, não queren doeu ser ave agoirenta, uma parte de mim fica incomodada com tudo isto. Guardo habitualmente estes pensamentos, porque ninguém é bom juiz em causa própria e tenho bem com que me entreter sem ouvir dizer que estou a lamentar-me e a fazer-me coitadinho. Mas, se ninguém nada, ninguém saberá e se ninguém souber o outro lado, as coisas nunca mudam. E quero muito partilhar convosco de forma positiva. E por isso peço a vossa paciência e caridade. 

É pedido muito ao padre e a gente sabe e a coisa faz-se. Mas desgasta. E pesa. E estes dias e estas palavras bonitas pesam de modo particular nestes dias. Porque em Roma tudo é belo, a pizza, a pasta e as palavras sentidas e genuínas do Papa.

Mas e de volta a “casa”? Todos concordam também! Desde que o padre não falhe com nada do que é costume. Acho que não conheço um padre que consiga gozar os dias todos de férias. E atenção que sei que há quem tire mais, mas a esses tenho pouca vontade de os conhecer.

O nosso Leão lá nos recorda a importância da oração. Mas a ele não lhe aparece gente na sacristia a pedir para confessar 5 minutos antes da missa, nem lhe pedem para acrescentar intenções já alinhado com os acólitos no corredor central.

E todos sabem que é maçador e que já não são horas, mas foi um imprevisto, foi o estacionamento, foi só desta vez. E desde que a cara esteja sorridente o padre aguenta-se e deve fazer cara feliz, mesmo que a sua oração tenha sido interrompida e seu tempo roubado.

Faz parte? Faz.

Um homem aguenta? Aguenta.

É caminho de santidade? Sim.

Se calhar tenho de fazer de outra forma, não é?

Dir-me-ão: faz como Jesus, e vai de madrugada.

Sim, mas a reunião acabou às 23h30 na véspera. “E o padre deve descansar! E cuidar de si! Durma! Descanse pelo menos 7/8 horas por dia.”

O dia parece-me curto para tanta coisa que os padres deviam fazer.

Os padres andam cansados. Exaustos. E honestamente boa parte do cansaço vem justamente da incapacidade de ser fiel aos cuidados que o Papa tão bem recomenda. Empurramos com a barriga (a famosa barriga de padre) a vida pessoal, de oração, de descanso, para tentar chegar a todo o lado.

E ainda precisam encontrar um sorriso quando surgem as cobranças disfarçadas de humor, porque não passou na cozinha da festa; porque só liga à família entre reuniões; porque não respondeu ao SMS que foi enviado de madrugada; ou porque já não interaje no grupo do Whatsapp (são só perto de 100 grupos, e dezenas de sms diárias, há notificações que chegam a atingir 150 sms num dia).

E vou ser muito honesto: dói a cobrança. Porque todos entendem, mas esperam que faça o que um jeitinho. Às vezes falta um bocadinho de empatia e “empatizando com o padre” aceitar fazer de outra forma.

E os padres desfazem-se para dar o jeitinho, até que não conseguem e os sorrisos se apagam, porque são todos iguais e os melhores “vão sempre embora, não é sr. Padre Patrício? (sim, disseram-mo e eu sem saber que dizer sorri. Porque já dizia o doutor Branco a propósito das piadas: quem não entendeu riu, quem entendeu apenas sorriu).

 Disse a semana passada que o Corpo de Deus é a sua igreja, somos nós!
Hoje, que celebramos o Sagrado Coração de Jesus e o seu Amor por nós, a igreja precisa de aprender a ser essa presença amorosa, também na vida dos padres.
E não é ser coitadinho e nem estar à espera de convites para jantar e palmadinhas nas costas.

Querem que um padre se sinta amado? Sem proactivos. Rezem por ele e digam-lho! Rezem por ele e com ele.  Sejam criativos, tragam ideias, ajudem a pensar a paróquia, sonhem com ele a Visão da Paróquia. Esqueçam de uma vez por todas o “o senhor padre é que sabe, o que achar melhor é que se faz”. Os padres não chegam para tudo. As soluções precisam vir de todo o lado.

Há muito colegas à beira do burnout. No brasil os números são assustadores. A quantidade de padres que cometem suicídio é tremendo. Num ambiente que é tradicionalmente bem mais caloroso em torno do padre.

Querem cuidar do padre sejam Igreja. E não cobrem, ajudem a construir e a ser esta presença amorosa do Coração de Jesus no Mundo. Apontem soluções, desafiem a caminhos novos.

 Diziam-me esta semana a propósito das olheiras: “lá diz o ditado: paróquia viva, padre morto”, será que não conseguimos fazer de outra maneira?

Uma comunidade viva transforma o mundo e alimenta o padre, podem ter a certeza
Ser padre tem sido a aventura de uma vida, e vai para lá de qualquer sonho ou imaginação.
Mas precisa ser bem feito. E precisa de ajuda.

Penso que o foco nem é tanto o cansaço, é o desgaste. Aqui na Marinha vocês entendem bem esta linguagem, as máquinas têm partes que são de desgaste rápido, precisam ser bem lubrificadas para que o desgaste não seja antecipado.

No padre será a oração, o cuidado próprio, a unção do Espírito recebido na ordenação e renovado na sua própria entrega, mas também a comunidade, o suporte de não estar sozinho na missão. A certeza que sendo chamado a uma missão tão especial, não está de facto sozinho tem uma multidão celeste e humana consigo.

Pe. Patrício Oliveira

Mínimos Olímpicos

Ninguém gosta de obrigações, nem de fazer o que seja por obrigação. Movemos mundos e fundos por alguém, damo-nos sem medida e sem pesar o cansaço quando é oferta gratuita, dom da nossa generosidade, sinal do carinho e do amor que nos une aos que nos são queridos. Mas, obrigatório? Bem chegam os impostos!

Sinto que esta é uma das maiores lutas que a Igreja enfrenta. Educar pelo obrigatório, pelo que sim, que se traduzia no famoso: “enquanto viveres debaixo do meu teto fazes o que eu te mandar”. Cria imunidade. E podemos bem ter imunizado demasiadas gerações.

Mas o contrário também não é bom, uma vez mais, no meio estará a virtude. Porque ele há dias de manhã que uma pessoa se precisa obrigar, a sair da cama, a enfrentar o dia e a vida. Se esperarmos por inspiração, que esteja mesmo a apetecer, então não vamos longe.

Ouvi o Joe Rogan dizer que não é a inspiração que nos move e que nos alcança sucesso, é a disciplina. Ele falava do seu programa de treino “Há dias em que acordamos cheios de energia, com vontade e o treino é óptimo e corre bem. Mas esses dias são a minoria. Na esmagadora maioria dos dias, não apetece, estamos cansados, temos sonos ou outra desculpa válida. É a disciplina que faz a diferença”.

De algum modo, somos nós que abraçamos a obrigatoriedade na medida em que percebemos que para chegar mais longe, temos que nos colocar a caminho.

É este salto interior que sinto que falta à nossa catequese, à nossa pratica dominical. De algum modo somos capazes de fazer uma lista de coisas que temos que fazer em ordem a ser católico comprometido e regular (o que quer que seja isso).

Diz o Catecismo:

II. Os preceitos da Igreja

2041. Os preceitos da Igreja inserem-se nesta linha duma vida moral ligada à vida litúrgica e nutrindo-se dela. O carácter obrigatório destas leis positivas, promulgadas pelas autoridades pastorais, tem por fim garantir aos fiéis o mínimo indispensável de espírito de oração e de esforço moral e de crescimento no amor a Deus e ao próximo. Os preceitos mais gerais da Igreja são cinco:

2042. O primeiro preceitoOuvir missa inteira e abster-se de trabalhos servis nos domingos e festas de guarda») exige aos fiéis que santifiquem o dia em que se comemora a ressurreição do Senhor, bem como as principais festas litúrgicas em honra dos mistérios do Senhor, da Bem-aventurada Virgem Maria e dos Santos, que a Igreja declara como sendo de preceito, sobretudo participando na celebração eucarística em que a comunidade cristã se reúne e descansando de trabalhos e ocupações que possam impedir a santificação desses dias (86).

O segundo preceitoConfessar-se ao menos uma vez em cada ano») assegura a preparação para a Eucaristia, mediante a recepção do sacramento da Reconciliação que continua a obra de conversão e perdão do Baptismo (87).

O terceiro preceitoComungar ao menos pela Páscoa da Ressurreição») garante um mínimo na recepção do Corpo e Sangue do Senhor, em ligação com as festas pascais, origem e centro da liturgia cristã (88).

2043. O quarto preceitoGuardar abstinência e jejuar nos dias determinados pela Igreja») assegura os dias de ascese e de penitência que nos preparam para as festas litúrgicas e contribuem para nos fazer adquirir domínio sobre os nossos instintos e a liberdade do coração (89).

O quinto preceitoprover as necessidades da Igreja, segundo os legítimos usos e costumes e as determinações») aponta ainda aos fiéis a obrigação de prover, às necessidades materiais da Igreja consoante as possibilidades de cada um (90).

 

Simples. Mas deixa-me cheio de comichão que isto seja os “mínimos olímpicos” pedidos. Então mas a gente agora contenta-se com os mínimos? Temos os miúdos aí de volta de exames e notas, ficamos felizes porque eles fizeram o mínimo ou queremos que se superem e possam alcançar o seu maior potencial?

Onde é que o padre quer chegar com isto, pergunta o leitor mais assíduo e perspicaz.

À vida sacramental, a Eucaristia (também como estilo de vida), a Confissão, a oração.

Agora que presido a todas as missas, sinto mais falta de pessoas. Até aqui achava que tinham ido à missa do padre Jorge.

E não se trata de apontar dedos, embora sinta falta dos acólitos todos e dos catequistas, e daqueles que me estão a mandar sms a dizer que vão a Fátima ou a outra que deu mais jeito.

A questão é que fazem falta na Missa e na Eucaristia (para quem ouviu no Corpo de Deus) da comunidade.

Não penso na questão da presença, ou da contagem de presenças. Mas na riqueza de uma Eucaristia que é da comunidade. E uma comunidade que quer mais que cumprir preceito.

Uma comunidade que cresce junta, porque entende a importância do laço, do estar presente. Mais do que ir à missa, cumprindo o preceito certinho, mas comprometendo a sua vida, o seu tempo, o seu dom na construção de algo especial aqui no nosso cantinho.

Acho que no fundo me incomoda a facilidade com que não sentimos falta de ir semanalmente, ou nos outros dias de preceito.

Não porque é obrigatório, mas porque me faz falta.

Porque mais do que tem de ser, é o “faz-me bem”.

Gente comprometida com o seu crescimento espiritual, humano, a sua relação com Deus, que se recusa perder uma oportunidade, de encontro, de Graça. Porque somos mais do que o que nos apetece, queremos ser aquilo que Deus sonhou para nós: Santos, inteiros, missionários.

E justamente quando o tempo escasseia, a vida parece virada do avesso, com turnos e actividades, o preceito semanal, traz ordem à vida. A semana organiza-se em torno da participação. Não porque é obrigatório, mas porque é saudável, porque queremos ser donos do nosso crescimento e não nos satisfazemos com migalhas.

Queremos fazer o mínimo para que o coração se alargue e dê espaço ao desejo do máximo, à medida do amor de Deus que morreu na cruz por mim e por cada um de vós.

 

Pe. Patricio Oliveira

Sagrado Coração de Jesus que tanto nos amais

Junho é tradicionalmente marcado como o mês dedicado ao Sagrado Coração de Jesus, uma devoção que nos convida a contemplar profundamente o amor insondável de Cristo pela humanidade. Este tempo especial é uma oportunidade para renovarmos nossa fé, reavivarmos nossos compromissos espirituais e nos aproximarmos da fonte inesgotável de misericórdia e compaixão.

A devoção ao Sagrado Coração de Jesus nasceu da revelação privada recebida por Santa Margarida Maria Alacoque no século XVII. Durante essas aparições, Jesus pediu que Seu coração, cheio de amor pela humanidade, fosse venerado e que a devoção fosse propagada como forma de consolo ao Seu Coração ferido pelos pecados do mundo.

O coração de Cristo, cercado por chamas e coroado de espinhos, simboliza os sacrifícios feitos pelo Salvador para resgatar a humanidade. É um sinal do amor ardente e infinito de Cristo, que sofreu e morreu para nos redimir, e também representa o convite à reparação e ao compromisso com Ele.

 Tradicionalmente é também vocacionado para oração pelo clero, Bispos, padre e diáconos de modo muito especial pela santificação dos sacerdotes. Na nossa diocese por convite do nosso bispo celebramos o jubileu dos Sacerdotes no dia do Sagrado Coração de Jesus que será este ano no dia 29 de Junho em Fátima.

Pessoalmente penso nos padres que conheci antes de ser colega deles, recordo, com cada vez maior respeito, o falecido padre Manuel Ferreira – o único pároco que conheci até aos 16 anos, quando a Marinha mandou o padre Sérgio lá para Caxarias, terra de missão; e o padre Zé Luís que sempre me pareceu mais jovem que os jovens que acompanhava, mesmo quando lhe consegui ganhar os famosos 5€ no jogo das entrevistas.

E agora que sou colega deles todos, os que ainda cá andam, que o número reduziu assustadoramente, olho para eles, colegas, professores, amigos, que apreensão. Há cansaço. Nalguns há até desânimo, desencorajamento. Não só porque as forças vão faltando, mas também por uma má escolha de estratégia no decurso do ministério. Talvez porque a missão é mais desafiante neste mundo novo que teima em crescer e desenvolver demasiado rápido, para as nossas capacidades e até para a nossa saúde mental – dos padres e dos leigos.

Pelo que este ano me tocou de forma especial este desafio/convite a rezar pelos padres, a fazermo-nos presentes na sua vida, a suportar. Talvez seja dos 40 ou de assumir esta tarefa de Vigário, aumentou a minha sensibilidade, mas também a minha compreensão da realidade.

Sobretudo porque, e era aqui que queria chegar, não são só os padres que andam marafados pois não? Há um padrão semelhante nas famílias. Nos jovens que procuram perceber o seu lugar no mundo, os que são crismados amanhã e os outros todos.

Também os casais, que no meio disto tudo, parecem, como dizia um amigo padre: 2 carris do comboio, que se estendem paralelamente e nunca se cruzam, fora os que derivam e que criam um vazio entre eles.

O curioso é que os padres fazem o mesmo consigo mesmo! Parece que é um erro de software que a humanidade tem.

No dia em que fui ordenado, procurei refúgio no adro da Sé para ganhar coragem. Chovia torrencialmente e o barulho da chuva abafava o cavalgar do meu coração. Fui abordado por um padre que tinha abandonado o ministério há vários anos. Abordou-me com os olhos a chorar mais que o torrencial que se abateu em Leiria naquela tarde: “- Nunca te deixes isolar, nem ficar sozinho”.

De onde estou é o que vejo mais, gente sozinha, afogada em responsabilidade, boa-vontade e desejo de chegar a todo lado. Gente que engole para não incomodar. Que guardam para si, não como Maria, mas para silenciar e não incomodar. E o vazio aumenta no coração dos padres e no distanciamento dos casais que procurar desesperadamente chegar ao outro, mas que se sentem em planos diferentes, pelo que parece virtualmente impossível tocarem-se novamente.

Neste mês do Sagrado Coração desejo que sejamos todos capazes de ver nele um porto seguro, onde respirar, recuperar o fôlego e a coragem. Sonho que nos possamos sentir fortalecidos e inspirados por Ele. A Amar sem medida, sem medo e sem perder a coragem nem desistir.

Ao longo do mês de junho, que possamos deixar nossos corações serem moldados pelo amor do Sagrado Coração de Jesus. Que cada oração, cada gesto e cada pensamento sejam permeados pela graça divina que emana do Coração do Salvador. E que, unidos em fé e devoção, vivamos como testemunhas vivas do amor de Cristo no mundo.

Que o Sagrado Coração de Jesus abençoe e proteja cada um de nós, hoje e sempre. Amém.

Pe. Patrício Oliveira

Partida, largada, mas nunca fugida

O domingo de Pentecostes marca, se é que se pode dizer assim, o início da Igreja.

Jesus tinha dito que ficassem na cidade até receber o Espírito Santo, agora é o momento da chegada. Chega Aquele que nos há-de ensinar todas as coisas e recordar o que Jesus ensinou. Com Ele, inicia o maior dos movimentos da história da humanidade. Começou com 12 apóstolos, 72 discípulos e mais uns curiosos e não parou mais. A promessa era que A Boa nova fosse levada até aos confins do Mundo e o mundo ainda não parou de crescer. O universo está em expansão acelerada (para saber para onde, podem perguntar David Sobral).

Significa que estamos numa aventura que não tem fim, os quarentões recordar-se-ão da Never Ending Story - História interminável (1986). E sim, pode parecer uma tarefa hercúlea, demasiado grande para a nossa fragilidade, mas Ele ensinará, capacitará e auxiliará (ou Paraclitará!), é essa a promessa. A nós é pedido que nos mantenhamos unidos, preparados, em saída. Conscientes do peso, mas sobretudo da importância da Missão.

Não é demais repetir: a Missão é que tem uma Igreja. E “uma Igreja que não serve, não serve para nada”. Impõe-se reaprendermos as prioridades, o foco, unidos “como Eu e o Pai somos”, conscientes que ninguém se salva sozinho, é uma corrida, mas não entre nós, talvez connosco mesmo, mas os outros não são o inferno – os outros são os irmãos que trilham o mesmo caminho, que buscam a mesma meta. São simultaneamente o objeto da missão e os colaboradores.

Há alguns anos que para nós expressões como Renovação Pastoral são familiares na nossa paróquia e agora também na Diocese, nas vigararias e nas unidades pastorais.

É sempre o mesmo desafio, a mesma corrida: a redescoberta da motivação que nos leva a correr (como atleta que percorre alegremente o seu caminho) mas, sobretudo, o para onde e para quê.

Dizem que quem corre por gosto não cansa. Desconfiei sempre muito dessa gente, sinto sempre que é gente que só corre de ver os outros. Esta Missão que nos foi confiada é exigente, dura, exige, consume energia. E sim, é natural que andemos cansados, seja pelo “fardo da missão”, seja porque não corremos com o devido cuidado e cabeça, ou porque corremos por correr de forma desengonçada.

Sonho com uma igreja missionária. Uma igreja que pensa em conjunto. Uma igreja sinodal que sabe que a sua voz é ouvida, mas sobretudo necessária.

Dou por mim a sentir que muitas vezes, muitos dos nossos processos de escuta, de pedidos de opinião são em jeito do Luís de Matos. Sempre que alguém como ele diz escolha uma carta, uma carta qualquer, é sempre mentira! A carta está a ser forçada, ou a nossa escolha conduzida.

Mas essa é também a postura mais fácil, porque nos retira a responsabilidade.

Eu sonho com uma igreja que ajude a construir o baralho. Se sinta responsável.

Sonho com uma paróquia de pessoas que vêm porque querem ajudar a salvar o mundo e os irmãos e não só a si mesmos.

O processo de renovação passou da Marinha, para a Diocese e a agora retorna de modo especial à Vigararia. O nosso Tartan está me constante mutação, e agora alarga-se à Maceira, a Pataias e Alpedriz. Em tempos de escassez de padres, urge encontrar novos processos, partilhar esforços e ideias.

Vamos confiantes e imploramos a ajuda daquele que virá recordar e ensinar tudo o que precisamos.

O tiro de partida é antigo, mas sempre novo e empurra-nos para a frente, determinados, sem medo, com um coração alicerçado neste Senhor Jesus, seguros de que quando o invocamos ele conduz e inspira.

A meta? A meta é o Céu que havemos de construir aqui na Terra.

Pe. Patrício Oliveira

Problema de expressão

Há semanas que habitam no meu coração um conjunto de situação que gostaria de partilhar com a comunidade. Acho que iniciar estes editoriais foi o concretizar desses pensamentos. Uma forma de proximidade, de partilhar de passar algumas preocupações, perspetivas, que não apenas na homilia.

Há uns dias, na Assembleia do Clero, um padre partilha que chegámos ao ponto de reduzir a oração à missa. E eu penso o mesmo em relação com a relação/interação com o padre. Vocês são muitos, gente boa, mas muitos, tenho a certeza de que há pessoas, de missa semanal, com quem não tive oportunidade de conversar, seja por que motivo ou circunstância seja (e não tem mal! Mas também é verdade que fui correr no sábado e como me enganei dei por mim no meio do mercado, e senti-me uma vedeta, metade eram paroquianos).

Tem sido cada vez mais claro que o modelo tradicional de Paróquia está a ficar desatualizado, a nossa raiz é muito rural, próxima, na medida de pequeninas comunidades, onde todos estão dentro do assunto e sabem como agira, fazer e estar.

O tradicional:

-  “Quanto é Sr. Padre?
- “não é nada”,

Costumava ser seguido por “então fica aqui isto para a paróquia”. Agora o nada é nada!

Por outro lado, aí do padre que cobrasse o que quer que fosse por algum serviço, ou taxa por documentação. Mas o povo dava, porque sabia que as despesas nãos e pagam sozinhas.

Mas agora? Agora o nada é nada, e se cobrarmos, pagam.

Estamos a cair na prestação de serviços? Será tema lá mais para a frente.

Sinto que é a comunicação que falhou, há muita informação que não passou para a geração seguinte.

Ainda hoje uma catequizanda, que fará o crisma nos próximos dias, me perguntava o que escrever na ficha de inscrição onde dizia: “centro de catequese”. Não direi que me convidou para padrinho, para não dizer que foi a princesa. Mas a culpa não é dela, é nossa, que achamos que ela sabe porque foi sempre assim! E depois nos surpreendemos.

Os funerais são outra situação dolorosa, aí sim caímos na prestação de serviços.

Quando o telefone toca e ouço “é para marcar um serviço para amanhã” morro um bocadinho por dentro. Pior fico quando pergunto quem é e a resposta é “não sei que a família ainda não veio falar connosco, estou só a adiantar serviço”

Meus amigos, já me aconteceu desmarcar funerais. Um, porque o senhor afinal não tinha morrido, outro porque afinal a família não queria celebração religiosa.

Já me marcaram funerais de não católicos. Não há muito tempo soube de uma família que veio porque, tendo a funerária sido proactiva e marcado o funeral rapidamente comigo, não tiveram coragem de dizer que não queriam. E lá vieram sem saber fazer o sinal da cruz que fosse.

A família perguntar se sou da funerária também acontece, mas é divertido.

Mas custa quando chegando à celebração percebo que a família é conhecida, e tem o meu contacto, e o da irmã e o do cartório.

Custa dizer à funerária que não haverá custos do funeral porque a família é paroquiana, ativa e assídua, e 2 semanas a mesma família vir perguntar quanto deve.

Isto para dizer uma coisa simples: “quando precisarem de um padre, liguem-me 917 541 756”.

Tratem com quem é o responsável.

As missas de sétimo dia quase desapareceram, porque com as mudanças e não havendo missa todos os dias, a funerária já não a marca automaticamente. Ou então marcam para dias em que não há sequer missa.

A newsletter dá imenso trabalho, os avisos em papel, entregues em mão, para que todos possam estar a par dos horários, das actividades.

O cartório tem duas tardes, o site da paróquia tem opção de agendamento a algumas segundas-feiras do mês, e estamos a trabalhar para que se possa agendar mais horas e mais facilmente.

“- ah e tal mas isso é para os novos”, toda a gente tem Facebook e um neto!

Quem sabe se os crismandos não querem fazer parte de um departamento de comunicação da paróquia e criar um da vigararia.

É uma cidade sim, mas é uma terra pequenina, é fácil encontrar o padre.

Sendo apenas um, os afazeres, as responsabilidades, aumentam, o tempo é curto para tudo.

Começa a ser difícil o modelo tradicional de estar à espera de quem passe.

Porque na verdade, estou duas tardes com a irmã e ainda tenho que dar mais umas horas extra para processos de casamento e atender quem não pode passar de tarde em horário laboral.

O tempo para eu ser eu, para ler, rezar, não fazer nada, fica muito curto. E é um ritmo que não é saudável e não se suporta muito mais tempo que eu já não vou para novo.

Pelo que, meus estimados paroquianos do meu coração, precisamos construir uma paróquia nova, moderna, adaptada aos ritmos de vida que temos, mas que seja próxima.
Onde a proximidade de relação seja possível. Não paguem a alguém para fazer algo por vocês.
As próximas semanas trarão novidades, novas responsabilidades, novas oportunidades, precisarei da vossa ajuda para reconstruirmos uma comunidade que toca e transforma pessoas; uma comunidade que é relevante para todos nós e para a cidade.
Uma comunidade que dá respostas, oferece oportunidades; uma comunidade missionária como Jesus sonhou.

Que vos parece?´

Pe. Patrício Oliveira 

É preciso uma aldeia para criar uma criança

Este fim-de-semana há profissão de Fé, miúdos do sétimo ano, ontem foi serão de reconciliação e de dois dedos de conversa com todos.
É um exercício muito interessante, mas depressa de tornou doloroso. É muito bonito vê-los a crescer, ver as caras de meninos a ganhar traços de adolescentes. E como me lembro de vários serem bebés a fazer barulho nos carrinhos de bebé na missa, torna tudo quase emotivo.
Conversa para aqui e para ali diz-me uma: “o senhor é padre há mais anos do que eu tenho de vida” ...

Caiu-me tudo, demorei um bocadinho a fazer as contas e a retomar o fôlego.

É terreno por trilhar para mim, nunca trabalhei tanto tempo no mesmo sítio, pelo que estes records se vão acumulado dolorosamente, o que explica facilmente o ruído que os meus joelhos fazem quando subo escadas.
Ainda assim, sinto sempre como um enorme privilégio ver estas mudanças e transformações. E apesar de não ser tudo perfeito, a nota geral é muito positiva. E as conversas surpreendem pela positiva, genuinamente.

Recordei a recente viagem a Londres. Durante toda a conferência houve uma enorme insistência na necessidade e na oportunidade de pegar nesta nova geração e de os incentivar, formar, capacitar e responsabilizar. Em inglês dizem: “raise a generation” seria levantar-criar uma geração.

Falam de uma realidade que não é ainda a nossa, mas que nos é familiar.

Há uma geração, a dos joelhos que rangem já, os que já precisam ou fizeram o exame à próstata, que foram “imunizados” ao Evangelho. A sua experiência de igreja não foi feliz, talvez tenham sido crismados para serem padrinhos, mas muitos já nem baptizaram os seus filhos. Há, pois, uma geração de adolescentes que não ouviu falar de Jesus.

Nós ainda vamos vendo muitos na catequese, mas é uma pequenina percentagem. Dizia-me uma mãe há uns dias que “lá na escola serão só três ou quatro”.

O curioso do fenómeno actual, do qual nos chegam ecos mesmo no contexto católico em França[1], é que estes adolescentes têm curiosidade acerca de Deus e estão muito receptivos e à procura de respostas.

Esta semana fui contactado por um jovem, que me lembro bem de ser criança de 2/3 anos, filho de uma professora do tempo que os joelhos não estalavam, é ateia convicta e orgulhosa. Ligou-me ele porque quer baptizar a filha. “A minha mãe educou-nos e dizia aquelas coisas... mas sei lá, cá dentro houve sempre uma curiosidade”.

E agora vejo estes miúdos crescerem, tornarem-se homens e mulheres que com sorte me vão pagar a reforma, e penso que podemos olhar para o futuro com esperança.

Uma esperança talvez como a do sorriso deles: genuínos, tímidos, mas com alegria, ingenuidade, curiosidade e, inevitavelmente, cheios de enorme potencial.

Que precisam de inventivo, de alguém que caminhe com eles, com respeito, com paciência, muuuuita paciência, mas que se acredite neles.

Ontem disse em voz alta que se calhar já estou à tempo de mais na Marinha Grande. Hoje, ao pensar em tudo isto, talvez esteja à tempo suficiente para ver neles o que nem eles sabem ter: potencial, capacidade de mudar o mundo.

Neste tempo pós-moderno, em que retomamos o pré-cristianismo, somos chamados a olhar esta geração com os olhos de Jesus. Ele que olhou para Mateus e viu mais que um cobradore de impostos e um traidor da sua própria gente, viu um poeta que escreveria a sua história; Ele que olhou Pedro e para lá do temperamento, viu um líder a quem confiou a Sua Igreja;

 Ele que olha para cada um de nós e confia que seremos o seu Corpo, as suas mãos e pés, sinas do seu amor.

É com estes olhos que quero olhar para estes que agora fazem a sua profissão de Fé.
É o que eles precisam e estou certo que é o que Deus espera de nós.
O resto, Ele cuidará no seu próprio Kairós. (sim, Deus tem um tempo próprio, diferente do nosso.)

Em londres, havia uma jovem que trazia uma T-shirt que dizia: "é preciso uma aldeia para criar uma criança". Talvez seja o mesmo com os discípulos de Jesus, e seja preciso uma comunidade para erguer esta nova geração. Temos muito que fazer!

(*Imagens totalmente criadas por AI e apenas para ilustrar)
____________________________________________
[1] E logo França que já na década de 40 era vista como país de missão. La France Pays de Mission, de Daniel Godin

Um mandamento novo,
uma missão antiga como a humanidade

 

Esta semana, depois de nos dar um Papa novo, O Senhor vem ao nosso encontro com um mandamento novo, que empurra a igreja para a Missão antiga.

Do Papa novo já vimos o preço do relógio, acabo de ver notícias sobre o Papa movel que vale 500 mil dólares que a Mercedes ofereceu já ao Papa Francisco. Até esquecem que este é novo e anda bem a pé, às tantas nem precisa de papa móvel, vai bem a pé, ou de trotinete!

As tricas eclesiásticas abundam e todas as “facções” parecem querer reclamar para si o novo Papa.

Confesso que só imagino o diabo a rir-se ao ver a divisão que se manifesta no coração de tantos fiéis.

Recordo o paroquiano que me disse: “espero que seja humanista, mais que progressista ou tradicionalista”. O doutor Branco dizia-nos nas aulas que todos os “ismos” são perigosos, até o catolicismo. Pelo que eu rezo para que o Leão seja fiel ao Evangelho. Ele e nós todos.

E os que se entretém a discutir o sexo dos anjos, se preocupassem com a cura de almas, com a missão.

É disso que fala o Evangelho por estes dias da Páscoa.

Em tempos de mudança de papado, de mudanças no mundo, na nossa diocese que abraçou também um processo de renovação pastoral, bem como a nossa paróquia que procura reinventar-se e ser imagem das primeiras comunidades. Porque o tempo passa, as modas vão e voltam, mas o evangelho é o mesmo. E a Missão também.

O evangelho é dado a redundâncias curiosas, Mateus diz que Jesus mandou ir e ensinar, baptizar e ensinar (sim, duas vezes, porque são duas coisas distintas: evangelização e mistagogia).

Esta semana temos outra: “que vos ameis uns aos outros. Como Eu vos amei, amai-vos também uns aos outros”.

Não é só amar, é amar como Ele nos amou.

E a avaliar pelos comentários, pelas tricas, ainda falta tanto.

Rezo para que nestes dias que antecedem o Pentecostes possamos deixar-nos tocar por estas palavras. Que os corações de tornem doceis à acção do Espírito, que no nosso esforço de sonhar a visão da nossa Paróquia futura, haja abertura de fazer o que é melhor. Que seja de serviço. Não de prestação de serviços, mas de lavadores de pés, de companheiros de viagem. Gente corajosa para escolher a radicalidade de amar como Jesus amou, lavar os pés a quem precisa.

“Porque uma igreja que não serve.... não serve para nada”

Pe. Patrício Oliveira

E se só rezássemos por ele?

Lembram-se do incêndio que nos levou a mata? E de como de repente todos os comentadores eram experts (ainda venho a falar inglês aqui no avião) na mata nacional, na reflorestação e no cuidado?

E do Covid? Em que todos percebiam de vírus e de saúde pública e álcool gel? Ainda há pessoas que não gastaram o papel higiénico que compraram todo.

Depois foi a guerra na Ucrânia e depois a de Israel, aquelas que aparecem nas notícias, as outras não contam.

Nas últimas semanas todos são experts em eletricidade e gestão de infraestruturas.

E a última moda é cardeais, conclaves e Papas. Como dizia um professor do seminário em Coimbra: “que infecção!”

Esta semana queria partilhar a aventura da Leadership Conference 25, e os sonhos e planos e projectos, mas inevitavelmente a nossa atenção ficou toda no Conclave e na Fumaça Bianca que os italianos que estavam comigo no Sky Garden gritavam (eu ia dizer que viram lá de cima, mas ninguém acreditaria).

Foi com enorme expectativa que lá nos sentámos a imaginar a cerimónia à porta fechada, a agitação da votação, o aceitar, o juramento, experimentar a batina que lhe servia melhor até ser hora de vir espreitar à janela.

Não sei se da idade, se das circunstâncias, como vi online “não me considerando eu velho, já vou no meu quarto Papa”, este processo foi-me mais próximo, parece-me que talvez até com mais informação que o do Papa Francisco.

Gostei de ver um homem sorridente, com aparente genica e, dentro da escolha: muito novo! Tocou-me profundamente ver o contraste do sorriso dos lábios, com os olhos que não sorriam, porque eram esmagados pelo peso do Mundo naquele momento.

Talvez pelo tempo Pascal, só me ocorria a figura de Jesus a preparar-se para entrar em Jerusalém sabendo que o triunfalismo era enganador (e falso!). Ele sorriu e fez tudo bem, mas as imagens em grande plano do rosto sorridente e bonito, não enganavam. De repente era o horto, e a oração de Jesus foi partilhada com ele: “faça-se a Tua vontade”.

Espero que tenha um coração de Leão, cheio do evangelho, corajoso, arrojado e dedicado.

Esta semana rezámos por ele. 5.000 pessoas, uma maioria protestante, de braços erguidos, cabeça baixa, evocou o Espírito Santo para ele, fosse quem fosse, mas que fosse da vontade de Deus.

Quando vi aquele homem que me parecia tremer como varas verdes, mas a fazer-se forte “coragem de leão”, reconheci o brilho nos olhos que vi esta semana nos tais 5.000: olhos cheios de Deus, de desejo de dizer sim, de fazer parte da missão. Olhos cheios de vontade, de sonhos, mas ao mesmo tempo, marcados pelo peso do quanto nos falta ainda fazer, o peso da responsabilidade de ser parte desta multidão chamada por Deus, que agora tem um Leão à frente.

Hoje vi que até a marca do relógio, e o valor (145 dólares) foi notícia, aguardo curioso o comentário inflamado do Trump a dizer que será o melhor Papa e que vai enviar pessoalmente um novo Papa móvel feito como seu carro presidencial. Imagino que o Manuel Luís Goucha já esteja em Roma.

Mas nós por cá, podíamos tentar deixar passar ao lado este sururu todo, poderíamos deixar o homem respirar e ter uma batina que lhe sirva devidamente e, entretanto, rezemos.

Rezemos por ele, pela Igreja. Para que o Leão seja porta-voz do sonho de Deus para a Igreja em renovação.

Pe. Patrício Oliveira

Chamados à Esperança, educados para serem felizes

Na próxima semana a Igreja vive a Semana de Oração pelas Vocações, este ano, integrando também o tema do Jubileu, temos uma espécie de Matrioskas de temas, sentido e significados, o ponto central “Chamados à Esperança”.

Diz o bispo D. Vitorino Soares:

"Chamados" traduz um alvo plural de chamamentos, que inclui a vocação laical, ao ministério ordenado e à vida consagrada, que não esquece ninguém, tendo como ponto de partida o dom da vida. Todos somos chamados à Esperança, que não se traduz numa ideia, numa virtude ou num sentimento de otimismo, mas no encontro com uma pessoa que é Jesus Cristo.  Simultaneamente, estamos chamados a ser chamadores de Esperança num palco comum, onde nos situamos como público e como atores, que o Papa Francisco traduz por Peregrinos de Esperança. A mensagem que nos enviou tem como título "Peregrinos de Esperança: o dom da vida".

Neste caminho de Esperança aponta três suportes geradores de vocações: acolher, discernir e acompanhar.

Sinto sempre que estes momentos, que infelizmente nos passam um pouco ao lado, são de algum modo afunilados na sua compreensão. De modo especial esta semana das vocações, porque automaticamente pensamos nos padres e nas freiras. A vocação laical, de que se fala logo na primeira linha, nem é bem vocação, é a normalidade das pessoas! Padres e freiras é que é diferente. Recordo o belo momento que tive no cemitério enquanto despia a túnica e ouço uma voz que dizia: “ah o senhor padre sem a bata parece um homem normal”.

Mas não sou, sou sempre anormal! Porque chamado a ser no mundo sinal da presença de Deus. sou chamado a ser especial. Eu e os outros padres, as freiras todas, os leigos consagrados e todos os que pelo baptismo se tornaram filhos de Deus.

Será esse o caminho da Esperança?

Não devíamos ter outro cuidado nesta coisa da vocação laical ser a norma?
Casar deve ser uma vocação, realizar-se num projecto comum com o cônjuge, tornarem-se um ao outro (santificarem-se) sinais do amor de Deus no Mundo, que bem precisa!
E não apenas porque é normal “e já tens idade para isso!” “não fiques para tia/o!”

- O que queres ser quando fores grande?

-Astronauta, bombeiro, médico, famoso, youtuber, DJ?

- Feliz...

Não seria assim que devíamos educar os nossos miúdos.

Lembro-me que em Maio de 2005 ao terminar o tempo propedêutico, que antecipou a minha ida para o Seminário de Coimbra, fui assaltado pela dúvida: “e se Deus quer que eu seja padre, mas não é isso que eu quero para mim?
Arrastei-me dolorosamente ao escritório do, na altura padre Virgílio, para abrir o coração, era um domingo de manhã, ali antes da missa.
Daquela vez não me disse que andava aos pinotes, nem fez pouco de mim por não saber onde ficava o Serro Ventoso (sim, tenho traumas mal resolvidos com ele), acolheu-me com um grande sorriso e fez-me sentir acolhido. E explicou-me que o que quer que seja que Deus sonha para mim vai coincidir sempre com a minha felicidade.

Passam agora 20 anos, já dêmos os dois grandes voltas, cambalhotas e pinotes e eu recordo ainda a mesma frase.

Curiosamente, esta semana perguntaram-me se eu sou feliz. Sou. Meio amassado, porque me importo, mas sou.

Nesta semana, rezo para que sejamos capazes de transmitir aos nossos miúdos esta mesma certeza, que Deus nos chama a ser felizes, portadores de esperança. E que cada passo, seja qual fora a direção, deve ser ponderado, como chamamento, porque Ele quer sempre a nossa maior felicidade. Seja padre, freira, casado ou solteiro. Seja sempre o serviço, o amai-vos uns aos outros a comandar.

Pe. Patrício Oliveira