Santíssima Trindade: Unidade no Amor

Neste domingo, 15 de junho, o primeiro após o Pentecostes, a Igreja celebra a Solenidade da Santíssima Trindade.

A palavra “Trindade” tem origem no latim e significa “três” ou “tríade”. O primeiro uso reconhecido do termo em sentido teológico coube ao bispo Teófilo de Antioquia, por volta do ano 170, para expressar a união das três Pessoas divinas em Deus.

“Há um só Deus e Pai de todos, que atua acima de todos, por todos e em todos” (Ef 4,5-6). A Santíssima Trindade não se refere, pois, a três “deuses”, mas a três pessoas distintas perfeitamente unidas numa só divindade: o Pai, o Filho e o Espírito Santo.

O Pai é o Criador, a fonte de toda a existência.

O Filho, Jesus Cristo, é o Verbo de Deus que se fez homem para nos salvar.

O Espírito Santo é o próprio Amor entre o Pai e o Filho, a força que procede de ambos e que nos inspira, guia e santifica.

Diz-nos o Compêndio do Catecismo da Igreja Católica (CCIC): “(…) As três Pessoas divinas são um só Deus porque cada uma delas é idêntica à plenitude da única e indivisível natureza divina. Elas são realmente distintas entre si pelas relações que as põem em referência umas com as outras: o Pai gera o Filho, o Filho é gerado pelo Pai, o Espírito Santo procede do Pai e do Filho” (CCIC, 48).

Sabemos que Deus é Amor, e o Amor é relação. A Trindade são três pessoas em relação íntima de Amor – e que anseiam pela relação com todos e cada um de nós. Somos chamados a reconhecer a nossa identidade de filhos de Deus-Pai, a configurarmo-nos com Cristo e a deixarmo-nos conduzir pelo Paráclito, o Consolador, o Espírito da Verdade que Jesus nos prometeu, antes de ascender aos Céus, e que foi enviado sobre os discípulos logo no Pentecostes – e ainda hoje sobre nós.

A Santíssima Trindade constitui um dos dogmas da doutrina católica, porque se trata de uma realidade em que a Igreja Mãe e Mestra, nos manda aceitar como verdade de fé, mesmo sem conseguirmos compreendê-la plenamente – não neste mundo, nem por meio da pura razão humana. É um mistério revelado por Cristo e em Cristo. Recorda o CCIC; “O mistério central da fé e da vida cristã é o mistério da Santíssima Trindade. Os cristãos são batizados em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo” (CCIC, 44).

O dogma foi estabelecido em duas etapas. No Concílio de Niceia (ano 325 da Era Cristã), a Igreja afirmou a divindade do Filho e compôs a parte do Credo que a Ele se refere, num tempo em que a heresia ariana afirmava que Jesus era um ser sobrenatural, mas não Deus. O I Concílio de Constantinopla (ano 381) reconheceu a divindade do Espírito Santo, contrariando a heresia do macedonianismo.

Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo, como era no princípio, agora e sempre, amen!

Lúcio Gomes

Solenidade de Pentecostes

No domingo seguinte à Ascensão do Senhor, a Igreja festeja a Solenidade de Pentecostes, a descida do Espírito Santo sobre os Apóstolos, que estavam reunidos no mesmo lugar, em Jerusalém, «como um vento impetuoso, que encheu toda a casa e apareceram como que línguas de fogo que pousavam sobre cada um deles. Todos ficaram repletos do Espírito Santo e começaram a falar outras línguas conforme o Espírito Santo lhes concedia de se exprimissem». (conf Act 2, 1-4)

Pentecostes é uma palavra grega: Pentecoste, cujo significado é quinquagésimo dia; é uma solenidade celebrada no domingo, quarenta e nove dias após a Páscoa.

O Espírito Santo é a Terceira Pessoa da Santíssima Trindade, Deus com o Pai e o Filho.

O Pentecostes inicia a pregação evangélica feita pelos Apóstolos que, tendo recebido o Espírito Santo, não só vencem o medo, mas são também iluminados, inspirados, para pregarem a Boa Nova em todo o mundo.

Nasce assim a Igreja que chega até aos nossos dias.

Também hoje em dia o Espírito Santo se derrama sobre aqueles que O pedem, para serem testemunhas de Cristo em toda a sociedade.

Todo o cristão deve ser missionário no seu dia a dia, na família, no trabalho, no lazer, tendo a certeza de que o Espírito Santo lhe dará tudo o que for necessário para cumprir essa missão.

Por isso a oração diária de cada cristão deve ser sempre pedindo em primeiro lugar o Espírito Santo.

Vem Espírito Santo!

“Senhor, é agora que vais restaurar…” (Act 6, 1b)

  Esta frase é o início da pergunta feita pelos discípulos de Jesus no momento que marca a sua separação visual deste mundo (denominada “Ascenção”), mas que se repete em todos os tempos, por todas as pessoas, por nós também. Os primeiros escutaram as suas palavras, viram os seus sinais e testemunharam-n’O ressuscitado, mas ainda assim continuavam com o mesmo quadro de referências, perspectivas e sonhos. Estavam como Pedro e o outro discípulo na manhã de Páscoa quando “ainda não tinham entendido a Escritura” (Jo 20, 9a).

   A resposta que Jesus deu, também ela é surpreendente para quem a ouve: “Não vos compete saber os tempos nem os momentos que o Pai fixou…” Revela novas perspectivas, abre realidades diferentes, rasga novos horizontes, tal como acontecera com o véu do templo que se rasgou ao meio no momento em que Ele morreu na cruz (cf. Lc 23, 45).

   Isto ensina-nos a não querer ter o domínio dos acontecimentos, a não estabelecer planos para os desígnios de Deus, nem presentes nem futuros, mas coloca o essencial da nossa vida em primeiro plano.

   Convida-nos a uma atitude de confiança na autoridade do Pai e a uma atitude de esperança na vinda do Espírito, o qual ensinará tudo e recordará tudo o que o Filho disse (cf. Jo 14, 26).

   Encontramos aqui, então, a resposta para a pergunta que o título deste artigo nos evoca. Essa resposta requer de nós um esforço de mudança, não tanto de hábitos mas na forma de pensar, na forma de estar, na forma de agir, na forma de perceber a nossa relação com Deus e com os acontecimentos.

   Primeiro, confiar na autoridade do Pai, na Sua Providência amorosa, discreta, como um tesouro que é dispensado prodigamente aos seus filhos, mesmo quando estes não se apercebem de que isso acontece. É Ele que, com o Seu infinito amor, derrama graças abundantes sobre os que O temem, entrava o caminho aos pecadores, suscita o arrependimento e a conversão, chama todos a uma atitude de reconhecimento filial. Como se não bastasse, não regateia esforços para encontrar as ovelhas perdidas e, aflito com o seu bem-estar, envia a Sua Palavra feita Carne para as procurar.

   Descobrimos aqui a segunda condição para a nossa mudança fundamental: escutar o que diz o Bom Pastor, ouvir a Sua voz e segui-l’O. Ele, que é de condição divina, não Se valeu da Sua igualdade com Deus, mas aniquilou-Se a Si próprio tornando-Se semelhante aos homens. (cf. Fl 2, 6ss)

   É essa segunda condição que nos leva a procurar conhecer a Sagrada Escritura, a saborear a Palavra de Deus, a ouvir e ler o que o Filho ensinou, os sinais que deram (e dão) vista a quem não via (e não vê), a ouvir o que os antigos profetas desejaram ouvir. Para isso, é fundamental um contacto íntimo e uma leitura assídua dos textos sagrados, principalmente dos quatro evangelistas. Com razão disse S. Jerónimo: “Desconhecer a Sagrada Escritura é desconhecer o próprio Cristo.” E, se alguém desconhece o próprio Cristo, como poderá ser Sua testemunha (cf. Act 1,8; Lc 24, 48) ou “ensinar a cumprir tudo quanto Ele mandou”? (Cf. Mt 28, 20a). Ou, como a Mãe recomenda, “fazei tudo quanto Ele vos disser”? (Cf. Jo 2, 5b)

   Portanto, ler, meditar, saborear, rezar os textos sagrados não é simplesmente um exercício académico, intelectual ou religioso, mas um processo de “mergulhar” em Jesus, de “Conhecer” em intimidade profunda Jesus Cristo, Verbo incarnado, e com Ele tomar parte nas alegrias eternas, começando já, aqui e agora.

   Indissociável desta atitude, que nos convoca a ler os textos com o mesmo espírito com que foram escritos, surge a terceira condição que nos leva a pedir a Deus que nos encha com o Seu Espírito para podermos entender com o contributo dos Seus dons o que é efectivamente a Verdade (“O que é a Verdade?” – Jo 18, 38b), uma busca que inquieta o coração de todo o Homem enquanto não repousa n’Ele (cf. Sto Agostinho em “Confissões” - 1)

   Fundamental nesta terceira condição é a nossa oração, o hábito de O escutar no silêncio e nos acontecimentos, nas pessoas e nos gestos, o nosso pedido contínuo ao Pai do Céu que “dará o Espírito Santo àqueles que lho pedem” (Lc 11, 13b) e que abre o nosso Entendimento, aumenta a nossa Piedade, Fortalece as nossas almas, enche-nos de Sabedoria, dá Conselho aos nossos corações, derrama sobre nós a Ciência e preenche-nos com o seu santo Temor.

   Poderemos, então, sentir ressoar nos nossos corações a resposta de Jesus aos seus discípulos: “Mas ides receber uma força, a do Espírito Santo, que descerá sobre vós, e sereis minhas testemunhas em Jerusalém, por toda a Judeia e Samaria e até aos confins do mundo.”

   Assim se cumpra em nós a Sua vontade!

Fernando Brites

HABEMUS PAPAM

O Papa Francisco ficou extremamente doente… fiquei triste. Apesar de não ser médica e acreditar em Deus e no poder do Espírito Santo sabia que era grave. Foram muitos dias a “correr” para a televisão, para os jornais e para a internet para saber do seu estado de saúde. Melhorou e teve alta. Visivelmente debilitado, apesar de eu nunca o ter verbalizado, sabia que poderia não resistir, o que veio a acontecer no passado dia 21 de abril. Chorei imenso. Senti-me órfã de pai. Este foi para mim um sofrimento estranho acompanhado de uma acalmia igualmente diferente porque conclui: agora descansa meu pai; estás junto do Senhor com a tua rosa branca, que tanto gostavas: a pandemia (COVID), as guerras em vários países do mundo, os escândalos de pedofilia dentro da igreja que fez questão, e bem, de colocar à tona da água e a sua frágil e débil saúde tiraram-lhe a vida terrena.

Decorreram vários dias em que me senti órfã. Acompanhei, em direto, em casa ou no local de trabalho, através do @vaticannewspt, todas as notícias referentes ao seu funeral. Fui rezando, desejava-lhe a paz que tanto merecia. Após o Papa João Paulo II, o Papa Francisco, foi o meu Papa de referência (tinha o sonho, ingénuo, de lhe falar pessoalmente na companhia de um grande amigo). Deixou tudo o que pretendia escrito, morreu desprovido de bens terrenos e até encontrou um benfeitor para pagar as despesas da construção do seu túmulo para não gastar as verbas da Santa Sé.

Acompanhei todas as notícias de como iria decorrer a eleição do novo Papa, os prazos que tinham de decorrer, quando começaria o conclave, tudo, tudo, tudo.

No primeiro dia de conclave, dia 7 de maio, senti que seria impossível a maioria da votação dos cardeais convergir num só homem (como referiu o nosso saudoso e brilhante Papa Francisco numa entrevista o “voto do primeiro dia de conclave é um voto de cortesia”). Mesmo assim estive em frente da televisão das 18h às 20h, hora em que a pequena e singela chaminé instalada no telhado da Capela Sistina, expeliu fumo preto.

No segundo dia de conclave tinha a ideia, quase, real de que o Espírito Santo iria guiar os 133 cardeais, que se encontravam encerrados na Capela Sistina, para uma votação. Enquanto trabalhava, com pouca atenção é certo, o coração batia forte, não me conseguia concentrar. O telemóvel colocado em cima da secretária para ver em direto as notícias do Vaticano. As horas passavam e o meu estado de ansiedade também. Chegou a tarde. A desatenção do trabalho era quase total; aí já coloquei os auriculares porque tinha de, além de ver as imagens, ouvir o que o Vaticano me ia informando. Às 17h07 vi o fumo branco a sair da chaminé mais observada pelo mundo inteiro. Tremi, dei um salto da cadeira, gritei baixinho Habemus Papam; chorei de alegria, ininterruptamente. Estranhei uma vez mais a minha reação. Nunca me tinha sentido assim. Pensei imenso no Papa Francisco e, inevitavelmente, no nosso cardeal Tolentino de Mendonça. Apesar de saber que não importava quem seria o mais votado, desde que seguisse, na minha opinião, as linhas orientadoras do trabalho desenvolvido previamente pelo Papa Francisco, para que não se observasse um retrocesso na nossa Igreja, inadvertidamente puxei a “brasa à nossa sardinha” e pensei “que orgulho seria ver aparecer o nosso cardeal na varanda da Basílica de São Pedro”. Chorei ainda mais. A hora seguinte pareceu-me demorar várias horas a passar, o choro continuava, rezava pelos pobres, pelos necessitados, por todos os doentes e por todos os que sofrem com as guerras. Também rezei pelo Papa Francisco e pelo novo Papa, que ainda nem sabia quem era. Pensava apenas que o cardeal eleito iria ter um fardo pesado, que iria viver em exclusivo para os outros, que iria ser o responsável máximo da igreja católica e que iria ter um trabalho árduo e sério pela frente.

A janela da Basílica abriu-se e o cardeal Dominique Mamberti anunciou em latim, "Annuntio vobis gaudium magnum: Habemus Papam"; posteriormente anunciou o seu nome: Robert Francis Prevost. Não percebi. Os jornalistas transmitiram que era americano. Sem querer dei por mim desiludida: americano?!…. Tenho a imagem, sempre presente, e que me aterroriza, de um homem totalmente desequilibrado, de seu nome Donald Trump, à frente dos destinos de uma grande potência que são os Estados Unidos da América (eu que abomino a ligação que algumas pessoas fazem entre a igreja e a política estou a fazer o mesmo em silêncio… mea culpa). E não é que o novo Papa é americano? E também não era o nosso cardeal Tolentino de Mendonça... Um dia antes tinha dito, em jeito de brincadeira, se o nosso cardeal Tolentino fosse o eleito, iria à boleia a Roma só para o ver e agraciar. Após terminar o choro e me acalmar pensei no ditado “Deus escreve direito por linhas tortas” e possivelmente por isso foi eleito um cardeal americano que escolheu para seu nome Papa Leão XIV. Comecei a ver a sua imagem na varanda da basílica, uma imagem doce, um homem extremamente emocionado, na tentativa de esconder o nervosismo e com um discurso maravilhoso em que retive algumas frases: “A paz esteja com todos vocês”, “Portanto, sem medo, unidos de mãos dadas com Deus e entre nós, sigamos em frente. Somos discípulos de Cristo. Cristo nos precede. O mundo precisa de sua luz. A humanidade precisa dele como ponte para ser alcançada por Deus e seu amor. Ajudai-nos também vós, e depois uns aos outros, a construir pontes, com o diálogo, com o encontro, unindo-nos a todos para sermos um só povo, sempre em paz. Obrigado, Papa Francisco!

Cativou-me de imediato. Esqueci que era americano. Esqueci que não era o nosso cardeal Tolentino. Era agora o meu e nosso Papa. O Papa de todos os cristãos católicos e por isso pensei que também tinha o dever de o ajudar no que fosse possível e estivesse ao meu alcance. Recomecei a chorar novamente de alegria e de emoção. Habemus Papam. Olhei para o telemóvel e constatei a única mensagem do meu pai, com duas palavras “É americano”. Estas palavras demonstravam desagrado e desilusão (importa referir que o meu pai tem uma imagem muito própria da igreja e que não é muito simpática…). Sentimentos que eu tinha vivenciado há poucos minutos, mas que consegui, com discernimento, pensar que estava incorreta. Tentei argumentar junto do meu pai mesmo sem conhecer o Papa Leão XIV. Agora que foi eleito temos de lhe dar tempo. Esperemos que tenha um longo e profícuo pontificado; que Deus e o Espírito Santo o acompanhem a carregar esta pesada cruz.

Não me lembro da eleição do Papa Francisco e tinha 40 anos. Recordo que nessa altura era um assunto que nada me dizia, tantos anos perdidos de felicidade, penso agora. Relembro agora com carinho todo o seu legado. O Papa Francisco soube ser forte quando necessário, justo, doce e meigo e desempenhar um excelente pontificado. Até as pessoas que se autodenominam ateus ficaram genuinamente tristes com a sua morte.

Na minha opinião o nosso Papa Leão XIV terá de ter coragem para não retroceder na procura constante do caminho de uma Igreja una, séria, acolhedora, que conforta, que esteja presente, uma Igreja de todos para todos, todos, todos.  Também não nos podemos esquecer que é um chefe de um “microestado” e por isso deverá, sempre que possível, defender determinadas posições sempre em prol da paz e da igualdade entre os povos.

Não me lembro de ter tido tanto entusiasmo como no passado dia 8 de maio. Talvez quando o Papa João Paulo II veio a primeira vez a Portugal, em 1982, tinha eu 9 anos, também me tenha sentido assim. Tenho enormes lembranças desse momento transmitidas pelos meios de comunicação social. Há assuntos que mexem realmente connosco e com os nossos sentimentos e a eleição do Papa Leão XIV, para mim, foi um deles.

No meu coração, desde a eleição do Papa, que tenho uma voz que me continua a gritar constantemente Habemus Papam e que me deixa sempre emocionada. No meu telemóvel ouve-se música de louvor. Já não me sinto órfã. Não esqueci Francisco, como não esqueci João Paulo II, nem nunca esquecerei, mas agora tenho de ajudar o nosso Papa Leão XIV. Vamos arregaçar as mangas e colocarmo-nos à sua disposição e da nossa Igreja, obviamente numa dimensão mais reduzida que será a nossa paróquia. Estou de braços abertos e grito novamente Habemus Papam.

Quando olhei para o Papa Leão XIV pensei: este homem deixou de viver para ele, para os seus amigos, para a sua família, para os seus paroquianos, para as pessoas que ajudou enquanto missionário. Aceitou (desconheço se poderia recusar) ser o sucessor de Pedro com tudo o que isso implica. Estará exposto ao mundo, a sua vida será escrutinada pelos meios de comunicação social, vai ser alvo de julgamentos (já se houve falar da sua opinião acerca de determinados assuntos enquanto pôde ser o simples Padre Bob), vai ser alvo de cobranças, vai ter de servir e ser consumido por inteiro até chegar o momento da sua partida da terra. Mas também terá o direito de se sentir só e de sofrer. Irá viver para a mulher que é a Igreja e que também somos todos nós, cristãos, católicos. Que alegria, que coragem, que peso sobre um homem que apareceu na varanda da basílica e que escondia, com muita tranquilidade, os nervos que o estariam a assolar naquele momento. Espero que se rodeie dos melhores assessores para o ajudarem nesta árdua tarefa porque é demasiadamente pesada para um homem só.

Ainda não conheço o novo Papa. Os meios de comunicação social já procuram formar e transmitir ideias sobre o mesmo que não sabemos se são verdadeiras. Não quero ouvir. Não quero ser, mal, influenciada.

Já confio em ti Papa Leão XIV (peço-lhe desculpa em surdina por o estar a tratar com tanta proximidade). Meu Deus, por favor, acompanha-o nesta caminhada. Espírito Santo auxilia-o com o discernimento necessário na tomada de decisões, que deverão ser tantas.

Habemus Papam!

Até sempre Papa Francisco. Benvindo Papa Leão XIV!

Ana Umbelina Silva

Marinha Grande, 9 de maio de 2025

 

ESMOLA

Falamos em esmola e logo o nosso primeiro pensamento vai para o dinheiro, para as coisas materiais, para os bens de primeira necessidade.

E, sem dúvida, essa é uma esmola importante, sobretudo para aqueles que nada têm e precisam de tudo.

Mas também é verdade que é a esmola mais fácil, digamos assim, porque no fundo é “meter a mão no bolso” e tirar o pouco ou muito que nele se tem.

E quando pensamos nessa esmola material, também logo podemos arranjar uma qualquer desculpa para não a dar, porque não temos bens ou capacidades materiais para isso.

Mas e a “esmola” do tempo? A “esmola” da companhia? A “esmola” da paciência? A “esmola” do sorriso? A “esmola” do abraço? A “esmola” da solidariedade?

E um nunca acabar de “esmolas” que afinal todos podemos dar, porque não exigem nada dos nossos bens materiais, mas sim da nossa entrega pessoal, da nossa disponibilidade.

É tão cómodo haver gente que faz todo esse trabalho, que recebe as nossas muitas ou poucas dádivas, e as distribui àqueles que delas precisam.

Já perguntámos a alguém ou perguntámos a nós próprios, o que podemos fazer para ajudar?

Com certeza que não podemos ser todos a fazer as mesmas coisas, mas podemos, sem dúvida, ajudar em momentos pontuais, estando disponíveis para darmos essas “esmolas”.

E se há uma “esmola” que todos, sem excepção, podemos dar, essa é, sem qualquer dúvida, a oração pelos outros, pelos que precisam e por aqueles que os ajudam diariamente.

Joaquim Mexia Alves

PENITÊNCIA

E agora, pensamos nós, temos que colocar cinzas sobre a cabeça, vestir-nos de saco, e mostrar a toda a gente como estamos arrependidos e fazemos penitência.

Não, não precisa ser assim, e a penitência não é para “mostrar”, é para viver no nosso íntimo.

Hoje em dia, diz-se muitas vezes que Deus não quer o nosso sacrifício, que não quer que nós soframos, e isso é, obviamente, verdade.

Mas não deve constituir desculpa para não nos colocarmos perante as nossa faltas, delas pedirmos perdão e nos penitenciarmos por causa das mesmas.

E esta penitência que, mais do que devemos, precisamos fazer, é procurar em nós aquilo que, neste tempo de Quaresma, podemos prescindir com algum sacrifício, seja materialmente, seja socialmente, seja, sobretudo, espiritualmente.

Materialmente, prescindirmos de alguns prazeres rotineiros diários, (o café, o bolo, o doce, etc.), e oferecermos o que, por causa disso, poupamos aos que mais necessitam.

Socialmente, termos mais atenção aos outros, sobretudo àqueles com quem não conseguimos ter uma relação mais empática e, revestindo-nos de paciência, os ouvirmos e tentarmos compreender.

Espiritualmente, fazer um compromisso connosco próprios, para lermos e meditarmos diariamente a Palavra de Deus, para O procurarmos no sacrário sempre que nos for possível, rezarmos mais e melhor, ou seja, não de forma rotineira, mas como um verdadeiro diálogo com Deus que se dá a conhecer àqueles que O procuram «em espírito e verdade».

E depois, obviamente, o Sacramento da Confissão, plenamente celebrado, isto é, com um bom exame de consciência, a confissão de todos os pecados, um verdadeiro arrependimento, e um firme propósito de emenda. 

Seguros da Sua infinita misericórdia, viveremos uma penitência na Quaresma, que Ele recebe cheio de amor.

Joaquim Mexia Alves

Oração

ORAÇÃO

Entra dentro de ti e faz um deserto no teu coração, ou seja, esvazia-o de tudo o que é mundo te preocupa e angustia.

Em silêncio chama o Espírito Santo e deixa que Ele coloque, primeiro no teu coração, e depois na tua boca, as palavras que Ele te inspirar.

Aliás, não te preocupes muito com as palavras, mas muito mais com a intenção do teu coração, do teu viver.

O que tu queres é encontrar-te com Jesus, no deserto de ti mesmo, que te chama a viveres com Ele esta quaresma.

E quando o teu coração se eleva para Ele, se deixa envolver no amor do Pai e iluminar pelo Espírito Santo, então descansa, confia e espera, porque a oração tomou conta de ti, e tu estás agora no encontro pessoal com Jesus que tudo muda, tudo transforma, tudo pacifica.

Em paz, então, deixa que a oração saia de ti e se faça vida na tua vida, pela graça e o dom dAquele que a ouve e recebe.

Joaquim Mexia Alves

CONVERSÃO

Ao iniciar o tempo da Quaresma, partilhamos algumas notas sobre elementos chave para uma boa e frutuosa vivência Quaresma.

CONVERSÃO

Dá a mão a Jesus e deixo-te conduzir ao deserto onde Ele se quer encontrar contigo.

Ali, naquela imensidão não tens nada que te distraia, nada para veres ou ouvires, e assim, podes recolher-te e examinares a tua vida.

Vai percebendo, conduzido pelo Espírito Santo, aquelas coisas que estão mal na tua vida, as tuas fragilidades, as tuas fraquezas, aquelas coisas que te fazem cair, e que depois a tua consciência te faz querer emendar.

Não te preocupes com coisas grandes, porque essas tu conhece-las bem, e podes identificá-las sem grande dificuldade, corrigindo-as sem grande esforço.

Detém-te naquelas pequenas coisas, aquelas que quase não parecem erradas, quase não parecem pecado, e reconhece humildemente que são essas aquelas em que cais com mais facilidade e repetes quase continuamente.

Enumera-as para ti mesmo e, olhando para Jesus que está ao teu lado nesse deserto que vives neste momento, coloca-as nas Suas mãos e arrependido pede perdão.

Pede, sobretudo, ao Espírito Santo que te dê forças para venceres essas fraquezas, essas fragilidades.

Pede-Lhe mesmo, como criança ao Seu colo, que Ele te avise antes de caíres, para poderes estar bem atento e resistires a essas tentações.

Sim, tu sabes que vais cair mais umas vezes, mas Ele toma-te pela mão, aperta-te junto ao peito e diz-te suavemente: Eu sei, meu filho, eu conheço-te. Por isso te digo, a tua conversão é viveres para fazer a minha vontade.

 Joaquim Mexia Alves

OS PÃES DO MEU FARNEL

Encosto a bengala à parede, junto da porta, no canto habitual, sento-me à mesa de trabalho e fico por momentos a pensar naquele momento de conversa, a meio do corredor, com um dos meus companheiros de residência:

Tão alegre e dinâmico que ele era!

Encostado à sua bengala, muito mais artística que a minha, ergueu para mim uns olhos magoados, como se a vida lhe pesasse demasiado, e disse-me, em tom de quem conclui um raciocínio comum: Pois é: não prestamos mesmo para nada! Só para dar trabalho e estorvar.

Respondendo apressadamente, talvez, de facto, demasiado apressadamente, por não me parecer oportuna conversa mais demorada, disse eu, sem esperar resposta: importante será cada um dar o que tem para dar.

Lembrei-me da pequena estampa de “Santa Maria, Mãe do Amor Formoso” com um enorme chocolate que a Casa nos ofereceu, a propósito do chamado Dia dos Namorados; estampa na qual fora impressa esta súplica à Mãe de Deus:

“Que toda a minha vida, com o meu trabalho, alegrias e dores, seja um hino permanecente de amor!”

Trabalho, alegrias e dores… três palavras que podem sintetizar qualquer existência humana temporal, desde que surge no ventre materno até que se esconde no ventre da terra, donde, afinal, dito noutro contexto bíblico e patrístico, todos provimos.

Trata-se também de vocábulos que, como qualquer termo muito usado na linguagem corrente, transportam uma carga semiológica tão vasta e profunda, que qualquer um se pode enganar com eles, se não pensa um pouco nos contextos em que se empregam.

E, enquanto procurava que o sabor do chocolate pudesse transformar-se num apelo a olhar para o lado bom de tanta coisa que marca os meus dias, veio-me ao pensamento aquele número de “Caminho”: “Que a tua vida não seja uma vida estéril.- Deixa rasto. – Ilumina com o resplendor da tua fé e do teu amor.

Apaga com a tua vida de apóstolo, o rasto viscoso e sujo que deixaram os semeadores impuros do ódio. – E incendeia todos os caminhos da terra com o fogo de Cristo que levas no coração”.

Ora! – diria o meu companheiro, se ouvisse isto -, pensas que São Josemaria escreveu isso a pensar naqueles que, como tu e eu, estavam arrumados a um canto, sem poderem fazer nada?

Escrito na sua juventude, foi, até à sua morte, incentivo para milhares, muitos milhares de pessoas, e continua a sê-lo… pessoas de todas as condições.

Em qualquer dos casos, não consta que Jesus tenha feito algum gesto ou dito alguma palava que justifique o descarte que, afinal, muitas vezes até nas instituições ligadas à Igreja, se tomem como destino das casas onde nos encontramos.

Por mim, prefiro sentir-me entre os que seguem o Mestre, com o desejo de escutar a sua palavra e perscrutar os seus gestos, consciente de que não me abandona ao descarte e que não me tem cá por se ter esquecido de mim, mas porque continua a contar comigo, quanto mais não seja, para que vejam como, apesar de tudo, continuo a confiar n’Ele.

Posso dizer, sem nenhuma espécie de presunção, que tenho no meu bornal, deslustrado pelos anos, com uma enorme quantidade de remendos, tudo quanto podem simbolizar os sete pães – algumas versões falam de cinco – do farnel do rapazito que, no relato evangélico, entregou o necessário para que Jesus, com a colaboração dos discípulos, matasse a fome à multidão.

Não me interessa saber o significado real da palavra multidão: se eram muitas ou poucas as pessoas que comeram do pão abençoado por Jesus e distribuído pelos discípulos; interessa-me mais não descurar o sentido bíblico do que nos conta o Evangelho: que há uma enorme desproporção entre a pobreza do farnel cedido pelo rapazito e a extensão do milagre, com o qual todos “comeram até ficarem satisfeitos, e houve sete cestos de sobras. Ora, eram cerca de quatro mil” (Mc 8, 8-9).

Sete pães! O que é isto para matar todas as fomes que assolam a humanidade, neste mundo em que até se procura tirar ao homem aquilo que o torna superior aos outros seres ad Criação? O que, no fundo, significa, não matar a sua fome, mas arrancar-lhe o direito de sentir essa fome.

É pouco, muito pouco, talvez mesmo ridículo, comparado com essa fome: precisar de uma bengala ou um una cadeira de rodas, para, depois de ter sido ajudado nas coisas mais elementares da higiene pessoal, chegar à sala das refeições, onde pode acontecer que tenham de me levar a comida à boca… é pouco, muito pouco; mas com esse pouco, que constitui a única missa que agora posso celebrar, abraçá-lo com Cristo e como Cristo na Cruz, não faz menos pela salvação do mundo do que aquilo que fiz durante muitos anos e que, de vez em quando me distrai cum uma vã nostalgia.

No meio disto tudo, só algo me provoca uma certa pena: que quem me ajuda com tanta dedicação – competência profissional e carinho humano – não repare no altar onde todos celebramos, cada qual à sua maneira, a Eucaristia que Deus nos pede.

P. Augusto Ascenso Pascoal

Francisco e Jacinta, crianças que anunciam o céu

Foi-lhes dado a saborear o Céu. Francisco e Jacinta experimentaram o gosto pelo mais belo da existência humana: o encontro com Deus. Através das mãos da 

Senhora cheia de Luz, apreenderam “qual a largura, o comprimento, a altura e a profundidade… a capacidade de conhecer o amor de Cristo” (Ef 3,18) e não mais querer sair dele. Tal como tinham aprendido a gostar do doce e a chamar amargo ao que assim lhes parecesse, agora, depois de experimentarem aquela Luz que lhes penetrara no mais íntimo da alma, aprenderam a apreciar e a distinguir, com mestria, o que tem o brilho de Deus. 

Uma vez sentindo o sabor do Céu, é (sobre)natural que a vida fosse amarga sem essa marca divina. As bolotas da serra, que encontravam pelos caminhos percorridos com o rebanho, serviam bem como metáfora; comendo-as, provavam a amargura do afastamento de Deus que “os pobres pecadores” deviam sentir. Era mesmo porque amargava que Jacinta não perdia a oportunidade de oferecer como sacrifício, “para converter os pecadores”. 

Este simples gesto torna-se sinal de entrega e intercessão por essa humanidade ferida que tanto amavam. Os amuos e caprichos da filha mais nova dos Marto, ou o “não te rales” despreocupado do seu irmão Francisco antes das aparições, dissolvem-se diante do compromisso assumido pela salvação de todos. É preciso que rezem, que rezem muito, porque a oração é força maior que todas as armas. A angústia da guerra que se vivia no início do século XX, bem como todas as inquietações intemporais que habitam o coração humano, o aparente sem sentido do sofrimento e da morte, os próprios limites e a desilusão do mundo, enfim a condição humana clamava pela paz. O Coração Imaculado de Maria surge, em Fátima, precisamente como resposta a esse clamor. Se a um filho que pedisse pão, daríamos pão e não pedra, “…quanto mais o Pai do Céu dará o Espírito Santo àqueles que lho pedem!” (Lc 11, 13). O Coração materno da Virgem Maria é-nos dado como refúgio e caminho para Deus. Jacinta abraça esse dom de Deus com o entusiasmo próprio das crianças que se encantam pelo belo e pelo bom, mas também com a maturidade de discípula enviada. Pouco tempo antes de ir para o hospital, onde haveria de morrer, Jacinta dizia à prima Lúcia: “Se eu pudesse meter no coração de toda a gente o lume que tenho cá dentro no peito a queimar-me e a fazer-me gostar tanto do Coração de Jesus e do Coração de Maria!” (III, 130). 

Envolvidos nessa atmosfera, Francisco e Jacinta entram na linha dos amigos de Deus que O escutam e seguem por onde quer que vá. Francisco é o menino fascinado por Deus: “nós estávamos a arder naquela Luz que é Deus e não nos queimávamos. Como é Deus!!! Não se pode dizer!” (IV, 145). Vemo-lo descobrir, comovido, que pode consolar, reparar, comungar este Deus. Lúcia ia à escola, mas ele ficava com O Amigo, na Igreja, como se o tempo e o espaço da sua curta existência na terra não pudessem ter outro fim senão o de estar todo, inteiramente, diante do seu Deus e Amigo. A oração ensinada pelo Anjo e rezada vezes sem conta, “Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo, adoro-vos profundamente…”, tornou-se o ritmo do seu próprio coração. Cada momento, cada gesto eram expressão de uma vida com Ele. Nunca sem Ele. Até ao fim. Dizia alguém: “parece que se sente, ao entrar no quarto do Francisco, o que sentimos ao entrar na Igreja” (IV, 190). 

A fragilidade e inconstância próprias da infância deixam de caber na descrição destas duas crianças. Pequenos mestres porque aprenderam com a Mestra do Mistério de Deus, Francisco e Jacinta falam-nos de uma vida transfigurada. Enraizados em Deus e no Coração Imaculado de Maria, olham-nos, firmes na fé, com o rosário nas mãos. Nesse desenrolar silencioso e discreto dos mistérios de 

Deus, escondidos no passar de cada pai-nosso e de cada ave-maria, consolam a Deus e transformam o mundo, enquanto o seu próprio coração é moldado até que Cristo seja formado neles. Mais do que ser a oração dos simples, o Rosário é instrumento que simplifica a vida. Assim foi para Francisco, quando em maio soube que teria de rezar muitos terços: “Ó minha Senhora, terços, rezo todos quantos vós quiserdes” (IV, 141). 

Nos santos Francisco e Jacinta Marto, os mais novos da nossa Igreja, a santidade desenha-se com radical novidade, como é sempre típico de Deus. Crianças humildes, surpreendem-nos pela fidelidade de quem nunca aceitou alternativas aos planos amorosos de Deus. Consoladores e intercessores, reconhecidos com gratidão e veneração, são, hoje, ao jeito do Ressuscitado, sinal do triunfo da Vida e do Bem e anunciadores do Céu. 

Ana Luísa Castro, asm e Ângela Oliveira, asm
Este artigo foi originalmente publicado no jornal Voz da Fátima no dia 13 de maio de 2017 

As Cinco Chagas do Senhor

Jesus ao ressuscitar poderia tê-lo feito mostrando o Seu Corpo isento de todas as marcas da Paixão, sobretudo das Cinco Chagas que sofreu por todos nós.

Mas quis manter essas marcas indeléveis, como sinais do Seu infinito amor por nós.

No fim do dia em que Maria Madalena, Pedro e João se deparam com o túmulo vazio, Jesus aparece aos seus discípulos.

«Ao anoitecer daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas as portas do lugar onde os discípulos se encontravam, com medo das autoridades judaicas, veio Jesus, pôs-se no meio deles e disse-lhes: «A paz esteja convosco!» Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o peito. Os discípulos encheram-se de alegria por verem o Senhor.» Jo 20, 19-20

 

Podemos então reparar no pormenor da narração do Evangelho de São João que afirma, «mostrou-lhes as mãos e o peito».

Sabemos também que nesse dia, Tomé não estava com eles e que, «oito dias depois» (Jo 20, 26), Jesus volta a aparecer no meio deles e chama um Tomé incrédulo dizendo-lhe: «Olha as minhas mãos: chega cá o teu dedo! Estende a tua mão e põe-na no meu peito. E não sejas incrédulo, mas fiel.» Jo 20, 27

 E a mesma narração diz-nos que o Apóstolo, sem tocar em Jesus, responde dizendo: «Meu Senhor e meu Deus!» Jo 20, 28

 As Cinco Chagas que Jesus quis então manter no Seu Corpo ressuscitado, são a prova mais evidente de que o Cristo ressuscitado é o mesmo Jesus que sofreu a Paixão e deu a vida por todos nós, na Cruz.

São razão, portanto, para nos colocarmos perante as nossas fraquezas, os nossos pecados, que infligiram em Jesus Cristo tão terríveis dores, e arrependidos, também O reconhecermos como «Meu Senhor e meu Deus!»

Mas são também, paradoxalmente, razão da nossa alegria, porque essa mesma Paixão e Morte, bem presentes nas Cinco Chagas do Senhor, são a certeza inabalável de que Deus nos ama infinitamente, de tal modo, que entregou o próprio Filho para padecer e morrer por nós, ressuscitando ao terceiro dia, libertando-nos assim da lei da morte do pecado.

Podemos, por isso, mais do que olhar ou venerar as Cinco Chagas do Senhor, dar graças, alegrarmo-nos, porque Cristo ressuscitou e está no meio de nós e, perante as nossas fraquezas, arrependidos, podemos colocar todos os nossos pecados nas Chagas do Senhor, pois são elas a realidade mais visível da total entrega de Deus por nós.

Podemos, até, considerar na nossa entrega a Jesus Cristo, as Suas Chagas como uma “entrada” para estarmos n’Ele e com Ele, ou mesmo, uma fortaleza para, “metendo-nos” nelas, resistirmos ao pecado.

Muitas vezes, colocados perante a crueza da Paixão e Morte de Jesus, prostramo-nos e deixamo-nos abater pelo peso das nossas fragilidades, pelo peso do nosso “ser pecador”, e podemos e devemos fazê-lo sem qualquer dúvida, mas também podemos e devemos alegramo-nos, na serena alegria de Deus, porque fomos libertos do pecado e salvos da morte, na esperança real da vida eterna com Deus e em Deus.

Sabemos que muitos Santos tinham uma verdadeira devoção às Cinco Chagas de Cristo, com expressões tão belas como por exemplo São João de Ávila, «Metei-vos nas chagas de Cristo», ou São Josemaria  «Meter-me, cada dia, numa chaga do meu Jesus». 

O Papa Francisco disse numa homilia em 7 de Abril de 2013:

«Na minha vida pessoal vi muitas vezes o rosto misericordioso de Deus, a sua paciência; vi também em muitas pessoas a determinação de entrar nas chagas de Jesus, dizendo-Lhe: “Senhor estou aqui, aceita a minha pobreza, esconde nas tuas chagas o meu pecado, lava-o com o teu sangue”. E vi sempre que Deus o fez, acolheu, consolou, lavou, amou»

 Celebremos esta Festa das Cinco Chagas de Cristo, com toda a devoção e entrega, sabendo que em Cristo e com Cristo somos em tudo e sempre vencedores.

Marinha Grande, 07 de Fevereiro de 2025
Festa litúrgica das Cinco Chagas do Senhor

Joaquim Mexia Alves