O Tempo que Já não temos

A importância da experiência do Advento – entendida como o caminho para a Encarnação – recentra-nos num paradigma que não é o da urgência, mas o da atenção. Não o da avidez, mas o do significado.

Vivemos numa era cada vez mais frenética, onde o ritmo social e tecnológico se sobrepõe à nossa própria capacidade de presença. A azáfama quotidiana – frequentemente celebrada como produtividade – tornou-se numa forma de alienação subtil: estamos em muitos lugares, mas raramente estamos efetivamente presentes e atentos. Esta dissociação entre experiência e consciência é um dos problemas estruturais da nossa sociedade.

Um dos aspetos mais interessantes tem que ver com esta sensação de profunda erosão do tempo, da empatia e da capacidade de desejar e, em particular, o contraste com a liturgia, especialmente visível no Advento. Este é um tempo para parar, refletir sobre a nossa capacidade de esperar, de ter paciência, não como uma fuga, mas como um reencontro com a nossa essência. A importância da experiência do Advento – entendida como o caminho para a Encarnação – recentra-nos num paradigma que não é o da urgência, mas o da atenção. Não o da avidez, mas o do significado.

Este contraste é revelador da crise contemporânea do tempo em que vivemos. Uma sociedade que exige cada vez mais o imediatismo e que tenhamos tudo “à mão”, esvaziando a experiência do desejo e da espera. A ausência desta espera não é apenas um sintoma de conforto, é um empobrecimento espiritual e emocional. Quando tudo é instantâneo, deixamos de reconhecer os sinais, perdemos a capacidade de leitura simbólica do mundo e deixamos de cultivar qualquer forma de transcendência – religiosa, ética ou simplesmente humana.

Daqui emerge a pergunta essencial: a que é que damos tempo? Num contexto em que a fragmentação da atenção se tornou norma, aquilo que perde espaço são precisamente as realidades que exigem continuidade e cuidado –  relações, reflexão, autoconhecimento, empatia. A incapacidade de “interpretar os sinais” fragiliza a nossa vida pessoal e em comunidade.

Recuperar o tempo não implica esperar por um fim grandioso para encontrar alegria. Pelo contrário, é reconhecer que o caminho, com as suas etapas, é já lugar de sentido. A alegria deixa de ser uma recompensa distante para se tornar numa forma de habitar o quotidiano.

Num mundo saturado de estímulos e de urgência, talvez a verdadeira  subversão seja esta: recuperar o tempo – para estar, para escutar, para desejar, para cuidar, para interpretar e para ser.

Catarina Abreu de Pinho

Palavras Caídas do Céu – Ámen

Ámen não é um ponto final, mas um "sim" firme e consciente.

Neste episódio das palavras caídas do céu, o P. Nuno Tovar de Lemos explora a profundidade desta pequena palavra tão decisiva. Mais do que uma fórmula para terminar orações, esta palavra tem raízes antigas. Sabe como se pronuncia? Qual o significado cristão de dizer “Ámen” como expressão de fé?

Para quem Encarna Deus?

Enriquecemos os nossos presépios com personagens que não estão no relato. Pessoas de trabalhos humildes, como padeiros, ferreiros, a aguadeira, mas também músicos e outros personagens, às vezes contemporâneos. E acrescentamos lagos e colinas, casas, colocamos musgo. Chamamos toda a realidade ao Presépio, com coração de crianças. Sem grande consciência, fazemos com que a Criação inteira participe no hino de louvor ao Deus que vem ao nosso encontro.

O Papa Francisco considera bela a forma como colocamos pessoas que não conhecem outra abundância que não seja a do coração a caminho daquele berço improvisado. Deus encarna para os mais carentes de amor e faz-se próximo. Nasce pobre, leva uma vida simples, para nos ensinar a viver centrados no essencial: o cuidado do outro. É um alerta para que não nos deixemos enganar por palácios e outras riquezas aparentes, que não passam de efémeras propostas de felicidade.

Lugar de destaque, porque estão no evangelho, têm os pastores, que em Lucas partem apressadamente (como Maria) rumo à manjedoura para “ver o que aconteceu e que o Senhor nos deu a conhecer”. Ao chegar lá, contam a Maria. E partem dando graças. Toda a sua vida é anúncio!

Eles estão no meio da sua tarefa de apascentar e, se partem apressadamente, deixaram tudo para trás. Ao contrário da gente ocupada, os pastores vão ao encontro do Deus que vem ao nosso encontro. Só os humildes e que se sabem pobres sabem acolher a Encarnação, pois são os que deixam tudo para ir ter com o Senhor.

Que o Deus-Menino nasça nos nossos corações.

P. Nelson Faria, sj

Editor Geral do Ponto SJ

Os pecados que inventámos

Pelo menos duas vezes por ano lá íamos nós em fila ao confessionário, como quem ia ao dentista. Eventualmente cresci. E foi o que me valeu. Fui percebendo que a confissão é a Reconciliação, primeiro connosco e depois com Deus.

Tinha notícia de pessoas que se confessavam a padres estrangeiros. Era o meu sonho. Tivesse eu conhecido esses padres e era hoje santa, é o que vos digo. Padres suecos de preferência: ter-lhes-ia dito tudo, coisas que nem ao Diabo se confessa, não é como se diz? Pois a um padre sueco teria confessado todos os meus piores pensamentos, atos e omissões. Mas não, os padres que me ouviram conheciam-me bem demais para isso. O padre João e o padre António, ora um dia estavam a dar-me recados de Deus Nosso Senhor no segredo do confessionário, para eu me portar bem e ser mais amiga dos meus irmãos, como no outro dia estavam a almoçar em casa dos meus pais, ali mesmo à minha beirinha. Como se não se lembrassem dos meus terríveis pecados. Impossível ser-se tão esquecido, pensava eu.

Pelo menos duas vezes por ano lá íamos nós em fila ao confessionário, como quem ia ao dentista. Nunca decorei o Ato de Contrição, como não há maneira de decorar as classes e as ordens dos números – há limitações que nos acompanham uma vida inteira. “Vá, então reza lá a versão curtinha”. E eu, corada, atrás daquela janelinha do confessionário e em pânico que me ouvissem na fila, lá desbobinava a ladainha. O cheiro a cera na madeira escura contribuíam para a solenidade do momento e para o nervoso. “Vamos lá, há quanto tempo não te confessas?” E pronto, começava logo a pecar: “Há dois meses, mais ou menos”, mentia eu. Mas era de festa em festa que me confessava, no Natal e na Páscoa, e já era muito a ver pelo suor nas mãos. Também não tinha pecados para muito mais. O exame de consciência – como o próprio nome indica – dava-me imenso trabalho e como todos os exames que faço, estudo na véspera. Neste caso era na fila que trocava pecados com a minha irmã como quem troca cromos, éramos cábulas na confissão: “Olha, descobri um novo! Inveja.” O que é isso? Ela explicava-me que era ficar triste e até zangada por não termos uma camisola igual à de uma amiga qualquer, por exemplo. “Sei lá, inventa!”. Um pecado novo fazia as maravilhas de uma criança. Mas tinha de ter um para a troca. E ficávamos assim, a debater baixinho novos pecados que arejassem a lista dos de sempre, assim como quem acrescenta água na sopa. Mentir, dizer palavrões, roubar chocolates, adormecer sem rezar, não estudar, bater nos irmãos e desobedecer, eram pecados clássicos, enfadonhos. Também combinávamos não os dizer pela mesma ordem, com medo que o padre desconfiasse da fraude. “Olha, diz que pensas em fugir de casa – é um pecado por pensamento”, elaborado, portanto. Nunca me passou pela cabeça fugir de casa, mas convenhamos que é um pecado que dá substância a qualquer confissão em qualquer idade. Já os pecados sérios e verdadeiros, ficavam entre mim e Deus, não fosse o padre João aparecer a almoçar no dia seguinte.

Aos sete anos, o confessionário era o que me valia. Ter ali o padre fechado e trancado, sem me ver corar, aliviava a pressão e tornava possível repetir o palavrão novo que tinha aprendido. Fosse eu criança católica nos dias de hoje e garanto que nem sob tortura diria cara a cara a um padre a quantidade de ordinarices que o padre João ouviu da minha boca. Coitados dos miúdos, é o que eu acho, alguém lhes dê um confessionário no Natal. “Então diz lá?” E eles ali, como se estivessem num café, sem a portinhola a protegê-los da vergonha. Eu seria certamente protestante nestas condições.

É Deus quem nos ouve, o padre é só um instrumento e esquece-se logo a seguir de tudo o que ouve – repetia a minha consciência, a minha mãe, a catequista e todos aqueles a quem eu falava desta problemática de ter um padre entre mim e Deus como veículo das minhas maldades. Pois sim, mas Deus não me intimidava, já os padres que não fossem suecos, sim. Coitadinhos. E quando eles abanavam a cabeça desolados? “Olha que Jesus fica muito triste contigo, tens de ser boazinha”. Jesus triste comigo, será que ele tem tempo para isso? E imaginava Jesus a parar tudo o que estava a fazer por causa dos meus palavrões e a levar a mão à boca, chocado com as minhas mentiras. Não me fazia sentido, com tanta fome que há no mundo e aquilo que O vai chatear é eu não ter lavado a loiça? Mas o padre João era padre, não era pedagogo.

Percebi que cada confissão é um novo regresso do Filho Pródigo – que somos sempre nós – ao Pai, que nos espera de braços abertos sem julgamentos, perguntas ou desilusões.

Era pela penitência que se aferia a qualidade da confissão: quanto mais Pais Nossos e Avé Marias, melhor. Queria dizer que os nossos pecados eram coisas sérias, de gente grande. “Então, quanto é que te tens de rezar?”, perguntávamos uns aos outros, em jeito de competição. E pronto, ficávamos assim de contas feitas e Deus já podia voltar a preocupar-se com coisas mais importantes. Entre os pecados que nem às paredes confessávamos, os que inventámos, aquilo que sofremos na fila e na confissão e aquilo que rezámos, alguma coisa ficava. E Deus, pelo menos, divertia-se.

Mas a verdade é que a confissão não me fazia sentido. Se Deus perdoa sempre, se é infinitamente misericordioso, se me ama mais do que a minha própria mãe, porque é que eu tenho de Lhe pedir desculpa e ainda por cima através de um padre? Além disso, se Ele sabe tudo o que eu fiz, se Ele me conhece melhor do que eu me conheço, para quê esta trabalheira toda? Coitado do padre João. Lembro-me de ter pena das maratonas que o padre João fazia na altura do Advento e da Quaresma a ouvir as velhinhas que confessavam a vida inteira sem olhar à fila a crescer. E nós à escuta – com sorte ainda apanhávamos ideias para mais um pecadinho novo.

Eventualmente cresci. E foi o que me valeu. Aos poucos fui desaprendendo aquilo que sabia antes de me ensinarem que Jesus tem estados de alma, que se pode desiludir, abanar a cabeça e ficar triste. Intimidar-nos e fazer-nos sentir vergonha pelas nossas falhas, imperfeições e pecados sem fim. Demorei a perceber o sentido da confissão, mas cresci. Literalmente, Graças a Deus. Fui percebendo que a confissão é a Reconciliação, primeiro connosco e depois com Deus. Primeiro, a nossa aceitação por aquilo que somos, fizemos e deixámos de fazer, de ser; depois, o arrependimento, e o propósito de não voltar a fazer, de descobrir e cumprir o projeto que Deus nos reservou. O propósito de não voltar a fazer é como subir um degrau, só um de cada vez para se poder subir sem tropeçar. Percebi que cada confissão é um novo regresso do Filho Pródigo – que somos sempre nós – ao Pai, que nos espera de braços abertos sem julgamentos, perguntas ou desilusões. Um Pai que sabe das nossas falhas e imperfeições e se mantém paciente e ansioso à espera dos nossos regressos. E percebi que para termos essa graça, esse Sacramento, é preciso alguém que nos oiça, que nos faça falar, para irmos ao fundo da nossa consciência e organizá-la. Alguém que nos abençoe e que avise o Céu que regressámos. “Tudo quanto ligardes na terra será ligado no Céu; e tudo quanto desligardes na terra será desligado no céu”: um sinal visível de uma realidade invisível. A Reconciliação é mais um abracinho apertado de Deus. Com cheirinho a cera em madeira escura, de joelhos num confessionário ou a passear numa praia, não interessa. O importante é deixar ir a Ele as criancinhas.


Inês Teotónio Pereira

Palavras caídas do Céu – Corpo e alma

Nós não temos um corpo - nós somos corpo. O P. Nuno esclarece que corpo e alma não são partes soltas: são dimensões inseparáveis de quem somos - agora e na eternidade.

Neste vídeo o P. Nuno explora a relação profunda (e muitas vezes mal compreendida) entre corpo e alma. Embora a Bíblia fale pouco desta expressão, a tradição cristã convida-nos a olhar para a pessoa humana de forma unificada: não duas realidades separadas, mas uma única existência feita de matéria e espírito.

O que a Bíblia realmente diz sobre corpo, alma e espírito? O que quer dizer que “Maria foi elevada ao Céu em corpo e alma”? Porque o ser humano é uma unidade e não uma divisão?


Ir ao Presépio com o Papa Francisco - I Domingo do Advento

A luz e esperança que brotam da rocha

30 novembro 2025

Cada presépio é uma manjedoura. Presépio vem de praesepium, palavra latina para manjedoura. Esta bela tradição acompanha as nossas vidas nesta época do ano: nas casas, no trabalho, nas cidades, nos hospitais, nos lares, nas lojas, nas prisões, nas igrejas. São obras-primas de beleza em miniatura, diz o Papa Francisco, num exercício de imaginação criativa, que nos convida a fazer parte da história da salvação.

O primeiro foi Francisco de Assis que o montou, inspirado pelas grutas de Greccio. Entre o céu estrelado e aqueles buracos na terra, foi invadido pelo desejo de ver os incómodos pelos quais passou Deus para nos mostrar a salvação, como bebé deitado em palhas, entre um burro e uma vaca. Nessa primeira noite não havia figuras, somente pessoas, com flores e tochas nas mãos, invadidos por uma grande alegria.

Que noite deverá ter sido! Sob o céu estrelado, no silêncio da noite, uma discreta festa ganha proporções de universo, como a pequena luz num pavio virgem de uma vela parece esmorecer antes de refulgir com vigor.

Vezes sem conta a noite envolve a nossa vida. Tal não é ausência de Deus. Ele faz-Se presente furando o teto de escuridão que nos envolve. Mas encontramo-nos a olhar para o chão, e não para o alto. Encontra-nos a olhar para a ponta do sapato, a lamentar-nos fechados na rocha.

Jesus nasce de Maria, mas onde nasce Jesus? Francisco de Assis escolheu a tradição da gruta e gosto dessa imagem: do ínfimo da Criação, do silêncio, da rude e áspera rocha, pedra, brota a luz e a esperança. Mas nem sempre conseguimos encontrar esse lugar em nós, lugar interior, onde tal vai acontecer. Olhemos então o céu e deixemo-nos guiar: que luzes rompem a escuridão? Que memórias tenho da minha vida de gestos de luz? Que gestos de bondade rompem o pesado silêncio da solidão e me abrem ao fecundo silêncio acompanhado do Jesus que se revela.

Que o Deus-Menino nasça nos nossos corações.

P. Nelson Faria, sj
Editor Geral do Ponto SJ

Palavras caídas do Céu – Advento

Embora frequentemente associado à antecipação do nascimento de Jesus, o termo «Advento» significa «chegada» e também pode se referir a outras chegadas significativas.

O Advento refere-se ao período de aproximadamente quatro semanas que antecede o Natal, terminando a 24 de dezembro. Embora frequentemente associado à antecipação do nascimento de Jesus, o termo “Advento” significa “chegada” e também se pode referir a outras chegadas significativas.

É uma oportunidade de criarmos espaço para a oração e a relação com Cristo e com os outros.

Palavras caídas do céu é um rubrica da autoria do P. Nuno Tovar de Lemos, sjproduzido numa parceria Centro de Reflexão e Encontro Universitária (CREU-IL)/ Ponto SJ.


ADVENTO 2025

Quando reflectia sobre o Tempo do Advento que tem início neste Domingo, veio ao meu pensamento este velho ditado.

«Quem espera, desespera»

Pensei então que, em relação ao Advento, este ditado está totalmente errado.

Com efeito, a espera no Tempo de Advento, é uma espera segura, certa, infalível, porque Aquele por Quem esperamos, já está no meio de nós, tendo-se feito carne, como nós, há mais de dois mil anos, tendo vivido entre nós e por nós tendo dado a vida, ressuscitando glorioso.

O ditado referido remete-nos para uma espera ansiosa por algo que pode causar impaciência, ansiedade e frustração, levando a um estado de desespero.

A espera do Natal deve levar-nos a uma espera segura, paciente, na certeza de que O que esperamos se faz realmente presente em nós e para nós.

É uma espera em oração, em entrega, em reflexão, em reconciliação com Deus, connosco próprios e com os outros.

Uma espera assim, envolta em oração, é sempre uma espera bonançosa, uma espera cheia de alegria, uma espera que nos edifica e anima.

Não é uma espera sentado, sem nada fazer, mas sim uma espera activa, uma espera que caminha, uma espera que nos vai moldando no amor de Deus.

Afinal aquele ditado, nestas cerca de quatro semanas que vão decorrer, deve ser substituído por um versículo da Bíblia que define bem a espera neste Tempo do Advento: «A esperança não engana» (Rm 5, 5)


Joaquim Mexia Alves

Palavras caídas do Céu – Oração

No oitavo episódio de Palavras Caídas do Céu, o P. Nuno Tovar de Lemos fala-nos de oração.

Oração é dar tempo só para Deus, reservar tempo exclusivamente para estar com Ele. Ao contrário da meditação, que se concentra na autoconsciência, a oração consiste em abrir-se à presença divina. Existem inúmeras maneiras de orar, tão diversas quanto as relações humanas; cada pessoa encontra o seu método único.

O “CRISTÃO CAMALEÃO”

Vi, na net, por acaso, uma imagem de um camaleão e fiquei a pensar, com um ligeiro sorriso, que também há o “cristão camaleão”.

E o que será o “cristão camaleão”?

O “cristão camaleão” é aquele que, estando em ambiente de Igreja, mostra a sua “cor natural”, ou seja, o seu proceder e viver cristão, por vezes até com grande veemência.

Depois, quando por acaso cai no meio de uma conversa em que se diz mal da Igreja, dos Ritos, das celebrações, das exigências, da Doutrina, etc., muda de cor, para ficar igual aos que criticam, tornando-se critico também.

Perante uma discussão sobre a Bíblia em que a mesma é desvalorizada ou até considerada ultrapassada, volta a mudar de cor para concordar com as opiniões expressas e, por vezes, participa activamente também, confirmando o que é dito.

Quando à sua volta se discute Deus e se afirma que são tudo invenções do homem, novamente muda de cor, e conformando-se com o que é dito, até consegue juntar mais alguns argumentos para suportar as afirmações produzidas pelos outros.

Se confrontado pela sua prática cristã por outros que não são cristãos, que não “vão à Igreja”, muda envergonhadamente de cor, e afirma que é só rotina, que no fundo até nem acredita muito, que foi educado assim, mas está a pensar desistir dessa prática.

Aliás todos os momentos são bons para o “cristão camaleão”, mudar de cor, e conformar-se com o mundo que o confronta.

Ah, e desculpem, mas confesso que já me aconteceu ser “cristão camaleão”!

Mas depois assumo a minha cor natural de filho de Deus, de membro da Igreja, peço perdão, e Ele, o Deus Único que me salvou, abençoa-me, perdoa-me, diz-me que me ama infinitamente e que gosta muito da cor natural com que me criou, que é a única cor que me fica bem, e assim, eu vou tentando manter sempre a minha cor de cristão, discípulo de Cristo, no amor do Pai, do Filho e do Espírito Santo, em Igreja.

Joaquim M. Alves

Monte Real, 17 de Novembro de 2025

Palavras caídas do Céu – Igreja

Palavras caídas do Céu – Igreja

A Igreja é a comunidade dos batizados que querem seguir Jesus Cristo. Entra-se na Igreja pelo batismo e permanece-se pela fé. Saiba mais sobre a origem desta palavra, sobre o que significa ser Igreja, na diversidade e na unidade.

No sétimo episódio de Palavras Caídas do Céu, o P. Nuno Tovar de Lemos fala sobre a palavra “Igreja”, uma palavra cristã, que só se aplica ao cristianismo. Tem origem na palavra grega ekklesia e significava “comunidade”. Entra-se na Igreja pelo batismo e permanece-se pela fé.

“O discípulo que Jesus amava”

   Esta expressão, que é muito familiar para nós, está presente em diversas passagens do Evangelho segundo S. João e será certamente esse o motivo por que tendencialmente associamos o personagem indicado à pessoa do Evangelista, o qual teria mantido o nome no anonimato por razões de modéstia e de humildade.

   Poderá ser, mas…

   Mas algo nos diz que essa explicação parece ser demasiado simples, demasiado curta, demasiado distraída. Há alguns detalhes que suscitam algumas reflexões e que nos levam a aprofundar a razão de ser desta expressão, a quem é que ela se refere na realidade e que nos despertam para uma riqueza muito maior, que merece ser explorada.

   Em primeiro lugar, se tivesse sido por uma questão de modéstia, S. João podia perfeitamente ter omitido o complemento “que Jesus amava”, substituindo-o por outra palavra, deixando o nome diluído no conjunto. Poderia escrever apenas “um dos discípulos”. Poderia, inclusivamente, escrever o seu próprio nome, tal como fez com diversos dos restantes discípulos. (Jo 13,21–14,24)

   Por outro lado, é significativo perceber quais os momentos do Evangelho em que S. João coloca esta expressão. Com efeito, ela surge em situações que marcam dramaticamente a Missão de Jesus e da comunidade dos discípulos, da Igreja nascente, momentos em que percebemos que a Igreja é convocada a continuar a mesma Missão.

   A expressão surge no momento da última Ceia (Jo 13, 21-26 – “Um dos discípulos, aquele que Jesus amava, estava à mesa reclinado no seu peito.”), surge ao pé da Cruz (Jo 19, 25-27 – “Então Jesus, ao ver ali ao pé a sua mãe e o discípulo que Ele amava, disse à mãe: «Mulher, eis o teu filho!» Depois, disse ao discípulo: «Eis a tua mãe!» E, desde aquela hora, o discípulo acolheu-a como sua.”), ocorre na ida de Pedro ao túmulo (Jo 20, 2-10 – “Correndo, foi ter com Simão Pedro e com o outro discípulo, o que Jesus amava, e disse-lhes: «O Senhor foi levado do túmulo e não sabemos onde o puseram.»”), acontece na sequência da pesca abundante no lago de Tiberíades (Jo 21, 6-7 – “Lançaram-na e, devido à grande quantidade de peixes, já não tinham forças para a arrastar. Então, o discípulo que Jesus amava disse a Pedro: «É o Senhor!» Simão Pedro, ao ouvir que era o Senhor, apertou o saio, porque estava sem mais roupa, e lançou-se à água.”) e também no momento em que Jesus ordena a Pedro para O seguir (Jo 21, 20 – “Pedro voltou-se e viu que o seguia o discípulo que Jesus amava, o mesmo que na ceia se tinha apoiado sobre o seu peito e lhe tinha perguntado: ‘Senhor, quem é que te vai entregar?’”).

   Pelo exposto e pelo significado que estas passagens contém, começa a ficar claro que “o discípulo que Jesus amava” não diz respeito apenas a uma pessoa, não diz respeito somente a um personagem que estava presente e que registou factos a partir de um local privilegiado, mas pode ser assumido por todos os discípulos.

   Começa também a ficar claro que o que torna a expressão referenciada tão marcante é a qualidade do SER DISCÍPULO. Esse facto, só por si, faz com que sejamos amados por Jesus, faz com que todos e cada um de nós sejamos realmente “o discípulo que Jesus ama”, faz também que cada um de nós seja convocado a continuar a Sua Missão. Ser discípulo é ser amado e investido da mesma Missão que Ele iniciou.

   Essa Missão contém tudo aquilo que Ele viveu, anunciou e transmitiu: a Missão de celebrar em Sua memória a Fracção do Pão; a Missão de receber como nossa Mãe a Sua Mãe; a Missão de reconhecer nos sinais que observamos os sinais de Ressurreição; a Missão de sermos pescadores e anunciadores, mesmo quando já não temos forças para arrastar a rede; a Missão de O seguir, como o discípulo seguiu Pedro, e nós seguirmos os seus sucessores; a Missão de cumprir o mandamento novo, de nos amarmos como Ele nos amou; a Missão de nos amarmos uns aos outros como discípulos amados, dando testemunho que todos poderão conhecer, de que somos discípulos amados por Jesus, que reclinam a cabeça no seu peito, que olham para a sua como nossa Mãe, que O procuram nos sinais difíceis e inesperados da nossa vida, que O anunciam e dão a conhecer, que O seguem com amor e confiança, seguindo os sucessores de Pedro, em comunidade, em Igreja, seu Corpo místico. Como discípulos que Jesus ama!

Fernando Brites

Palavras caídas do Céu – Fé

Porque é que temos crises de fé e porque é que estas às vezes são oportunidades para crescer? Quais os meus atuais desafios de crescimento na fé? No novo episódio das Palavras caídas do céu, o P. Nuno Tovar de Lemos fala-nos de fé.

O episódio de hoje fala-nos de Fé. S. Paulo dizia e bem “O diabo também acredita que Deus existe e não tem fé nenhuma.” Mas então, o que distingue acreditar de ter fé? A fé é a decisão de estar com o Senhor e viver com Ele. A fé cristã não é acreditar, “é uma relação pessoal com Jesus Cristo”.

Novo episódio da rubrica Palavras caídas do céu todas as quintas-feiras.

Palavras caídas do céu é um rubrica da autoria do P. Nuno Tovar de Lemos, sj produzido numa parceria Centro de Reflexão e Encontro Universitária (CREU-IL)/ Ponto SJ. Em cada episódio, uma palavra simples mas essencial ganha nova luz.

Solenidade de todos os Santos e comemoração dos fiéis defuntos

Preparar os próximos dias: Porque é que a Igreja escolheu um dia para celebrar todos os santos?
E logo a seguir os fiéis defuntos?
Há alguma relação com festas pagãs como o Halloween?
É a estas perguntas que procuramos responder.

 

Se cada dia tem um santo para ser celebrado, porque há um dia de Todos os Santos?

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A Igreja acredita que todos aqueles que foram beatificados e canonizados estão junto de Deus e por isso vivem a experiência da plena santidade. Mas a Igreja acredita que nem todos os santos foram beatificados ou canonizados. Junto de Deus vivem muitos que ao longo da vida foram aquilo a que o Papa Francisco chama “santos ao pé da porta” (Gaudete et Exsultate,7), pais, mães, religiosas, religiosos, sacerdotes, leigos missionários, pessoas solteiras que foram fieis nas coisas pequenas e grandes da vida, acolhendo plenamente o dom da salvação que Jesus oferece gratuitamente.

São esses santos, que não estão nos altares mas que cruzaram a vida de tantos de nós deixando a marca de Jesus, que celebramos neste dia. A Igreja alegra-se porque neles se realizou o mistério pascal de Cristo. Entregando como Ele a vida pelos outros, são acolhidos plenamente na Sua Glória.


Desde quando se assinala esse dia e porquê no dia 1 de novembro?

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No começo da Igreja, a grande devoção dos fiéis era dirigida aos Mártires. O que se compreende porque nesses momentos os cristãos eram fortemente perseguidos e o exemplo dos mártires inspirava fidelidade e perseverança. Assim, nos primeiros séculos do cristianismo, a Igreja do Oriente dedicava um Domingo à celebração de todos os mártires.

No Ocidente, começou também a celebrar-se a festa de todos os mártires, apóstolos e anjos. Nos começos do século VII o Papa Bonifácio IV cristianizou o culto pagão de todos os deuses, celebrado no Panteão de Roma, dedicando-o à Santíssima Virgem e aos mártires. Uma vez que essa cristianização do culto pagão aconteceu a 13 de maio de 610, esse dia foi escolhido como a primeira data em que se celebraram todos os santos.

A celebração de todos os santos foi-se tornando mais popular e o seu culto foi-se espalhando. Foi então composto um ofício litúrgico próprio para celebração dos santos. Em 737, foi inserido no cânone da missa uma celebração de Todos os Santos. O Papa Gregório IV fixou a festa de todos os santos no dia 1 de novembro no século IX, data que já há algum tempo tinha sido escolhida em Inglaterra para celebrar os santos. Sisto IV daria a esta celebração o estatuto mais importante da Liturgia cristã passando a ser considerada uma solenidade.



Como podemos viver bem o dia de Todos os Santos?

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Uma das formas de viver este dia é celebrar a Eucaristia. Até porque, tratando-se de um dia Santo e de uma Solenidade, a Igreja convida todos os cristãos a participar neste Sacramento. É também um bom dia para recordar todas as pessoas que nos ajudaram a conhecer Jesus e que foram para nós testemunho de santidade, agradecendo a Deus o seu exemplo e celebrando a sua vida. Finalmente, podemos reconhecer que aspetos da nossa vida precisam de ser purificados para sermos mais fiéis à vontade de Deus, servindo gratuitamente os outros.


Porque é que o dia dos fiéis defuntos vem logo depois do Dia de Todos os Santos?

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Porque é a continuação lógica desse dia de Todos os Santos. Depois da alegria com que se celebrou a santidade dos que vivem a plena comunhão com Deus, a Liturgia dedica o dia seguinte à evocação da memória dos fiéis defuntos.

Estamos também em comunhão com aqueles que, em preparação para ver totalmente a Deus, são ainda purificados do que neles não é amor. Costumamos dizer que estão no purgatório. O início desta tradição está ligado à determinação dada, em 998, pelo Abade de Cluny, Santo Odilão, para que todos os mosteiros da sua ordem evocassem a 2 de novembro todos os fiéis defuntos. O costume foi-se generalizando e seria oficializado por Roma no século XIV.


Há alguma ligação entre o Halloween e o Dia de Todos os Santos?

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O Halloween ou Hallowe’en constitui uma forma abreviada da expressão escocesa Allhallow-even, – eve of all saints-, ou seja, “véspera de todos os santos”. Este termo aparece no século XVI, tendo origem numa festa celta, o Samhain, que marcava o fim do verão, das colheitas e o começo do Inverno. Era também a altura em que os celtas recordavam os seus antepassados. A essa festa celta estavam também associadas comida, doces e máscaras.

A emigração de povos de origem celta para os EUA fez com que essa tradição se enraizasse naquele país. Há por isso uma coincidência de nomes, mas a origem e a história de cada uma das festas são distintas.

Todos os santos e festa dos defuntos: o que celebramos exatamente?

Na festa de Todos os Santos celebramos os méritos de todos os santos, celebramos os dons de DeusNovembro é um mês que iniciamos com a lembrança da morte e dos nossos fiéis defuntos mesmo que, de fato, inicie não com a comemoração dos fiéis defuntos – dia 2 de novembro -, mas com a alegre celebração de todos os santos, dia 1 de novembro. Isto significa que antecipamos a vida em relação à morte; a vida em Deus, no Céu, de quantos são abertos, na vida e na morte, a sua bondade e a sua misericórdia, na fé, na esperança e no amor.

As duas celebrações nos colocam diante do mistério da morte e nos convidam a renovar a nossa fé e a nossa esperança na vida eterna.

Todos os Santos

Na festa de Todos os Santos celebramos os méritos de todos os santos, o que significa sobretudo celebrar os dons de Deus, as maravilhas que Deus operou na vida destas pessoas, a resposta deles à graça de Deus, o fato que seguir Cristo com todas as consequências é possível.

Existe uma multidão imensa de santos canonizados e de outros não canonizados. Chegaram à plenitude que Deus quer para todos. Celebramos e lembramos também o chamado universal à santidade que nos faz o Senhor: “Sede perfeitos como é perfeito o vosso Pai que está nos Céu” (Mt 5,48).

Finados

Na festa de finados, a Igreja nos convida a rezar por todos os defuntos, não apenas para aqueles da nossa família, ou pelos mais queridos, mas por todos, sobretudo aqueles que ninguém se lembra.

O hábito de rezar para os fiéis defuntos é antigo como a Igreja, mas a festa litúrgica foi instituída dia 2 de novembro de 998, por Sant’Odilone, monge beneditino e quinto abade de Cluny, no sul da França.

Roma adotou esta prática no século XIV, e a festa se difundiu em toda a Igreja. Neste dia comemoramos o mistério da Ressurreição de Cristo que abre a todos a via da ressurreição futura.

Nestes dias, uma das nossas tradições mais radicais é a visita aos cemitérios para ir encontrar os familiares defuntos. Momento de oração, momento para lembrar as pessoas amadas que nos deixaram, momento de união familiar.

Na comemoração dos Fiéis Defuntos, recordemos das almas

Origens 

Em vez de propor-nos, hoje, a veneração de um santo, a Igreja nos convida a comemorar, pelo nosso sufrágio, as almas dos fiéis já falecidos. A comemoração de todos os fiéis defuntos foi instituída neste dia a fim de socorrer, por boas obras gerais, os que não se beneficiam de preces especificamente dedicadas a eles. Deve-se a uma iniciativa tomada pelos monges beneditinos por volta do ano 1000. 

A data

O abade São Odilo, superior mosteiro de Cluny na França, deu ordem para que em todos os conventos filiados a esta Ordem se celebrasse um ofício pelos defuntos na tarde do dia 1º de novembro. Essa comemoração foi adotada pela autoridade da Igreja, de tal modo que, aos poucos, se tornou universal a dedicação de dois de novembro à memória dos irmãos já falecidos.

Exortação de Paulo

Essa exortação de Paulo é dirigida também a cada um de nós:

“Irmãos, nos diz São Paulo apóstolo, não queremos que ignoreis o que se refere aos mortos, para não ficardes tristes como os outros que não tem esperança. Se cremos que Jesus morreu e ressuscitou, cremos também que Deus levará com Jesus os que nele morrerem.” (ITs 4,13-14).

Dia dos Fiéis Defuntos: um dia para recordação, não tristeza

Dia de Saudosa Reflexão

O Dia dos Finados não é dia de tristeza nem lamúrias, como o é para aqueles que não tem fé, mas é dia de saudosa recordação, confortada pela fé, que nos garante que nosso relacionamento com as almas dos finados não está interrompido pela morte, mas é sempre vivo e atuante pela oração de sufrágio. A doutrina relativa aos finados põe em admirável luz a harmonia entre a justiça e a bondade de Deus Pai, de tal modo que também os corações mais frios não resistem hoje a um saudoso pensamento de piedade religiosa em favor dos irmãos falecidos.

Purgatório: o lugar de purificação

A fé nos ensina que existe um lugar de purificação pelas almas depois da morte, pois toda criatura que morre carrega faltas, misérias, dívidas espirituais por pecados cometidos, mesmo morrendo reconciliada com Deus. Essas faltas o impedem de entrar diretamente no Reino de Deus, que é o reino da santidade perfeita, da luz e felicidade. Deus, em Sua bondade, providenciou um lugar de purificação que a tradição da Igreja chamou de purgatório. O Catecismo da Igreja Católica afirma:

“O pecado grave priva-nos da comunhão com Deus e, portanto, torna-nos incapazes da vida eterna, cuja privação se chama «pena eterna» do pecado. Por outro lado, todo pecado, mesmo venial, traz consigo um apego desordenado às criaturas, o qual precisa ser purificado, quer nesta vida quer depois da morte, no estado que se chama Purgatório. Esta purificação liberta do que se chama «pena temporal» do pecado. Estas duas penas não devem ser consideradas como uma espécie de vingança, infligida por Deus, do exterior, mas como algo decorrente da própria natureza do pecado. Uma conversão procedente duma caridade fervorosa pode chegar à total purificação do pecador, de modo que nenhuma pena subsista (82).” (CIC 1472)

Temos condições de oferecer preces, sacrifícios em sufrágios das almas do purgatório

A Solidariedade Espiritual

Pela solidariedade espiritual que existe entre os batizados por força de nossa inserção no Corpo Místico de Cristo, temos condições de oferecer preces, sacrifícios em sufrágios das almas do purgatório que ficam assim beneficiadas em suas penas. Esta doutrina já era conhecida no Antigo Testamento. De fato, lemos, no Segundo livro do Macabeus que, depois de uma batalha do povo judeu contra os inimigos, Judas Macabeu mandou recolher ofertas a serem enviados ao Templo de Jerusalém solicitando orações e sacrifícios em sufrágio dos soldados tombados na guerra, pois ele concluiu: “É um pensamento santo e salutar orar pelos mortos para que sejam livres dos seus pecados” (2Mc 14,45). Também Jesus Cristo fez alusão aos pecados que não são perdoados nem nesta terra nem na outra vida.

Orações de  Sufrágio

Orações de sufrágio em favor das almas dos mortos sempre foram praticadas nas Igrejas desde os primeiros séculos. Nas catacumbas romanas onde se sepultavam os cristãos há inúmeras inscrições alusivas a preces que os defuntos solicitam dos irmãos na fé. Santa Mônica, mãe de Santo Agostinho, ao falecer perto de Roma, enquanto viajava para África, assim falava aos dois filhos que a acompanhavam: “Ponde meu corpo em qualquer lugar, e não vos preocupeis com ele. Só vos peço que, no altar de Deus, vos lembreis de mim, onde quer que estiveres”.

As almas dos nossos falecidos parecem dizer com o patriarca Jó: “Compadecei-vos de mim, ao menos vós que sois meus amigos, porque a mão do meu Senhor me tocou”.

“Santo e salutar é o pensamento de orar pelos mortos, para que sejam livres dos seus pecados.”

A Indulgência e a Oração pelos falecidos

Indulgência: 

No dia de Finados, “aos que visitarem o cemitério e rezarem, mesmo só mentalmente, pelos defuntos, concede-se uma Indulgência Plenária, só aplicável aos defuntos. Diariamente, do dia 1º ao dia 8 de novembro, nas condições costumeiras, isto é, confissão sacramental, comunhão eucarística e oração nas intenções do Sumo Pontífice; nos restantes dias do ano, Indulgência Parcial (Enchr. Indulgentiarum, n.13)”.

“Ainda neste dia, em todas as igrejas, oratórios públicos ou semipúblicos, igualmente lucra-se uma Indulgência Plenária, só aplicável aos defuntos; a obra que se prescreve é a piedosa visitação à igreja, durante a qual se deve rezar o Pai-Nosso e Creio, confissão sacramental, comunhão eucarística e oração na intenção do Sumo Pontífice (que pode ser um Pai-Nosso e Ave-Maria, ou qualquer outra oração conforme inspirar a piedade e devoção).” (pg. 462 do Diretório Litúrgico da CNBB).

Oração pelos falecidos:

Pai santo, Deus eterno e Todo-Poderoso, nós Vos pedimos por (nome do falecido), que chamastes deste mundo. Dai-lhe a felicidade, a luz e a paz. Que ele, tendo passado pela morte, participe do convívio de Vossos santos na luz eterna, como prometestes a Abraão e à sua descendência. Que sua alma nada sofra, e Vos digneis ressuscitá-lo com os Vossos santos no dia da ressurreição e da recompensa. Perdoai-lhe os pecados para que alcance junto a Vós a vida imortal no reino eterno. Por Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém! (Rezar Pai-Nosso e Ave-Maria.)

Dai-lhe, Senhor, o repouso eterno e brilhe para ele a Vossa luz! Amém.

Minha oração

“Senhor, nosso Deus, resgatai as almas dos nossos conhecidos e familiares do purgatório, além daquelas que necessitam das nossas orações. Pedimos também a intercessão para que sejamos santos e purificados nessa vida, a fim de chegar diretamente ao Céu. Amém.”

Almas do purgatório, rogai por nós!

Palavras caídas do Céu – Graça

Hoje falamos de graça, uma palavra que é a própria autocomunicação de Deus a nós, para nosso bem. Não são as coisas que Deus nos dá, mas a própria doação. Que graças estou eu a receber nesta fase da vida onde me encontro?

Hoje falamos de graça, uma palavra que é a própria autocomunicação de Deus a nós, para nosso bem. Não são as coisas que Deus nos dá, mas a própria doação. Que graças estou eu a receber nesta fase da vida onde me encontro? Novo episódio da rubrica Palavras caídas do céu todas as quintas-feiras. Palavras caídas do céu é um rubrica da autoria do P. Nuno Tovar de Lemos, sj produzido numa parceria Centro de Reflexão e Encontro Universitária (CREU-IL)/ Ponto SJ. Em cada episódio, uma palavra simples mas essencial ganha nova luz.

Novo episódio da rubrica Palavras caídas do céu todas as quintas-feiras.

Palavras caídas do céu é um rubrica da autoria do P. Nuno Tovar de Lemos, sj produzido numa parceria Centro de Reflexão e Encontro Universitária (CREU-IL)/ Ponto SJ. Em cada episódio, uma palavra simples mas essencial ganha nova luz.



Palavras caídas do céu – Deus

Deus: a maior palavra das palavras caídas do céu. Um Deus que é Pai, que nos escuta, com quem podemos falar. Jesus veio falar-nos Dele, trata-o por paizinho.

Neste quarto episódio, o P. Nuno Tovar de Lemos, fala-nos de Deus, o Pai de Jesus. Deus é um Ser pessoal, não é uma energia. É alguém, alguém que me conhece, alguém com quem posso falar.

Novo episódio da rubrica Palavras caídas do céu todas as quintas-feiras.

Palavras caídas do céu é um rubrica da autoria do P. Nuno Tovar de Lemos, sj produzido numa parceria Centro de Reflexão e Encontro Universitária (CREU-IL)/ Ponto SJ. Em cada episódio, uma palavra simples mas essencial ganha nova luz.

 P. Nuno Tovar de Lemos, SJ

Veja o episódio 1.

Veja o episódio 2.

Veja o episódio 3.

Nuno Tovar de Lemos nasceu em Lisboa em 1960. Licenciou-se em engenharia electrotécnica no Instituto Superior Técnico e em 1984 entrou na Companhia de Jesus. Estou teologia nos Estados Unidos (tendo o grau de Master of Divinity pela Weston School of Theology de Cambridge) e na Universidade Gregoriana, em Roma, onde se licenciou em teologia fundamental. Foi ordenado sacerdote em 1995 e durante 20 anos dedicou-se sobretudo à pastoral universitária. É autor de “O Príncipe e a Lavadeira” e “Textos para Rezar”. Actualmente vive em Portimão e trabalha na Paróquia de Nossa Senhora do Amparo desta cidade.

A vida são dois dias… como é que os vivemos?

O cristão não se define pelas suas próprias qualidades ou posses, mas por aquilo que se tornou ao responder ao amor de Jesus.

Pablo Neruda tem um poema muito interessante, onde fala sobretudo da forma como vivemos a vida. E diz, num dado momento, que cada dia deve ser vivido não como se fosse o primeiro, nem o último, mas como se fosse o único. Não sei se coincide exatamente com o “hoje” que Jesus nos convida a viver, como tempo favorável, mas faz-nos acertar o passo com o relógio biológico num tempo em que a pressa e a ditadura do imediato nos consomem a vida, nos dias corridos de insatisfações, de frustrações e outros “ões” que dão cabo de nós e nos tornam piores como pessoas e como humanidade.

No mês em que faço anos, lentamente a aproximar-me dos 60, mais disponível para ser avó do que mãe –  sem deixar de o ser, mas ainda contagiada pelo ritmo frenético da profissão que abracei e que não consigo deixar, embora agora noutra condição – este “hoje” e este “único” atiram-me para os braços de um certo existencialismo que tem pouco de existencial e muito de pragmatismo.

Não viverei outro tanto, embora na minha família o género feminino seja rijo e de grande longevidade, para mal dos homens que nos aturam até ao fim. Gostava de chegar mais longe na idade passando a fasquia dos setenta, naquela conta bíblica em que depois contaria mais sete e assim poderia imaginar-me a perdoar tantas vezes quantas a que Jesus aconselhou, aspirando a ganhar o Céu que Ele nos disse que estava garantido seguindo as bem-aventuranças e apenas isso, sem necessidade de andar atrás de códigos e outras leis que às vezes parecem bem longe da misericórdia de Jesus. Mas, o futuro a Deus pertence e por isso, o melhor que tenho a fazer é ser neste hoje o melhor que posso, sempre ciente de que Jesus me quer bem tal como sou, embora me reserve sempre o melhor que eu alguma vez possa ser.

Temos dificuldade em pressupor um mundo cristão como outrora.

Vem isto a propósito de um título que encontrei quando fazia uma pesquisa no Google sobre o Cristianismo e, em particular uma afirmação do Papa Francisco sobre o seu alegado fim. De facto, temos dificuldade em pressupor um mundo cristão como outrora. Não é que o Ocidente seja anti-cristão; ele é simplesmente não cristão, pela simples razão de que já não se conhece o conteúdo da fé e Jesus Cristo, muitas vezes apenas mencionado como uma figura do passado e não como uma realidade presente. O que nos deve fazer refletir sobre a dramática ausência da Igreja no mundo de hoje, especialmente entre os jovens. Contamos pouco ou nada, porque eles gostam pouco de estruturas, ainda menos de estruturas demasiado debruçadas sobre si mesmas. Vários estudos apontam para o facto dos jovens, a nível europeu, se dizerem não seguidores de qualquer religião, que parece estar razoavelmente moribunda, o que não é de todo, uma exclusividade católica.

Prosseguindo centrada nos jovens e procurando encontrar argumentos para uma resposta a este tão propalado problema, diria que eles são indiferentes à religião, não porque dispensem uma relação com o transcendente, mas porque nós, sobretudo os mais velhos, temos sido razoavelmente incompetentes em proporcionar-lhes, ou sequer permitir que eles vivam uma experiência de vida, pessoal e comunitária, graças à qual se possam tornar cristãos. É claro que o mundo de hoje não favorece, com os seus modelos de vida, a descoberta da fé, mas isso não pode ser pretexto para a falta de propostas de vida que caracteriza muitas vezes a Igreja atual.

A fé não é um ato cego, mas um despertar para a grandeza da realidade.

Na Evangelii gaudium, o Papa Francisco (tenho tantas saudades dele…) escreve que hoje o anúncio cristão deve preceder o compromisso de defender os valores morais da Igreja. No mundo secularizado, o encontro, o testemunho cristão dirigido a todos vem em primeiro lugar. À Igreja pede-se que crie as condições que favoreçam o encontro do homem de hoje com o acontecimento cristão. Não apenas com dogmas ou com “valores” cristãos, mas com uma renovada experiência de vida graças à fé. Este encontro com Jesus ressuscitado e vivo é o que faz de nós cristãos. Parece-me…

Como afirma Bento XVI na sua encíclica Deus caritas est: “Ao início do ser cristão, não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo” (§1).

A fé não é um ato cego, mas um despertar para a grandeza da realidade. Sempre que a sua verdade é colocada com simplicidade e determinação no âmago da existência cristã, a vida do homem é imbuída e reanimada por um amor que não conhece interrupções nem confins…. E o próprio universo revela uma “razão superior”.

“Cristão, que dizes de ti mesmo?” é uma pergunta que vai à essência da nossa identidade porque mais do que nos interpelar sobre nós mesmos nos coloca na relação com o amor de Jesus e na doação aos outros.

A interpelação que é feita aos cristãos açorianos no início de um ano pastoral, que é muito mais do que isso porque representa o começo de uma caminhada preparatória de uma celebração jubilar, – os 500 anos da diocese de Angra em 2034 (ainda não terei os tais 70 anos) –, ganha, neste contexto, uma importância acrescida.

“Cristão, que dizes de ti mesmo?” é uma pergunta que vai à essência da nossa identidade porque, mais do que nos interpelar sobre nós mesmos, nos coloca na relação com o amor de Jesus e na doação aos outros.

O cristão não se define pelas suas próprias qualidades ou posses, mas por aquilo que se tornou ao responder ao amor de Jesus. Não se trata de uma pergunta do género “quem sou eu”, centrada em mim, em cada um de nós, mas a partir da minha – da nossa – relação com o projeto de Deus e o amor que dá sentido à existência.

A pergunta que me é colocada desafia-me a questionar sobretudo as consequências do meu batismo, o que me diferencia de um não batizado e o que deve estar sempre presente na minha ação, que me torne diferente e seja capaz de contagiar outros nessa diferença. E as perguntas feitas a partir daquele que foi o legado da aprendizagem, sugerem-me novas questões todos os dias da minha vida: sou seguidora de Jesus porque O vivo como o caminho, a verdade e a vida ou porque me ensinaram assim? Sou colaboradora deste caminho e desta verdade ou apenas os anuncio doutrinalmente?

Interpreto o amor de Deus promovendo a sua justiça e a sua bondade ou sinto-me amada e guardo este amor para mim, sem o conseguir levar a quem me está próximo, fazendo dele um tesouro pessoal, que guardo a sete chaves como fazem os ricos, cada vez mais ricos, diante dos bens materiais, numa espécie de avareza “scroogeana”, tão em voga nos nossos dias?

Anuncio-O como a esperança da minha vida e da humanidade ferida ou transformo-o numa espécie de utopia doutrinária que espera pela eternidade sem impulsionar neste mundo o dinamismo pessoal e social que esta esperança sugere para todos e não apenas para alguns que merecem o Céu?

E poderia continuar com as várias interrogações com que me debato diariamente, diante desta interpelação que vai ao âmago do meu coração e da minha vida. Por isso, não há uma resposta única e definitiva e, porventura, a única certeza a que ela me conduz é que, para me dizer cristã e para falar de Jesus, ter a consciência de que não basta o saber acumulado de séculos e de tradição. Não basta o que aprendi na catequese e que a minha família me transmitiu. Para me dizer cristã preciso de escutar uma voz nova, a voz do espírito, todos os dias, evitando refrões em jeito de cartilha, porque é a tradição, porque sempre foi assim ou porque as coisas de Nosso Senhor não se discutem e estão escritas num código qualquer.

Regresso aos jovens porque apesar dos meus quase 60 anos continuou a perguntar porquê, como se não houvesse amanhã e uma simples resposta porque sim, me tira do sério. Dizem-me os mais próximos que é porque sou jornalista e estou deformada pela profissão. Talvez para suavizar a inoportunidade de certas questões que não podem ser nunca confundidas com atrevido relativismo.

Por isso, como sugeriu o Papa Bento XVI, que bom seria que durante os próximos tempos, enquanto pessoas que se dizem cristãs, pudéssemos ter abertura à dúvida, e que a pergunta desafiadora – Cristão, que dizes de ti mesmo? – nos impelisse a partir em busca da resposta e, neste desafio, conseguíssemos proporcionar as condições para este encontro pessoal e transformador, que é o que nos dá um novo horizonte à vida. Não em compêndios ou certezas canónicas, mas na experiência da vida e do encontro com o mundo. Porque é lá, sobretudo, que encontramos Jesus. Todos os dias.