Padre Jorge

O meu nome é Vanessa

Após o rescaldo e retrospeção do que foi o dia 26 de novembro, em que os jovens e alguns adultos da Marinha Grande receberam o Sacramento do Crisma, numa celebração muito emocionante, partilhamos aqui o testemunho de uma das nossas crismandas adultas.

“Olá, o meu nome é Vanessa! Fui crismada no Domingo, como muitos de vocês, mas eu tenho 31 anos. Foi um pouco fora de tempo…

Quando tinha 13 anos, tomei a decisão de desistir da catequese - admiro todos vós que aos 15 ou 16 anos conseguiram ter a consciência e tomada de decisão de se manterem firmes ao compromisso que fizeram convosco mesmos e com Deus; para outros terá sido uma obrigação, mas com isso digo já que não concordo.

Os meus pais aceitaram a minha decisão e disseram que se era para ir contrariada, era melhor não ir.
“Na igreja é para se estar inteiro e não com a cabeça noutro lugar”, disse senhora minha mãe. O que é para ser nosso, um dia será. Assim foi!

Há um ano e pouco, iniciei o Percurso Alpha, a edição  20.
Primeiro porque me convidaram para ser Madrinha de uma criança, mas depois foi muito mais que isso…
No Percurso Alpha conheci pessoas incríveis que me mostraram maneiras diferentes de ver a vida cristã. Explicaram-me temas de uma forma leve e descontraída e muitas vezes a cantar, comi bem e a companhia era boa. Fiz um fim de semana em Fátima que me fez dar abraços a pessoas que não conhecia de lado nenhum e isso mudou a minha maneira de O abraçar.

Hoje sei que a igreja também são as pessoas. A comunidade que nos acolhe e nos envolve.
Hoje sei que a igreja está diferente para melhor é isso deixa-me feliz.

Depois do Alpha, chamaram-me para ajudar na Pastoral Juvenil. Entrei em choque com o convite e sem pensar muito disse que sim. Seria Deus a chamar-me? Acredito que sim. Não fiz grande coisa porque eu ainda tenho muito para aprender, mas vou dando uma mãozinha. Hoje sei que a esse grupo de pessoas devo toda a minha aprendizagem que se concretizou em pleno no Domingo. Foram as primeiras pessoas a dar-me os parabéns e a receber-me com um sorriso, que eu vou levar comigo para a vida.

Hoje, acredito que a minha melhor decisão foi ter deixado o meu percurso inacabado lá atrás, porque desse modo consegui voltar com mais consciência, com mais vontade e com outros olhos, do que seria se tivesse continuado obrigada pelos meus pais.

Fico feliz pelo percurso até aqui, mas ainda há um longo caminho a percorrer.

Não deixem a chama apagar-se dentro de vocês!

I have a dream

“I have a dream…”,  Eu tenho um sonho para a minha paróquia. Não foi exactamente assim, mas bem que poderia ter sido a homilia do P. Patrício Oliveira no passado dia 01 de Outubro, na Marinha Grande.

Nesse dia a comunidade foi convidada a juntar-se para melhor se conhecer-se e dar-se a conhecer. Quem somos? O que fazemos? Porque e para que o fazemos? Foram o mote para o Dia Da Visão. Movimentos e Serviços cheios de criatividade fizeram festa, coloriram com muita alegria e vida o  Parque Mártires do Colonialismo. Escuteiros, Catequese Familiar e da Adolescência, Acólitos, Mensagem de Fátima, Oficinas de Oração e Vida, Coro, Ministros da Comunhão, Liturgia, Curso Alpha, Pastoral Juvenil, Juventude Operária Católica, Irmãs de Santa Maria de Guadalupe, Equipas de Nossa Senhora estiveram todos representados.

Houve encontro, comunhão, partilha. Tudo começou a fazer mais sentido na Eucaristia às 11h da manhã. Logo no início o P. Patrício relembrou que temos de saber para onde vamos, com quem o fazemos e como o fazemos.

Este sonho paroquial partilhado, desde o início, pelo P. Rui Ruivo e mais recentemente pelo P. Jorge Fernandes assenta na ideia na construção de um plano pastoral que faça sentido para a comunidade, onde a sinodalidade esteja presente. Onde todos caminham juntos e querendo, ninguém fique de fora.

Tudo começou num encontro para preparação e organização da vida pastoral da comunidade numa sexta-feira de manhã na Praia de S. Pedro de Moel, influenciados pela imagem de uma concha. E desta imagem passou-se para o conhecido Jogo da Glória, que todos ou quase todos jogámos em criança. Um jogo muito simples, onde ao entrar-se em jogo tudo pode acontecer. Podemos começar na casa de partida e fazer um caminho sem grandes desvios, ou pelo caminho encontrarmos vários desafios que vamos fazendo caminho dispares e em sentidos diferentes, sendo, no entanto que o objetivo é só um. Chegar à casa final. Assim funciona a nossa vida pessoal, familiar, laboral e especialmente a nossa vida no Encontro com Jesus e no caminho que queremos fazer com Ele e que se estende também aos outros.

“Tudo o que fazemos, a forma como planeamos, desenvolvemos e avaliamos deverá ter um objetivo, uma missão: fazer discípulos missionários, criar um ambiente propicio para o encontro pessoal com Deus que leve a vidas transformadas” (P. Patrício Oliveira). Todos somos diferentes. Todos temos experiências de vida diferentes; formas de socialização primária (na família) e secundária (na escola e no contato com outras instituições que não a família) diferentes; oportunidades económicas, sociais, culturais e religiosas diferentes. As comunidades paroquias são disso mesmo reflexo: as próprias experiências de vivência da fé de cada pessoa na comunidade são diferentes.

E se tradicionalmente havia como que, uma lógica uma rotina que se iniciava com o batismo em criança, a ida para a catequese aos 6/7 anos, o celebrar um conjunto de sacramentos e festas que culminavam no sacramento do Crisma ou Confirmação e depois as pessoas acabavam por ficar na comunidade paroquial ao serviço da mesma, em função das suas competências, gostos e dons e neste percurso encontravam a sua vocação: leigos, matrimónio, ou até a ordem. Mas, hoje, as pessoas mudaram. O mundo mudou. E percebemos verdadeiramente que “a tradição já não é o que era”, com tudo o isso traz de bom e menos bom.

Na catequese familiar encontramos pais que trazem os filhos e que os acompanham, porque os filhos (crianças de 7 anos) os convidaram. Adultos de 50 anos que se batizam após muitos anos terem optado por estar longe de Deus. Adultos que nunca foram à catequese, foram apenas batizados, mas que um dia são convidados para um jantar, e em que a possibilidade da mousse de chocolate é um excelente motivo para ir e vão a 2 encontros Alpha e de repente questionam-se, interrogam-se e tudo começa a fazer sentido. Adultos que constituem família, mas que não querem nada com o matrimónio e que vêm pedir o batismo para os filhos e acabam por pedir o próprio batismo e até decidem dar “o nó”.

Há uma panóplia de realidades. Para conseguirmos estar aberto a Todos é preciso cativar, tal como o Principezinho fez com a sua raposa. Primeiro criou laços. Depois criou rituais. Depois sentiu a falta e por fim “[ficou] responsável para todo o sempre por aquilo que [cativou]” (Saint Exupéry, O Principezinho).

O Jogo da Glória é também um bocadinho disto. Tem como objetivo o Discipulado Missionário e até lá chegar existem várias etapas ou fases fundamentais: Convite, Encontro Pessoal com Cristo, Liderança e serviço, Grupos de Partilha, Discipulado, Missão, Adoração e Pertença. Funcionam como um Todo. Precisamos de perceber onde nos encontramos, ou onde o Outro se encontra e fazer ou ajudar a fazer caminho. Um caminho que faça sentido para cada um, onda cada um encontre o seu equilíbrio pessoal e na comunidade e se sinta feliz.

O convite para um chá, café ou jantar, pode ser o primeiro passo. Depois podem seguir-se outros convites para ler na Eucaristia, para colaborar na catequese familiar a cuidar dos mais pequenos e rebeldes, para vir fazer oração, para vir à Missa, para vir ao grupo de jovens ou aos encontros da JOC ou do Alpha, para vir fazer parte do coro, para vir descascar batatas para a sopa da festa da Padroeira ou para vir enfeitar as ruas ou os andores, entre tantas outras possibilidades de convite. E, passo a passo, há um sentido de acolhimento, que gera a falta, e mais cedo ou mais tarde o verdadeiro Encontro com Jesus. E depois o querer tê-lo de forma mais presente na vida e o caminhar com Ele e com toda a comunidade. Uma comunidade onde todos se conhecem. Todos sabem os seus nomes, sabem o seu papel, percebem a missão de cada um. Uma comunidade que se suporta e ampara, como dizia o P. Patrício na Homilia e depois de forma bem visual concluía numa paróquia em que quem descasca uma cenoura para fazer uma filhós o faz com este sentido de missão, para que quem a vá comer, sinta verdadeiramente o amor de Deus.

Seremos verdadeiramente discípulos missionários, quando à luz do Evangelho as nossas vidas forem transformadas. E isto é uma realidade para todos. Mesmo para quem já faz caminho há muitos anos, para quem percebeu a importância de Jesus na sua vida muito cedo. Mas há que renovar permanentemente, continuar a questionar para que esta necessidade de sentir verdadeiramente a sua vida transformada, não seja uma realidade efémera, mas permanente.

“I have a dream”…

Viviana Cordeiro