No meu tempo não era assim...

Ouvimos todos isto e gostamos todos de ouvir, na minha cabeça ouço sempre a mesma voz: “já no seu tempo os seus avós diziam isso de si!”

Foi sempre assim, e se calhar,vai ser sempre assim e não deve ter mal.

Por estes dias, numa das várias conversas, que tive oportunidade de ter nas visitas, ouvia o mesmo, mas sem lamento. Era mesmo a surpresa de ver diferenças. Ouvi e senti uma ideia que há muito se ia formando, mas sem que fosse concretizada em mim de forma clara.

Há, de facto, uma diferença grande na nossa catequese, na nossa formação cristã.

A questão nem é de tempo ou de modas ou de linguagem, era uma preocupação genuína, que eu partilho, ao ver que talvez possamos estar a perder algo de importante. Demasiado importante.
Não tem que ver, apenas, embora também, com a assiduidade à Eucaristia, à catequese e à confissão.

Confesso que por vezes sinto que falhamos profundamente quando vejo gente entrar na igreja sem qualquer noção da diferença do espaço ou até respeito pelo silêncio e pelo sagrado.
Miúdos, graúdos parecem não ter nunca aprendido a fazer a genuflexão.
É um gosto ver que a igreja é um espaço onde nos sentimos confortáveis, mas teremos perdido a capacidade de educar para o sentir o espaço como sagrado, diferente, “poderoso”?
Há ainda hoje resquícios da ideia de ter que se confessar cada vez que se vai comungar. Mas foi substituído pelo: “não sei quando foi a última vez que me confessei”.

Quando pergunto aos mais novo se sabem o ato de contrição todo eu tremo quando me dizem que nunca ouviram! Quero acreditar que é de serem cabeças de pipoca e não esquecimento dos catequistas.

São neste momento 16:53 de quinta-feira, escrevo na sacristia da capela da Garcia onde cheguei há uma hora para confessar, para atender quem tem dificuldade na deslocação e quem não consegue ir a mais lado nenhum e tantas vezes nem à missa. Apareceu uma comadre.

Não sou de todo apologista do ensino pelo medo. E era disso que falávamos esta semana. O antigamente funcionava com base numa experiência de medo de não cumprir e do castigo. Não é esse o Deus que Jesus revela.
E no esforço de apagarmos esse elemento negativo, podemos ter perdido o bebé na água do banho.

Temos ainda muita dificuldade em, educando pela positiva, criar um entusiasmo. De que procura confessar-se porque se importa consigo e com quem é. E porque não as acertamos todas, procuramos um padre, no nosso caso “o” padre, para confiar o tanto que nos falta, esperançados no quanto somos capazes de fazer quando nos confiamos à misericórdia de Deus.

Estamos a chegar à semana mais marcante do nosso ano, quantos de nós já participámos no Tríduo Pascal todo? (Até porque a celebração começa na quinta e só damos a bênção final no Sábado Santo).

Preocupa-me profundamente que seja possível chegar à idade adulta e nunca ter participado na imposição de cinzas, ou não saber que há uma missa onde o padre lava os pés a pessoas!
Sinto isto como uma falha quase pessoal.

Estamos a falhar onde?

Depois em idade adulta queremos baptizar o filho para lhe dar o que os avós deram aos pais, mas já há dificuldade em saber participar na eucaristia.
Somos ainda reféns do lado festivo da tradição cujo peso a sociedade quer evitar e repudia! La diz o povo: sol na eira e chuva no nabal.

 A semana Santa está cheia de sinais e gestos que falam por si.
As equipas estão a preparar tudo para que tudo seja bem celebrado e fale por si mesmo.  

Porque não organizar a vida e participar no Tríduo de Quinta a Sábado, ver com os olhos do coração o que O Senhor tem para nos dizer ao coração através da sua liturgia?

No Tempo da outra senhora não era assim de facto, mas precisa continuar a ser algo especial, transformador do coração e da vida.