As Mães sabem sempre

Há uns anos o texto que usámos para a Via-Sacra de Sexta-feira Santa era um relato na pelos olhos de Maria. Era um texto muito bonito, emotivo, que de algum modo humanizava toda a experiência da Paixão. Humanizar no sentido de aproximar, ser algo profundamente humano, real e não apenas uma leitura que ouvimos do ambão.

Este Domingo abrimos a Semana Santa com o Domingo de Ramos e somos já brindados com todo o relato, para que os nomes, personagens, situações, sentimentos e pensamentos de todo aquele relato possam vir à memória. Ao longo da semana, talvez de uma forma muito jesuítica, acompanharemos todos os passos, os diálogos e as escolhas, as corajosas, as cobardes.

O olhar de Maria é particularmente especial, embora seja mais no espaço da nossa imaginação. Mas a esse propósito tenho visto várias abordagens muito interessantes que talvez nos possam lançar uma nova perspetiva.

Gostei muito da simplicidade dos diálogos da série The Chosen, onde deixam à nossa imaginação que Maria vai acompanhando o percurso do Filho, mais ou menos expectante, mas consciente, que nos levam ao momento da “despedida”. A Via-Sacra e a tradição do Senhor dos Passos colocam o encontro de Maria com Jesus a caminho do Calvário.

Personagem de Maria, mãe de Jesus, em The Chosen temporada 4 episodio 8 - Humildade

Nesta perspetiva vemos chegar o momento de Jesus entrar, triunfalmente, em Jerusalém consciente do que iria encontrar, do que o esperava e, portanto, também tempo de se despedir de sua Mãe.

A esse respeito cruze com estas belíssimas ilustrações, que mostrando as duas faces do mesmo momento, conduziram o meu coração nesta espécie de oração que partilho convosco neste texto pré-Semana Santa.

Não sabemos tudo, não sabemos o quanto Maria sabia ou se tinha a certeza do que aconteceria. Mas, por muito que custe admitir, as mães sabem sempre.

Sinto assim reforçar a coragem de deixar o seu Menino que era também o seu Senhor partir porque o Mundo precisava Dele.

Acho que de algum modo, nós que já sabemos “como termina a história”, podemos beneficiar deste novo olhar: corajoso, determinado, esperançado.

Gostava que estes dias nos sentíssemos esmagados pela determinação corajosa do Filho, pela coragem da Mãe que suporta (em todos os sentidos) a missão do seu Senhor.

Que estes dias não sejam apenas a memória de um passado distante e romantizado, que seja uma memória encarnada: morreu por nós; sofreu porque amava cada um; nos ecos das marteladas estão as nossas faltas e fragilidades, mas no coração de Jesus está, já, cada um de nós.

É a oportunidade de dizer sim, de nos sentirmos amados, chamados a uma vida nova.

Que, talvez como Maria, nós que sabemos para o que Ele vai na próxima semana, possamos viver esta semana de um modo novo, aberto à moção do Espírito.

Pe. Patrício Oliveira