Alegrem-se o deserto e o descampado, rejubile e floresça a terra árida, cubra-se de flores como o narciso, exulte com brados de alegria. Ser-lhe-á dada a glória do Líbano, o esplendor do Carmelo e do Saron. Verão a glória do Senhor, o esplendor do nosso Deus. Fortalecei as mãos fatigadas e robustecei os joelhos vacilantes. Dizei aos corações perturbados: «Tende coragem, não temais: Aí está o vosso Deus, vem para fazer justiça e dar a recompensa. Ele próprio vem salvar-vos». Então se abrirão os olhos dos cegos e se desimpedirão os ouvidos dos surdos. Então o coxo saltará como um veado e a língua do mudo cantará de alegria. Voltarão os que o Senhor libertar, hão de chegar a Sião com brados de alegria, com eterna felicidade a iluminar-lhes o rosto. Reinarão o prazer e o contentamento e acabarão a dor e os gemidos.
Isaías 35, 1-6a.10
É festivo o tom deste terceiro Domingo, seja aos olhos com o rosa que temos ali pronto, seja a liturgia. É o profeta Isaías que canta a esperança, a alegria, a confiança de um Deus há-de vir tocar e transformar a vida e o mundo.
(Ouçam o padre Duarte enquanto me aturam aqui um bocadinho).
Li ontem um texto que explicava o motivo pelo qual as festividades podem ser tempo de tristeza e angústia. Saudades, solidão e sentimentos familiares são potenciados nesta altura. Correria desenfreada, talvez até dificuldades financeiras.
Expectativas de querer um tempo perfeito, que corra tudo bem, o que quer que isso seja. Creio que é um conceito que só existe na nossa cabeça, o que faz com que seja virtualmente impossível corresponder às expectativas. É uma batalha perdida na origem, que só traz angústia e tristeza.
Identifiquei-me, os padres nesta altura redobram o ritmo e acho que embora não se assuma publicamente, muitos sentem que “nunca mais é janeiro!”. É raro, mas acontece muito.
Pessoalmente custa-me este atropelamento. Sou todo a favor da festa e do frenesim – é a altura do ano em que gosto mais do shopping, mas somos completamente atropelados, pelas expectativas, pelas “obrigações sociais-familiares-profissionais”. E sobre pouco espaço-tempo-disponibilidade mental para o que é essencial.
Sobra pouco espaço para ler a promessa do Isaías à luz da nossa vida. Não temos nós fragilidades, terra árida, que carregamos o ano todo na esperança que as festividades natalícias possam trazer um sopro de alívio e afinal só somam, só carregam ao peso que já temos.
Sobra pouco tempo para contemplar o Menino que nasceu corajoso para dar a vida.
Que nasceu num madeiro, quase semelhante aquele em que se entregou ainda com menos paninhos do que quando nasceu, que trocou a companhia do burro e da vaca, por dois ladrões, porque nos amava.
Porque vale a pena amar, cuidar, ser gentil e servir. Vale a pena ser radical e corajoso.
Se este tempo não traz o respiro de esperança, acho que nada trará.
Não vou fazer o discurso moralista de não gastarem dinheiro e etc e tal.
Gastem! Gastem forte com quem amam e quem vos ama. Até podem gastar com o padre, lá na Ludimusic – aquela que tem uma marca de cigarro queimado.
Mas gastem um bocadinho de tempo a parar. A respirar. Pode ser a ver as luzes de Natal, ou o presépio da igreja que a Ir. Susana e a Ir. Elvira construíram de forma absolutamente criativa.
Deixem-se tocar pela grandiosidade do que significa o Menino Deus feito homem, a cumprir a promessa de trazer vida e vida em abundância.
Gastem tempo a dar espaço para que se sintam profundamente amados.
Gastem tempo a olhar um Menino que conhece a nossa miséria e vem na mesma, para a afastar da nossa vida.
Gastem tempo a confessar-se, a fazer as pazes com Ele, com vocês...
Vestimos de rosa para ser um sinal de esperança, um sinal grande e largo (e pesado no caso deste padre), um sinal de que é possível parar um bocadinho, respirar, contemplar.
Gastem tempo a fazer o presépio, a rezar o presépio, coloquem-se na cena.
Sintam-se amados, sintam-se alvo da promessa de Isaías.
Pe. Patrício Oliveira

