Nestes dias que são os últimos, do ano, bem entendido, surgem-nos online uma série de “Recaps do Ano”, um resumo do ano vá, mas mais chique, como a malta que não corre, faz running.
E é sempre uma alegria ver as publicações que fizemos ao longo do ano, as memórias. E é sempre curioso a perspetiva diferente, que vem do distanciamento. Publicações que agora não fazem sentido, coisas que doeram e já não doem tanto; coisas que foram hilariantes e agora já só fazem sorrir.
É um exercício interessante parece-me. Na linha daquilo que fazemos quando conduzimos: olhamos para trás antes de mudar de faixa.
A isto acrescentamos a busca pelas caixas dos enfeites de Natal. Cá em casa já se ouviu 4 vezes: “era o padre Rui que arrumava”, “foi o padre Jorge” “se calhar o padre Jorge levou!”
Faz lembrar a parábola do homem que procura no seu tesouro.
Este tempo, que é o último do ano, é certamente oportuno para um recap da consciência. Vamos multiplicar as horas de atendimento, criar mais oportunidades para este encontro. Que é primeiramente connosco, com o que ganhou demasiado pó, com o que ocupa demasiado espaço.
Quem não faz isso com a casa? roupa que já não serve, os panos de cozinha meio rotos, vai fora!
Este advento do Menino, tal como o do padre Adelino, são oportunidade de confronto e nova arrumação.
Mas profunda, a sério!
Inquieta-me o discurso comum: “os pecados do dia a dia”, “os do costume”, “os normais”, “uma pessoa peca por tudo, não é? Pensamentos, palavras, actos e omissões!”
Que pensamento, que palavra, que omissão, foi ocasião de pecado?
É que se não somos capazes de identificar, não conseguimos mudar, converter.
Ou dizemos da boca para fora porque nos disseram que somos todos pecadores?
É que se é isso, meus amigos, tenho péssimas notícias para dar: isso é coisa do diabolos, o divisor!
Este sentimento genérico de sermos todos pecadores, não nos permite corrigir, converter e crescer. E em última análise, afasta-nos da Graça de Deus, na medida em que se normaliza tanto o ser pecador, que já não magoa no íntimo do coração. O que significa que não preciso pedir perdão, pois se são os pecados normais do dia a dia!
Corações contritos, magoados por si mesmo, envergonhados pelo tão pouco feito, por tanta fragilidade, pela facilidade com que pecamos, que perdemos as estribeiras, corações assim, podem encher-se de coragem e pedir perdão. E quando o pedem, encontram-no!
E quando o encontram, podem ter a certeza que tudo muda!
Não podemos olhar para estas realidades de animo leve. E não é para cair no extremo oposto do somos todos miseráveis. Isso é diabólico! Fujam disso, como fugimos do diabo.
Não fujamos do confronto interior, daquele doloroso. Aquela pilha de coisas velhas que temos protelado mexer.
O Menino precisa de um espaço limpo, livre de sujidade e até do pequeno pó que se acumula invisível.
Sem medo, demos o nosso máximo, o nosso melhor, confiantes na graça, na misericórdia de um Deus que aponta, não genericamente, mas de forma muito concreta o que é pecado, que palavra, ato, palavra e omissão fizemos que nos fizeram pecar.
E acreditem que o Natal vai ser novo e surpreendente.
Pe. Patrício Oliveira

