É um fim de semana festivo, cheio de história e de tradição, que não passa indiferente a ninguém, pelas mais variadas razões. Recordo o meu orientador de tese, que Deus o tenha lá separado junto dos santos, que me contava que na terra dele era no dia de Todos os Santos que se vestia a roupa nova!
Seja pelo tom familiar, que abre as festividades e o ataque ao açúcar das próximas semanas, e sim, já comi uma merendeira da senhora minha mamã.
Para a Igreja é um tempo especial: Céu e a Terra tocam-se unidos pela oração comum, hoje reúnem-se os três ramos das forças celestiais: a Igreja Militante, a Padecente e a Triunfante.
Nós, a Igreja Militante: em constante "luta" (militância) contra o pecado, o mal e as paixões da carne, numa jornada de fé e santificação.
A Igreja padecente: as almas que morreram na graça de Deus, mas que ainda precisam de purificação antes de entrarem no Céu, sofrem uma purificação no Purgatório para se tornarem dignas da santidade necessária para entrar na alegria do céu.
E a Igreja Triunfante: os santos e todos os fiéis que já atingiram a salvação e estão em plena comunhão com Deus no Céu. Contemplam a glória de Deus e intercedem pelos fiéis que ainda estão na Terra e pelas almas que se purificam no Purgatório.
Unidos no mesmo esforço, chegar a Deus, inspirados e suportados pelo Amor que é Deus, de olhos postos na Cruz do Nosso Salvador Jesus Cristo.
Rezamos uns pelos outros, uns com os outros, lado a lado, na mesma trincheira da batalha que é a vida.
Gosto sempre de fazer a viagem a perceber de onde surgem as palavras, sobretudo estas que usamos com tanta frequência que faz com que nem sempre tenhamos o peso real da palavra.
Sei, por exemplo, que as esposas da paróquia tendem a dizer que os maridos são uns santos, ou santinhos conforme o caso. Vejamos o que diz o Gemini.
Origem no latim: O termo tem origem direta no latim sanctus, que denotava algo sagrado, que devia ser tratado com respeito e respeito por ter sido consagrado.
Sancire: Sanctus é o particípio passado do verbo sancire, que está relacionado a um deus romano chamado Sancus. Ele era o deus das promessas e juramentos, e o verbo tinha o sentido de "consagrar" ou "tornar sagrado".
Significado: Assim, "santo" descreve algo ou alguém que é considerado consagrado, separado ou digno de veneração.
Mas vem ainda do Hebraico - Qadosh
A palavra “Qadosh” (santo) significa algo que é “outro” (diferente) – o oposto daquilo que é comum. A palavra vem carregada de um sentido de santidade e consagração.
Santo, sagrado ou separado. A sua raiz transmite a ideia de ser “cortado fora” ou “apartado” para um propósito especial, não implicando necessariamente a ausência de pecado, mas sim o pertencimento a Deus e a separação do mundo profano.
Parece estranho, mas para mim tem um sabor carinhoso, imagino o carinho com que reservamos algo especial para alguém especial. No caso, Deus que na imensidão da criação nos reserva para Si, para um desígnio maior: sermos Dele. Chamados a ser santos, não porque perfeitos, mas porque é voltar a casa. É retornar a quem nos criou à sua imagem e semelhança.
E quando somos de alguém não nos enche cá dentro o coração?
Lá em casa reza a lenda que a versão jovem do meu pai com 24 anos, me mostrava orgulhoso aos colegas de trabalho: “o meu filho”. Mas não só: “quero apresentar-te este meu amigo”. “Este é cá dos meus!”
E nós somos dos Dele. Criados, amados, chamados, predestinados.
Os santos que celebramos no dia 01 já chegaram a casa. porque ainda aqui sentiram que era lá que pertenciam, era a Ele.
Os que celebramos no Domingo estão já à porta, mas o caminho estava barrento da chuva, e ainda estão a limpar os sapatos, a tirar o sobretudo e a descalçar-se para entrarem, finalmente.
É um fim de semana de encontro de família, o Céu toca a terra: “Venham depressa! A mesa está pronta”, diz a SMS. E a nossa resposta? estou só a acabar de tomar banho? A caminho? (e sabemos bem que quando dizemos que vamos a caminho, ainda é dentro de casa).
Celebraremos os Fiéis Defuntos de quem temos saudades, mas recordaremos a necessidade de morrer para tanta coisa que não somos nós, que não é nossa, não é Dele. E teremos coragem de o assumir, de o dizer, de o viver. Sem medo nem vergonha: Somos de Cristo, seremos Felizes.
No entretanto, não deixo de imaginar Deus Pai, ali no Pão Quente: separe-me aí uns pães, que eu tenho visitas amanhã.
Padre Patrício Oliveira

