Vi, esta manhã, uma multidão de pais e miúdos a caminho da escola.
Senti-me o S. João a ter as visões do Apocalipse. Professores que já não sabem estacionar o carro. Dois terços dos pais não sabiam que o portão da escola já não é onde era no tempo deles.
Um dos miúdos há tinha bigode! Pedi uma opinião técnica a quem tem mais olho que eu e foram unânimes: não pode ter mais de 12 anos, mas já mandava uma bigodaça que envergonharia a tia do Raúl Solnado. E logo a seguir outro, tão franzino que eu juraria não ter peso para andar o no quinto ano.
Mas lá iam todos. Os miúdos ensonados, os pais num misto de alívio que as férias terminaram, mas um coração apertado. Imagino que todos tenham medo de que a escola não suporte os filhos e os devolvam antes de poderem almoçar sossegados.
Imagino os pensamentos, os sonhos, os medos que se juntam nestes dias.
Para os pequenos é uma mudança grande, radical, há medo expectativa.
Há pais assustadíssimos, que não chegando a ansiedade do dia, ainda se confrontam com o desapego com que os filhos os deixam ao portão.
E há os outros que precisam explicar ao filho que tem de ser, que tem de largar a perna da mãe, mesmo que aquele coração grite “FICA COM O MENINO EM CASA PARA O RESTO DA VIDA!”
Recordo uma família que precisou ensinar o menino a ir de autocarro, sozinho, quinto ano.
Pela frente: tu és capaz, tu és crescido, confiamos em ti!
Pela frente seguiram a criança discretamente a pé e atrás do autocarro durante uma semana, só para ter a certeza.
Hoje cheirava a sonhos, expectativas, a ansiedade e determinação e um bocadinho a medo, coisa pouca.
Estamos às portas do fim de semana em que celebramos a “Exaltação da Santa Cruz” e fui assaltado por uma ideia palerma: será que Deus Pai também tinha o coração apertado quando O Filho veio ter connosco?
Sabendo para o que ia, o que era necessário. A dor, o esforço que seriam necessários.
Talvez pudesse ser de outra maneira, diríamos nós, para não roçar aqui a heresia.
É também um coração cheio, confiante. Ofereceu-nos o Filho por amor, lançou-se numa aventura que para nós significa esperança, nova oportunidade, vida nova!
Porque os pais são todos iguais: querem o melhor para os filhos, mesmo que o coração fique pequenino e fiquem sem ar.
No amor dos pais, revejo e projeto o Amor de Deus pela humanidade.
Na exaltação da Santa Cruz, recordo o sacrifício dos pais, a doação, a entrega que nos/me fizeram chegar aqui.
E assim brota uma tímida, mas sentida oração:
Obrigado. Aos pais que nos levaram ao portão da escola.
Obrigado ao Filho que nos abriu o portão do Céu.
Obrigado ao Espírito que nos conduz no caminho.
Obrigado ao Pai que nos aguarda do outro lado do portão celestial.
Pe. Patrício Oliveira
Para quem tem o latim enferrujado:
Hic Domus Dei est et Porta Coeli significa: “Aqui(Esta) é a casa de Deus e a porta do céu”
Célebre frase, que se encontra em muitas igrejas, nomeadamente na capela de S. Pedro de Moel.