Homem justo e simples, José leva no seu coração o grande mistério que envolve Maria. Homem pragmático, ele sonha com a vontade de Deus e põe-na em prática. José é de uma importância inversamente proporcional à sua presença nos relatos do Evangelho. Não lhe é conhecida uma única palavra e desaparece sem deixar rasto. Exagerando, arrisco dizer que mais discreto do que José, só Deus e a sua graça.

José tinha os seus planos: levar uma vida simples como carpinteiro, homem artesão, em Nazaré, casar-se com uma jovem e, certamente, ter filhos e gozar a sua velhice. O anjo que aparece a Maria troca-lhe os planos e ele, homem virtuoso, planeia renunciar ao casamento sem criar escândalo. Mas um anjo aparece em sonhos e confirma a vontade de Deus expressa na gravidez de Maria. Esta é uma graça que por vezes peço ao Senhor, quando tenho essa liberdade: sonhar com a sua vontade.

José não se impõe a Deus. Não impõe os seus planos a Deus. Num tempo com tanto ruído, ele inspira-nos a cultivar o silêncio e a discernir a maior glória de Deus. José faz o que tem a fazer, mas não ocupa o centro. Mostra que a autoridade não é sinónimo de domínio, mas sim serviço. Num tempo de redes sociais e de desejo de protagonismo, ele mostra a real liderança, em obras, sem levantar a voz nem se fazer ‘à fotografia’.

José cuida da família emigrando. Quantos “Josés” conhecemos hoje? Que valor lhes damos? Quantos homens e mulheres de trabalhos humildes, serviçais, que tudo fazem pelas suas famílias, e cujas caras nunca veremos nas nossas redes acompanhadas de milhares de likes e de partilhas?

José é esposo, pai e companheiro. É uma inspiração para todos, mas principalmente para os homens de hoje. Vive à escuta, trabalha e cuida. A sua autoridade brota do serviço, protege o que é frágil com a coragem de quem se levanta de noite para garantir o pão à sua família e não procura atalhos. Mostra que tudo brota da liberdade para mudar de rumo indo onde Deus nos chama.

Que o Deus-Menino nasça nos nossos corações.

P. Nelson Faria, sj

Editor Geral do Ponto SJ

Desafio #4
Agradecer a vida discreta de um pai. O seu testemunho. Recordar os homens e todas as pessoas que sustentam as suas famílias sozinhos, em sacrifício. Os esquecidos e deixados para trás, que se colocam no último lugar e nos mostram, com o testemunho, a beleza evangélica da discrição.
Atuando assim, eles são como Deus.