Domingo VIII Tempo Comum - Ano C

O Evangelho desta semana faz referência ao nosso crescimento pessoal, tanto humano como espiritual. Ao longo da nossa vida enfrentamos desafios e temos dificuldade em discernir o caminho certo. Nessas alturas, por vezes, somos tentados a seguir por caminhos que não conduzem à felicidade, ao encontro com Deus Pai, guiados por ideologias e crenças que justificamos com “os outros”.

Somos seres de comunidade, que caminhamos juntos na vida social e religiosa. A maioria das vezes apontamos a trave nos olhos dos que caminham connosco, em vez de trabalharmos em nós para removermos as nossas e sermos farol que guia pelo exemplo. Não somos mais do que ninguém, não somos senhores de toda a verdade e toda a sabedoria, para sermos mestre de alguém. Devemos viver na humildade de não julgar. Só devemos olhar para nós, para as nossas atitudes, identificar as nossas fraquezas e o que sai do nosso coração. Temos de reconhecer as nossas limitações e falhas humanas, e diariamente fazer um trabalho de melhoria pessoal. 

Tudo começa por meditar na Palavra de Deus e na oração, pedir a Deus por nós próprios, que nos ajude a clarificar os nossos pensamentos e atitudes. Temos de ser o exemplo da conversão com atitudes e não com palavras. Só assim podemos escolher viver cada vez mais parecidos com Cristo e, desta forma, sermos exemplo para a comunidade, incluindo os nossos filhos. Isto é percorrer o caminho da fé, procurando todos os dias praticar boas ações. Assim, seremos semelhantes à tal árvore, que se poda retirando os ramos doentes no Sacramento da Reconciliação, rega com o adubo da oração e bebe da fonte de vida que é a Eucaristia. Depois desta caminhada, esta árvore dará bons frutos bons.

3º ano de Casal de Malta

Domingo VII Tempo Comum - ano c

Jesus ensina que o amor aos inimigos é essencial para seus discípulos, exigindo que amem, façam o bem, abençoem e orem por aqueles que os maltratam. Esse ensinamento rompe com a lógica humana tradicional e amplia o mandamento do Antigo Testamento sobre o amor ao próximo.

Para Jesus, não há limites para o amor: ele deve ser estendido a todos, independentemente de identidade ou atitudes.

Jesus apresenta exemplos práticos desse amor incondicional e enfatiza que não se trata de passividade diante da injustiça, mas de romper com o ciclo de ódio e violência, promovendo a reconciliação. Ele resume essa atitude na “regra de ouro”: fazer aos outros o que se deseja para si.

A razão para essa exigência está no próprio Deus, que ama e é misericordioso com todos. Como filhos de Deus, os discípulos devem refletir essa misericórdia no mundo.

O ensinamento de Jesus sobre o amor incondicional e o perdão continua a ser profundamente relevante nos dias de hoje, especialmente num mundo marcado por conflitos, polarização e desigualdades. Vivemos numa sociedade onde o ódio e a intolerância se manifestam de diversas formas—seja através de discursos agressivos nas redes sociais, guerras entre nações ou divisões dentro das próprias comunidades e famílias.

A proposta de Jesus não é simplesmente um ideal inatingível, mas um desafio concreto para transformar o mundo através da compaixão e da misericórdia. Amar os inimigos e perdoar os que nos fazem mal não significa ser conivente com a injustiça, mas sim quebrar o ciclo de violência e ressentimento que perpetua o sofrimento.

Na prática, este amor pode ser visto em ações de solidariedade, no acolhimento aos mais vulneráveis, na disposição para ouvir e compreender quem pensa diferente. Hoje, mais do que nunca, precisamos de testemunhas vivas desse amor—pessoas que escolham a reconciliação em vez do ódio, o diálogo em vez da agressão, a paz em vez do conflito. O verdadeiro discípulo, conforme descrito no Evangelho, não se limita a proclamar palavras bonitas, mas encarna o amor de Deus no dia a dia, tornando-se sinal de esperança num mundo que tanto precisa de cura.

2º ano do Casal de Malta

Domingo VI Tempo Comum - Ano C

Reflexão nas maldições

Hoje, ao ler a clássica passagem das bem-aventuranças, sinto que a maioria das pessoas detém-se na parte superficial das mesmas. Muitas pessoas pensam nas bem-aventuranças como sinónimo de uma “recompensa” divina por ser bom. Ou pior, vêm as maldições com um acto divino de vingança pelas pessoas que são más, sem nunca examinarem dentro de si a sua maldade. Todos nós somos a bênção e maldição em certo ponto da vida.

Todos nós bendizemos e amaldiçoamos com a mesma língua e com as mesmas mãos, e ainda assim somos como cegos no que toca a julgamentos, usando medidas diferentes na balança do que é justo ou condenável em mim e nos demais. E pior que este pensamento é a linha de pensamento que interpreta esta passagem como um Deus vingativo. Ora, a estes convido a que me respondam a uma simples pergunta: Como pode um Deus ser vingativo e ao mesmo deixar-se morrer pela criatura? Não vos soa a algo irracional? O amor é irracional. A vingança é estratégica. Ora se amássemos porque é racional, caiam por terra todas as razões para amar… todos falhamos.

Esta reflexão de hoje não é a típica reflexão de como devemos ser bons, ou não é uma reflexão para trazer apenas “sentimentos bons e calorosos”.

Convido-vos a olhar para as maldições, e compreender como são fruto do amor de Deus.

A perspetiva de Jesus quando diz “aí de vós” é um sentido de alerta, de agitar o barco. Quem ouve alguém a falar “aí de ti, meu filho”, não sente logo uma sentinela interna a berrar aos ouvidos da consciência que estamos a fazer alguma asneira?

Olhemos para a primeira maldição: “Mas aí de vós, os ricos, porque já recebestes a vossa consolação.” Muitos pensam, “esta é simples, Deus castiga quem tem muitas riquezas porque a riqueza não é compatível com Deus”. De certa forma não está errado, mas deixa escapar a essência e profundidade desta conclusão, podendo entrar em falácias. Para isso convido o leitor a refletir na passagem do Rico e do Lázaro. Vamos compreender, qual foi a razão da condenação do rico? Surpresa: não foi a sua imensa riqueza! – mas a incapacidade não ter tido compaixão por Lázaro, que era miserável. Deus não convidou o rico a fazer-se pobre ou a deixar tudo e vender aos pobres,

mas para partilhar a sua vida com Lázaro, ajudá-lo fisicamente, financeiramente e amorosamente e a erguê-lo como sendo seu semelhante (riquezas que começam, mas ultrapassam os bens materiais: a atenção, o carinho, a empatia – mas isso fica para outro tópico). A condenação do rico foi autoimposta, e é este o fundamento desta reflexão: As maldições não são divinas, mas fruto da nossa incapacidade de estarmos atentos ao próximo, a incapacidade de olhar para além de nós mesmos.

Seria contraproducente dizer que Deus quer que passemos fome para sermos saciados só no Céu. Não é Ele o mesmo Deus que nos deu o Maná?

Não é o mesmo Deus que multiplicou pães e peixe? Não é o mesmo Deus que fez a pesca milagrosa, de uma abundância tão forte que nos faz quase rasgar as redes? Então o que nos quer dizer é que nos condenamos a nós mesmos quando apenas saciamo-nos a nós, quer seja nos alimentos ou nos desejos.

Seria errado dizer que Deus não gostasse de nos ver sorrir, ou não é o mesmo Deus que libertou os judeus do Egipto e que brotou deles um cântico de alegria? Não é o mesmo Deus que dá a alegria pelo Espírito Santo, que irradiou nos Apóstolos, mesmo até à morte? O mesmo Deus que dá uma força interior e um motivo de sorrir a tantos santos, mesmo no meio de tribulações às quais não teríamos capacidade? E a alegria de Sara e de Isabel, ao serem mães? E a alegria das bodas de Caná? A Bíblia está cheia de grandes alegrias. Uma alegria amaldiçoada é por exemplo aquela que despreza o próximo, aquela que se alimenta das fragilidades dos outros para nos fazer sentir bem, porque somos mesquinhos.

Finalmente, a última maldição é simples: tantos de nós procuram a vaidade para se sentirem preenchidos, querem o reconhecimento dos outros. Mas a bom dizer evangélico: “em verdade vos digo, já receberam a sua recompensa”. Não sejais como os hipócritas, que gostam de ser vistos nas sinagogas, a rezar, a dar esmola, etc. Deus não condena os elogios, sobretudo os que são feitos com sinceridade e bem-intencionados, e igualmente incentiva à humildade no reconhecimento – Obrigado. Deus condena os que vivem em função da procura dos mesmos, e deixam que estes preencham os pobres egos e os inflamem para se sentirem completos.

Como espero que o leitor tenha concluído, não é Deus que castiga ou vinga-se das pessoas más – somos todos maus. Outra surpresa: (por isso se diz) estamos todos condenados! Mas a graça e a verdade do Evangelho e o exemplo de Jesus é que a salvação começa em deixar-se levar pelo Espírito quando grita em ti “ai de ti” que não é este o caminho que tenho para seres feliz! Abre o teu coração, deixa que a mensagem ecoe – é fruto carinho do Pai quando Ele te exorta - mesmo que não gostes, e deixa-te transformar pela graça que te convida à bondade, que te convida sempre a sair do egoísmo e a olhar para quem está à tua frente. A riqueza, o riso e a saciedade não são males em si mesmos, mas tornam-se uma "maldição" quando isolam a pessoa do amor e da partilha. E é por isso que “é difícil para um rico entrar no Reino dos Céus” porque a riqueza tende a endurecer e fechar corações.

Rico leitor, deixa que Lázaro te transforme. Não queiras ser tu o rico que transforma Lázaro. Pode ser que ambos aprendam a pobreza de espírito, a misericórdia e a mansidão.

Daniel Pinto

Domingo V Tempo Comum - 2025

No Evangelho (Lc 5,1-11), São Lucas narra:
O chamamento dos primeiros Discípulos de Jesus.

Naquele tempo, Jesus estava nas margens do lago de Genesaré, na proximidade do mar da Galileia.
Ali também se encontrava uma grande multidão que procurava alimento para a vida, pela Palavra de Jesus.
Junto ao lago encontrava-se um grupo de pescadores que procurava na pesca o seu alimento. Porém, as suas barcas estavam paradas e os pescadores lavavam as redes.
Vendo o desânimo nos seus rostos, Jesus entrou na barca de Simão pedindo para a afastar um pouco da margem. Sentou-se e começou a ensinar palavras de esperança, palavras de vida eterna.

Aqui encontramos Jesus procurando formas de chegar a todos, conseguindo que aquela inúmera multidão O ouvisse falar do Reino de Deus. Desta forma, leva-nos a pensar que a barca de Simão (Pedro) é a "Igreja" onde Jesus nos convida a entrar; o lago (água) pode representar a "Vida" dos que procuram alimento para o corpo e para a alma.

Acabando a Sua pregação, dirigiu-se a Simão e pediu para que lançasse novamente as redes ao lago para pescar.
Simão ficou perplexo com o pedido de Jesus. Ele e os seus amigos eram pescadores experientes e sabiam que era difícil haver peixe durante o dia, até porque estavam cansados e desanimados por terem trabalhado durante a noite e sem terem pescado nada.

Apesar de tudo, Simão chamou-O de Mestre – porque conhecia o poder da Sua Palavra – obedeceu-lhe e disse-lhe: "Já que O dizes, lançarei as redes". E depois de as lançar o inesperado aconteceu aos olhos de todos os pescadores; redes tão cheias, que tiveram de pedir ajuda.
Simão, na sua condição de humilde pescador, prostrou-se diante dos pés de Jesus, dizendo: "Senhor, afasta-Te de mim, que sou um homem pecador".

Este momento foi muito importante para Simão e todos os seus companheiros, apesar do temor que se apoderou deles. Jesus disse-lhe: "Não temas, daqui em diante serás pescador de homens".
E assim acontece o primeiro milagre na vida de Simão Pedro, porque escutou a PALAVRA, confiou no Seu Poder, obedeceu ao MESTRE reconhecendo N'ELE o SENHOR.

Reflexão

- Jesus escolheu, chamou e convidou Simão Pedro. Amou-O não só pelo que era, mas também pelo que viria a ser.

- Quando escolhemos seguir Jesus, Ele ajuda-nos a compreender e alcançar um propósito maior na nossa vida.

- Apesar da nossa pequenez, não devemos desistir. Devemos ter capacidade de pedir ajuda quando nos sentimos frustrados perante a vida, quando não temos capacidade de esperar ou quando a nossa rede volta vazia porque não alcançámos os nossos objetivos.

- Procuremos agir como Simão. Ter confiança nas palavras do Mestre e considerar a importância da obediência à Palavra de Deus, até mesmo quando temos dificuldade em compreende-La ou quando as nossas experiências humanas nos parecem mostrar o contrário. Jesus chama pessoas comuns – como chamou a Simão Pedro e aos seus companheiros – para realizarem obras extraordinárias em Seu Nome. Chama-nos como somos e convida-nos a entrar na sua Barca, permitindo que nos encontremos com o Senhor.

- Só temos que dar um salto na Fé, como fez Pedro. Com humildade, fazer do caminho uma missão de entreajuda e partilha, e deixar que ELE nos ilumine e conduza na nossa Missão como Cristãos.

- Jesus também nos diz: "Vem, não tenhas medo. De hoje em diante farei de vós pescadores de Homens".

Mães do quinto ano da catequese
Centro Igreja Paroquial

Apresentação do Menino Jesus no Templo

Quarenta dias após o nascimento de Jesus, Maria e José foram ao Templo para fazer, conforme previa a Lei, a apresentação do Menino e a Purificação da mãe. Apesar de Maria e Jesus não precisarem de cumprir este preceito, pois Jesus é o autêntico Cordeiro de Deus que vem tirar os pecados do mundo e Maria concebeu e deu à luz virginalmente, levaram a cabo o preceito em estrita obediência à Lei de Deus.

A oferta de José e de Maria "um par de rolas ou duas pombinhas" representa a humildade e simplicidade da Sagrada Família. O espaço familiar torna-se a escola onde se aprende o amor, a solidariedade, a partilha, o serviço, o diálogo, o respeito, o cuidado e o perdão.

Simeão e Ana, cada um à sua maneira, reconhecem no menino que se apresenta no Templo, o cumprimento das promessas de Deus. Vêm nesse menino uma luz que ilumina o caminho e a vida dos homens.

A luz trazida por Jesus ao mundo é um chamado à fé e esperança. Este momento de revelação, promessa e esperança destaca a importância de reconhecer a presença divina e permitir que essa luz guie as nossas vidas.

Nesta leitura, sentimo-nos também inspirados por Simeão e Ana a sermos perseverantes na fé e a estarmos atentos aos sinais de Deus na nossa vida. Ambos viveram anos dedicados a Deus, confiando nas promessas divinas, mesmo sem saber exatamente quando elas se cumpririam. A perseverança de ambos convida-nos a refletir sobre a paciência e a confiança necessárias na nossa própria caminhada espiritual."

2º ano da Catequese da igreja Paroquial

Domingo III Tempo Comum - Domingo da Palavra de Deus 2025

Neste domingo celebra-se em todas as dioceses do mundo o Domingo da Palavra e este ano o tema está imbuído no espírito deste tempo de Jubileu que estamos a viver. O Papa Francisco propôs como mote para reflexão a frase do salmo 119 “Espero na tua Palavra”.

Uma nota enviada à Agência Ecclesia * refere que “trata-se de uma iniciativa profundamente pastoral que o Papa Francisco desejou para que as pessoas compreendam como é importante, na vida quotidiana da Igreja e das comunidades, a Palavra de Deus”.

O texto do Evangelho desta semana, escrito por S. Lucas (Lc1, 1-4;4,14-21), vem sublinhar esta presença viva, intemporal e atual da Palavra de Deus e não só do Novo Testamento, onde a Palavra de Deus encarnou em Jesus Cristo, mas também no Antigo Testamento.

Jesus depois de ser batizado, cheio do poder do espirito Santo, e de iniciar a sua vida pública, regressa à Galileia, mais propriamente na Sinagoga de Nazaré, onde como todos os judeus, ao sábado,  Jesus vai ouvir e partilhar a Palavra de Deus. O texto refere que Jesus “ensinava”. E neste dia Jesus “levantou-se para fazer a leitura “e foi-lhe entregue o livro do profeta Isaías. E depois de ter lido o texto “«O Espírito do Senhor está sobre mim, porque Ele me ungiu para anunciar a boa nova aos pobres. Ele me enviou a proclamar a redenção aos cativos e a vista aos cegos, a restituir a liberdade aos oprimidos e a proclamar o ano da graça do Senhor», Jesus afirma “Cumpriu-se hoje esta passagem da Escritura que acabais de ouvir".

Esta Palavra “Hoje” vem até aos nossos dias e no início do texto de Lucas ele faz uma dedicatória a um “Teófilo”, cujo nome significa “amigo de Deus”. E todos nós somos amigos de Deus. Por isso aplica-se a cada um de nós, na nossa vida, na relação com os outros e connosco próprios.

Há um paralelismo com o Antigo Testamento, onde os homens inspirados pelo Espírito de Deus orientam o povo para Deus, que é onde encontrarão, o caminho para a Terra Prometida e esperam Aquele que há-de vir e Jesus diz “Cumpriu-se Hoje”. Jesus assume-se como sendo o Enviado de Deus para  dar cumprimento às profecias messiânicas e anunciar a sua missão que veio transformar o Mundo, e ainda hoje, se lhe abrirmos a porta e O deixarmos entrar Ele transforma as nossas vidas.

Isaías utilizou na sua escrita imagens reais de pessoas que na época viviam à margem, mas estão, ainda hoje, existem do ponto de vista material, mas também espiritual, na nossa sociedade.

Os pobres são uma realidade cada vez mais presente no nosso mundo, quer por falta de bens essenciais para uma vida digna, quer de saúde, quer os pobres em espírito, aqueles que ainda vivem como cegos, porque não querem ver. Os cegos não vêm com olhos, mas têm os outros sentidos muito apurados. Mas os que não somos verdadeiramente invisuais, não só, não conseguimos ainda entender a Palavra de Deus, bem como perceber a mensagem de Jesus, como demonstramos muita falta de gratidão por tudo o que Deus nos dá , quer de forma consciente ou inconsciente e pelas nossas ações. Muitas vezes afastamos Jesus da nossa vida, tornamo-nos cativos e oprimidos no e pelo nosso próprio egoísmo e não vemos verdadeiramente o que é importante na vida: o Amor. E como diz Paulo na 1ª. Carta a João” Aquele que não ama não chegou a conhecer a Deus, pois Deus é amor" ( 1 João 4,8).

 

Este Texto ajuda-nos a fazer uma auto-reflexão. A olhar para a nossa vida e a perguntarmo-nos se estamos a viver de acordo com os valores que Jesus nos ensinou e se estamos efetivamente a amar os outros como Ele nos amou. Mas para isso temos de saber como é que Ele nos amou e, portanto, também nos questiona se estamos a ler a Sua Palavra e a dar-lhe verdadeiramente importância.

Ajuda-nos também a reconhecer a Missão divina de Jesus e olhar para a Cruz e na sua morte e Ressurreição reconhecer o seu perdão, o seu amor e a viver a nossa cruz também dessa forma. A ver na sua mensagem uma mensagem de libertação, esperança, salvação e uma inspiração para a ação. Apesar de todas as dificuldades que temos no nosso dia a dia, Ele está sempre connosco para nos dar a força necessária para não desistir. Ele inspira-nos a segui-lo, a querer ser e fazer como Ele. A sentir-nos chamados a algo maior, a servir e a fazer a diferença na vida dos outros que estão à nossa volta.

 O Papa Francisco dizia aos jovens, nas JMJ em Lisboa em 2023 “Não tenham medo!”. Mas não se aplica apenas aos jovens, é  para todos nós. Estando mais perto de Deus, da sua bondade e misericórdia, para connosco próprios e para com os outros, a vida corre de uma forma mais leve e sem medos, porque Ele está connosco.  E não só de forma individual, mas também na comunidade.  Tal como Jesus, nós recebemos o Espírito Santo pela primeira vez no nosso batismo e reforçamos a sua presença ao receber o sacramento do Crisma que nos incentiva, tal como Jesus aos Apóstolos, no dia de Pentecostes, a ir pelo mundo e anunciar a boa nova. E eles foram e criaram comunidades por onde passaram. E este texto exorta-nos também à vida em comunidade. A reconhecer que somos chamados a fazer parte de uma comunidade que partilha os mesmos valores e a mesma fé. Uma comunidade que caminha junta e que celebra junta esta vida nova em Jesus Cristo, todos os domingos na Eucaristia, e desta forma fazemos também como Jesus que ia à Sinagoga ouvir a Palavra de Deus. Encontrarmo-nos com a comunidade e com Ele, “pois, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, eu estarei no meio deles” (Mt18,20) e fazemos memória D´Ele, como Ele nos pediu na última ceia.

"Cumpriu-se hoje esta passagem da Escritura que acabais de ouvir."  A Palavra de Deus é intemporal e se a deixarmos agir na nossa vida, seremos verdadeiramente transformados por Ela. Uma Palavra que , diz-nos o Papa Francisco “ não se reduz a um livro, mas que está sempre viva e torna-se um sinal concreto e palpável”.

 

Grupo de catequese familiar do 4º. Ano
Centro de catequese de Picassinos

 

 

*https://agencia.ecclesia.pt/portal/events/jubileu-2025-dioceses-do-mundo-celebram-o-vi-domingo-da-palavra-de-deus/

Domingo II Tempo Comum

As Bodas de Caná, narradas no Evangelho de João, são um evento significativo na vida de Jesus.

Este milagre, onde Jesus transforma água em vinho durante uma festa de casamento,  é um momento de transformação e renovação.

O casamento é uma celebração, e a falta de vinho poderia ser vista como um grande embaraço para os anfitriões. A intervenção de Jesus, a pedido de sua mãe Maria demonstra a sua confiança em Deus.

O olhar atento de mãe que antecipa a resolução daquele que poderia ser um problema, Maria acredita e ordena aos serventes "Façam tudo o que Ele vos mandar". Também hoje,  Maria está presente na nossa vida, para nos lembrar que devemos fazer sempre o que seu filho nos ensinou.

Maria aceitou ser mãe de Jesus sem hesitar e passou a ser mãe de toda a humanidade. Como mãe está sempre atenta às nossas necessidades e se confiarmos nela nada nos falta.

Maria confia e dá a Jesus o impulso para a concretização de um milagre.

Este milagre é um ato de generosidade e abundância. Jesus não dá apenas vinho, mas o melhor vinho,  simbolizando a plenitude e a excelência do Reino de Deus.

Esta passagem das Bodas de Caná marcam o inicio do ministério público de Jesus. Este primeiro milagre revela a sua identidade divina e estabelece a base para os muitos sinais e maravilhas que ele realiza ao longo da sua vida. Mesmo nas situações mais cotidianas, a presença de Jesus pode trazer transformação e renovação.

Em suma, as Bodas de Caná são um poderoso testemunho da generosidade,  compaixão e poder transformador de Jesus. Convida-nos a confiar na sua divindade e a reconhecer a presença de Deus em nossas vidas diárias.

Quarto ano da catequese, centro Igreja Paroquial

Baptismo do Senhor: batizados com Jesus

O tempo de Deus, da Igreja e, em especial, da liturgia é diferente do tempo comum dos homens. Ainda há dias contemplávamos, com tanta ternura, o Menino Jesus recém-nascido e já estamos a celebrar o Batismo de Jesus e, nele, o nosso próprio batismo. O Evangelho de S. Lucas proporciona-nos uma narração lindíssima deste momento que é fundamental para compreendermos e interiorizarmos a Boa Nova.

1.     Começa por nos dizer o Evangelista: “O povo estava na expetativa”.

 A expetativa, a espera e a esperança são condições para que Deus aconteça na nossa vida. Falamos de uma espera humilde e confiante: algo vai chegar. Não sabemos bem o que é, mas sabemos que só pode ser algo de muito bom, porque vem do Pai. E nós, perante o Evangelho deste Domingo, continuamos expectantes ou achamos que estamos apenas a assistir a eventos históricos, já concretizados noutros tempos e com outros protagonistas? Nesse caso, restar-nos-ia pouco mais do que um papel de espetadores passivos que vivem as coisas em segunda mão, ou não as vivem de todo. “Que bom teria sido assistir ao Evangelho ao vivo!”, pensamos. Mas a Boa Nova atualiza-se de cada vez que a escutamos, desde que consigamos esvaziar a nossa mente e o nosso coração das certezas e seguranças que abafam as expetativas, para de novo o Senhor nos preencher e alegrar. Louvado seja Deus que nos oferece, em tantas ocasiões, uma visão renovada e renovadora da Verdade!

 2.     Como quase tudo o mais das Sagradas Escrituras, o Batismo de Jesus é sobejamente conhecido e parece-nos que nada tem a revelar-nos que não saibamos já. João veio à frente de Jesus, preparar o Seu caminho, oferecendo um batismo simples; o Senhor foi batizado Ele mesmo e Deus fez um milagre para deslumbrar o povo. Hoje, nós somos batizados para recordar tudo isto. Está a história contada. Será assim?

Sempre que nos lemos a Palavra, somos desafiados a refletir: “O que tem isto a ver connosco, comigo, hoje? O que está Deus a querer dizer-nos, a dizer-me a mim, de novo?” Se não mantivermos a expetativa a que se refere o Evangelho deste Domingo, a resposta às duas questões é “nada”. Estamos apenas a recordar histórias passadas.

3.     O povo estava expectante, ansioso. Conhecia as promessas que vinham do Antigo Testamento acerca do Messias. Circulavam muitas ideias sobre quem seria e o que viria fazer o Ungido de Deus. Seria um chefe militar, um rei, um sumo sacerdote, um curandeiro? Cada um tinha as suas necessidades, as suas expetativas. O povo, coletivamente, alimentava a esperança de que fosse sacudido o jugo do invasor romano e restaurada a antiga glória de Israel. As classes altas esperavam ampliar a sua posição e ver reforçado o seu estatuto. Os sacerdotes acreditavam no seu acesso preferencial a Deus, o que fazia deles mediadores entre os homens e o Alto.

João Batista esforçou-se para que não o confundissem com o Messias. Disse claramente ao que vinha: “Está a chegar quem é mais forte do que eu, e eu não sou digno de desatar as correias das suas sandálias”. Do mesmo modo, explicou a diferença entre o batismo (incompleto, mas importante) que ele estava a fazer e aquele (pleno) que seria trazido pelo Messias: “Eu batizo-vos com água (…) Ele batizar-vos-á com o Espírito Santo e com o fogo”.

Mas os homens são impacientes e têm tendência para ouvirem o que querem, não o que está a ser-lhes realmente dito. As suas expetativas já traziam um perfil definido do Messias, e João, em todo o seu estranho modo de viver e de se apresentar, parecia corresponder a esse perfil. O que interessava o que ele próprio, João, dizia?  

Nós não somos diferentes: queremos um Messias à nossa medida, à imagem do que achamos que Ele deve ser. A nossa expetativa nem sempre é humilde e confiante. Inevitavelmente, ficamos desiludidos e frustrados. “Deus faltou-me, a Igreja falhou-me”, lamuriamo-nos.

4.     “Quando todo o povo recebeu o batismo, Jesus também foi batizado.” Primeiro o povo, todo ele. Só depois Jesus. Porquê assim?

Antes de mais, assalta-nos a dúvida: Cristo, o autor e fonte dos Sacramentos, precisava de ser batizado? Se sim, como é que lhe faltava ainda algo? Era porventura um messias inacabado? Se não precisava, para que serve este episódio? Há quem diga que Jesus estava a cumprir as Escrituras. E estava, no sentido de consumar a Promessa de Deus e de corresponder às expetativas mais legítimas e puras do povo. Não estava a representar um papel, a fazer um teatro.

Talvez a pergunta deva ser feita de outra forma: era Jesus que precisava de ser batizado ou era o povo que precisava de ver confirmadas as promessas feitas através de todos os profetas até João Batista?  

Jesus tem enorme apreço por João. Noutras passagens dos Evangelhos, chama-lhe mesmo “o maior dos nascidos de mulher”, “o Elias que estava para vir” (Mt, 11, 11-14). Mas também diz que “o mais pequeno no Reino do Céu é maior do que ele”, indo ao encontro do que que afirma o próprio João: “não sou digno de desatar as correias das suas sandálias”. A humildade é que faz que João seja grande e é Deus quem lhe dá lugar no Reino do Céu, não os seus muitos méritos.

Um pormenor cheio de significado: Jesus é batizado depois de todo o povo, não antes. Há um caminho a percorrer, uma pedagogia que Deus nos propõe, uma ordem própria para as coisas. Ninguém corre antes de saber caminhar; o leite materno prepara-nos para os alimentos mais substanciais. Primeiro, o povo tinha de escutar João e de receber o seu batismo. Só depois, nessa terra fecunda, germinaria o Messias.

Ao submeter-se ao batismo da água, Jesus valida a pregação e o batismo de João. Ele é o Messias, mas há todo um processo para Ele chegar aos homens e os homens a Ele. Há etapas que não podem ser saltadas. Isto é tão verdadeiro para nós, este Domingo, como para aqueles homens, naquele momento que se renova no nosso próprio Batismo, na vivência dos Sacramentos e na escuta atenta da Palavra de Deus. Não estamos a recordar nem mesmo a fazer uma reconstituição histórica: estamos a fazer de novo, a atualizar, aqui e agora.

Enquanto não percebermos e vivermos desta forma, a Bíblia não passará de um conjunto mais ou menos interessante de relatos de um passado distante e cada celebração será apenas um ritual evocativo, piedoso, mas sem efeito prático em nós, indivíduos e comunidades.

5.     Eis que se dá o milagre, quando Jesus é batizado: “Enquanto orava, o céu abriu-se e o Espírito Santo desceu sobre Ele em forma corporal, como uma pomba.” Tantas coisas a acontecerem num momento aparentemente tão breve e simples!

A Pomba, símbolo da paz, da simplicidade, contrasta com a grandeza do momento. Temos de ver para lá do espetacular. Jesus fez muitos milagres, não para nos cativar pelo aparato e sim para nos mostrar o Seu Amor, para mostrar que a Sua Palavra é viva e atua em nós. Temos de procurar ver mais além e de escutar com mais atenção.

Naquele momento, Jesus “orava”: não recebe passivamente o batismo de João, mas fala com Deus. Podemos, sem abuso, imaginar que estaria a professar todo o seu amor pelo Pai e a pedir pelos que testemunhavam o momento – o que ali estiveram presentes e nós, que também somos testemunhas. A ação de Deus em nós, na nossa vida, depende da nossa atitude. É Ele quem faz o “trabalho”, mas nunca contra nós, apesar de nós, sem nós. Ele, o Todo-Poderoso, precisa de nós, do nosso sim, da nossa disponibilidade, para fazer em nós maravilhas!

Assim sucede no Batismo de Jesus. Desce sobre Ele o Espírito Santo, a corrente de amor entre o Pai e o Filho, de forma visível, acessível para nós, tão dependentes que somos dos sinais que recebemos pelos sentidos. Mas Deus sabe como somos e das nossas limitações, e apresenta-se-nos de formas que conseguimos alcançar!

6.     E Deus completa o milagre, falando de viva-voz, claramente: “Tu és o meu Filho muito amado: em Ti pus toda a minha complacência”. Jesus sabe quem é, mas Deus não cessa de lho confirmar. Quem ama, reafirma o seu amor uma e outra vez, não para calar dúvidas, mas pela alegria de anunciar esse amor e por saber da alegria que vai renovar em que o ouve. O Pai responde à oração do Filho – e responde à nossa oração!

Jesus confirma João e Deus-Pai confirma Jesus. O Messias apresenta o Precursor e Deus apresenta o Messias. O milagre não está no aparato, no espetáculo da Pomba que torna visível o Espírito nem na voz divina que os pobres ouvidos das testemunhas conseguem ouvir. Está, sim, em que tudo isto suceda por nós, para nós, para que sejamos cativados pela Palavra e pelo Amor, para lá da grandiosidade e da excecionalidade do momento. Custa-nos porventura a crer, mas o Batismo de Jesus repete-se hoje, para nós, que escutamos o relato bíblico e o revivemos. Repete-se no batismo de cada criança ou adulto, a quem o Pai diz “Tu és meu filho, tu és minha filha”. É essa a identidade de Jesus, o de Filho de Deus, e é essa a identidade de cada um de nós.

7.     O Batismo é o primeiro dos Sacramentos, não por uma mera questão de ordem temporal, mas porque é o que nos confere identidade e imprime carácter e aquele que nos inicia na Vida que Deus nos propõe. O nosso nome fica para sempre ligado a esse momento e a essa identidade, daí falarmos em nome cristão, nome de batismo ou nome próprio: próprio da pessoa e da sua relação especial com o Pai. É tudo tão rico, está tudo tão ligado, e nós ficamos tantas vezes pela superfície, pela porta de entrada que são os rituais, pela efemeridade da festa mundana!... Termos a nossa identidade, o nosso nome, intimamente ligados ao Batismo e a identidade messiânica de Jesus é tão mais do que isso!

8.     Ao mesmo tempo, as coisas são mais simples do que as fazemos. Deus está tão mais próximo do que O imaginamos! Jesus anula definitivamente a distância entre o Céu e a terra, entre o sagrado e o mundano. Serve-se de matérias familiares como a água para se fazer presente, para nos abrir a mente e o coração para o Pai. Torna-se-nos presente na Eucaristia, a partir do pão e do vinho tão simples. Comunica-nos a sua graça por meio dos Santos Óleos, no Crisma, na Unção dos Doentes. A voz de Deus ressoa-nos nos ouvidos até ao dia de hoje.

9.     O milagre é esse: Deus que que estar connosco, no Seu Filho, fazendo-nos viver o Seu amor através do Espírito Santo. Deus comunica connosco. Deus comunica-se a nós.

Vamos reviver o nosso Batismo, escutar a voz de Deus como se fosse a primeira vez e deixar que a Sua graça seja reavivada nas circunstâncias concretas da nossa vida.

 

Lúcio Gomes
10 de janeiro de 2025