Chamados à Esperança, educados para serem felizes

Na próxima semana a Igreja vive a Semana de Oração pelas Vocações, este ano, integrando também o tema do Jubileu, temos uma espécie de Matrioskas de temas, sentido e significados, o ponto central “Chamados à Esperança”.

Diz o bispo D. Vitorino Soares:

"Chamados" traduz um alvo plural de chamamentos, que inclui a vocação laical, ao ministério ordenado e à vida consagrada, que não esquece ninguém, tendo como ponto de partida o dom da vida. Todos somos chamados à Esperança, que não se traduz numa ideia, numa virtude ou num sentimento de otimismo, mas no encontro com uma pessoa que é Jesus Cristo.  Simultaneamente, estamos chamados a ser chamadores de Esperança num palco comum, onde nos situamos como público e como atores, que o Papa Francisco traduz por Peregrinos de Esperança. A mensagem que nos enviou tem como título "Peregrinos de Esperança: o dom da vida".

Neste caminho de Esperança aponta três suportes geradores de vocações: acolher, discernir e acompanhar.

Sinto sempre que estes momentos, que infelizmente nos passam um pouco ao lado, são de algum modo afunilados na sua compreensão. De modo especial esta semana das vocações, porque automaticamente pensamos nos padres e nas freiras. A vocação laical, de que se fala logo na primeira linha, nem é bem vocação, é a normalidade das pessoas! Padres e freiras é que é diferente. Recordo o belo momento que tive no cemitério enquanto despia a túnica e ouço uma voz que dizia: “ah o senhor padre sem a bata parece um homem normal”.

Mas não sou, sou sempre anormal! Porque chamado a ser no mundo sinal da presença de Deus. sou chamado a ser especial. Eu e os outros padres, as freiras todas, os leigos consagrados e todos os que pelo baptismo se tornaram filhos de Deus.

Será esse o caminho da Esperança?

Não devíamos ter outro cuidado nesta coisa da vocação laical ser a norma?
Casar deve ser uma vocação, realizar-se num projecto comum com o cônjuge, tornarem-se um ao outro (santificarem-se) sinais do amor de Deus no Mundo, que bem precisa!
E não apenas porque é normal “e já tens idade para isso!” “não fiques para tia/o!”

- O que queres ser quando fores grande?

-Astronauta, bombeiro, médico, famoso, youtuber, DJ?

- Feliz...

Não seria assim que devíamos educar os nossos miúdos.

Lembro-me que em Maio de 2005 ao terminar o tempo propedêutico, que antecipou a minha ida para o Seminário de Coimbra, fui assaltado pela dúvida: “e se Deus quer que eu seja padre, mas não é isso que eu quero para mim?
Arrastei-me dolorosamente ao escritório do, na altura padre Virgílio, para abrir o coração, era um domingo de manhã, ali antes da missa.
Daquela vez não me disse que andava aos pinotes, nem fez pouco de mim por não saber onde ficava o Serro Ventoso (sim, tenho traumas mal resolvidos com ele), acolheu-me com um grande sorriso e fez-me sentir acolhido. E explicou-me que o que quer que seja que Deus sonha para mim vai coincidir sempre com a minha felicidade.

Passam agora 20 anos, já dêmos os dois grandes voltas, cambalhotas e pinotes e eu recordo ainda a mesma frase.

Curiosamente, esta semana perguntaram-me se eu sou feliz. Sou. Meio amassado, porque me importo, mas sou.

Nesta semana, rezo para que sejamos capazes de transmitir aos nossos miúdos esta mesma certeza, que Deus nos chama a ser felizes, portadores de esperança. E que cada passo, seja qual fora a direção, deve ser ponderado, como chamamento, porque Ele quer sempre a nossa maior felicidade. Seja padre, freira, casado ou solteiro. Seja sempre o serviço, o amai-vos uns aos outros a comandar.

Pe. Patrício Oliveira