Lembram-se do incêndio que nos levou a mata? E de como de repente todos os comentadores eram experts (ainda venho a falar inglês aqui no avião) na mata nacional, na reflorestação e no cuidado?
E do Covid? Em que todos percebiam de vírus e de saúde pública e álcool gel? Ainda há pessoas que não gastaram o papel higiénico que compraram todo.
Depois foi a guerra na Ucrânia e depois a de Israel, aquelas que aparecem nas notícias, as outras não contam.
Nas últimas semanas todos são experts em eletricidade e gestão de infraestruturas.
E a última moda é cardeais, conclaves e Papas. Como dizia um professor do seminário em Coimbra: “que infecção!”
Esta semana queria partilhar a aventura da Leadership Conference 25, e os sonhos e planos e projectos, mas inevitavelmente a nossa atenção ficou toda no Conclave e na Fumaça Bianca que os italianos que estavam comigo no Sky Garden gritavam (eu ia dizer que viram lá de cima, mas ninguém acreditaria).
Foi com enorme expectativa que lá nos sentámos a imaginar a cerimónia à porta fechada, a agitação da votação, o aceitar, o juramento, experimentar a batina que lhe servia melhor até ser hora de vir espreitar à janela.
Não sei se da idade, se das circunstâncias, como vi online “não me considerando eu velho, já vou no meu quarto Papa”, este processo foi-me mais próximo, parece-me que talvez até com mais informação que o do Papa Francisco.
Gostei de ver um homem sorridente, com aparente genica e, dentro da escolha: muito novo! Tocou-me profundamente ver o contraste do sorriso dos lábios, com os olhos que não sorriam, porque eram esmagados pelo peso do Mundo naquele momento.
Talvez pelo tempo Pascal, só me ocorria a figura de Jesus a preparar-se para entrar em Jerusalém sabendo que o triunfalismo era enganador (e falso!). Ele sorriu e fez tudo bem, mas as imagens em grande plano do rosto sorridente e bonito, não enganavam. De repente era o horto, e a oração de Jesus foi partilhada com ele: “faça-se a Tua vontade”.
Espero que tenha um coração de Leão, cheio do evangelho, corajoso, arrojado e dedicado.
Esta semana rezámos por ele. 5.000 pessoas, uma maioria protestante, de braços erguidos, cabeça baixa, evocou o Espírito Santo para ele, fosse quem fosse, mas que fosse da vontade de Deus.
Quando vi aquele homem que me parecia tremer como varas verdes, mas a fazer-se forte “coragem de leão”, reconheci o brilho nos olhos que vi esta semana nos tais 5.000: olhos cheios de Deus, de desejo de dizer sim, de fazer parte da missão. Olhos cheios de vontade, de sonhos, mas ao mesmo tempo, marcados pelo peso do quanto nos falta ainda fazer, o peso da responsabilidade de ser parte desta multidão chamada por Deus, que agora tem um Leão à frente.
Hoje vi que até a marca do relógio, e o valor (145 dólares) foi notícia, aguardo curioso o comentário inflamado do Trump a dizer que será o melhor Papa e que vai enviar pessoalmente um novo Papa móvel feito como seu carro presidencial. Imagino que o Manuel Luís Goucha já esteja em Roma.
Mas nós por cá, podíamos tentar deixar passar ao lado este sururu todo, poderíamos deixar o homem respirar e ter uma batina que lhe sirva devidamente e, entretanto, rezemos.
Rezemos por ele, pela Igreja. Para que o Leão seja porta-voz do sonho de Deus para a Igreja em renovação.
Pe. Patrício Oliveira