Há semanas que habitam no meu coração um conjunto de situação que gostaria de partilhar com a comunidade. Acho que iniciar estes editoriais foi o concretizar desses pensamentos. Uma forma de proximidade, de partilhar de passar algumas preocupações, perspetivas, que não apenas na homilia.
Há uns dias, na Assembleia do Clero, um padre partilha que chegámos ao ponto de reduzir a oração à missa. E eu penso o mesmo em relação com a relação/interação com o padre. Vocês são muitos, gente boa, mas muitos, tenho a certeza de que há pessoas, de missa semanal, com quem não tive oportunidade de conversar, seja por que motivo ou circunstância seja (e não tem mal! Mas também é verdade que fui correr no sábado e como me enganei dei por mim no meio do mercado, e senti-me uma vedeta, metade eram paroquianos).
Tem sido cada vez mais claro que o modelo tradicional de Paróquia está a ficar desatualizado, a nossa raiz é muito rural, próxima, na medida de pequeninas comunidades, onde todos estão dentro do assunto e sabem como agira, fazer e estar.
O tradicional:
- “Quanto é Sr. Padre?”
- “não é nada”,
Costumava ser seguido por “então fica aqui isto para a paróquia”. Agora o nada é nada!
Por outro lado, aí do padre que cobrasse o que quer que fosse por algum serviço, ou taxa por documentação. Mas o povo dava, porque sabia que as despesas nãos e pagam sozinhas.
Mas agora? Agora o nada é nada, e se cobrarmos, pagam.
Estamos a cair na prestação de serviços? Será tema lá mais para a frente.
Sinto que é a comunicação que falhou, há muita informação que não passou para a geração seguinte.
Ainda hoje uma catequizanda, que fará o crisma nos próximos dias, me perguntava o que escrever na ficha de inscrição onde dizia: “centro de catequese”. Não direi que me convidou para padrinho, para não dizer que foi a princesa. Mas a culpa não é dela, é nossa, que achamos que ela sabe porque foi sempre assim! E depois nos surpreendemos.
Os funerais são outra situação dolorosa, aí sim caímos na prestação de serviços.
Quando o telefone toca e ouço “é para marcar um serviço para amanhã” morro um bocadinho por dentro. Pior fico quando pergunto quem é e a resposta é “não sei que a família ainda não veio falar connosco, estou só a adiantar serviço”
Meus amigos, já me aconteceu desmarcar funerais. Um, porque o senhor afinal não tinha morrido, outro porque afinal a família não queria celebração religiosa.
Já me marcaram funerais de não católicos. Não há muito tempo soube de uma família que veio porque, tendo a funerária sido proactiva e marcado o funeral rapidamente comigo, não tiveram coragem de dizer que não queriam. E lá vieram sem saber fazer o sinal da cruz que fosse.
A família perguntar se sou da funerária também acontece, mas é divertido.
Mas custa quando chegando à celebração percebo que a família é conhecida, e tem o meu contacto, e o da irmã e o do cartório.
Custa dizer à funerária que não haverá custos do funeral porque a família é paroquiana, ativa e assídua, e 2 semanas a mesma família vir perguntar quanto deve.
Isto para dizer uma coisa simples: “quando precisarem de um padre, liguem-me 917 541 756”.
Tratem com quem é o responsável.
As missas de sétimo dia quase desapareceram, porque com as mudanças e não havendo missa todos os dias, a funerária já não a marca automaticamente. Ou então marcam para dias em que não há sequer missa.
A newsletter dá imenso trabalho, os avisos em papel, entregues em mão, para que todos possam estar a par dos horários, das actividades.
O cartório tem duas tardes, o site da paróquia tem opção de agendamento a algumas segundas-feiras do mês, e estamos a trabalhar para que se possa agendar mais horas e mais facilmente.
“- ah e tal mas isso é para os novos”, toda a gente tem Facebook e um neto!
Quem sabe se os crismandos não querem fazer parte de um departamento de comunicação da paróquia e criar um da vigararia.
É uma cidade sim, mas é uma terra pequenina, é fácil encontrar o padre.
Sendo apenas um, os afazeres, as responsabilidades, aumentam, o tempo é curto para tudo.
Começa a ser difícil o modelo tradicional de estar à espera de quem passe.
Porque na verdade, estou duas tardes com a irmã e ainda tenho que dar mais umas horas extra para processos de casamento e atender quem não pode passar de tarde em horário laboral.
O tempo para eu ser eu, para ler, rezar, não fazer nada, fica muito curto. E é um ritmo que não é saudável e não se suporta muito mais tempo que eu já não vou para novo.
Pelo que, meus estimados paroquianos do meu coração, precisamos construir uma paróquia nova, moderna, adaptada aos ritmos de vida que temos, mas que seja próxima.
Onde a proximidade de relação seja possível. Não paguem a alguém para fazer algo por vocês.
As próximas semanas trarão novidades, novas responsabilidades, novas oportunidades, precisarei da vossa ajuda para reconstruirmos uma comunidade que toca e transforma pessoas; uma comunidade que é relevante para todos nós e para a cidade.
Uma comunidade que dá respostas, oferece oportunidades; uma comunidade missionária como Jesus sonhou.
Que vos parece?´
Pe. Patrício Oliveira