Junho é tradicionalmente marcado como o mês dedicado ao Sagrado Coração de Jesus, uma devoção que nos convida a contemplar profundamente o amor insondável de Cristo pela humanidade. Este tempo especial é uma oportunidade para renovarmos nossa fé, reavivarmos nossos compromissos espirituais e nos aproximarmos da fonte inesgotável de misericórdia e compaixão.
A devoção ao Sagrado Coração de Jesus nasceu da revelação privada recebida por Santa Margarida Maria Alacoque no século XVII. Durante essas aparições, Jesus pediu que Seu coração, cheio de amor pela humanidade, fosse venerado e que a devoção fosse propagada como forma de consolo ao Seu Coração ferido pelos pecados do mundo.
O coração de Cristo, cercado por chamas e coroado de espinhos, simboliza os sacrifícios feitos pelo Salvador para resgatar a humanidade. É um sinal do amor ardente e infinito de Cristo, que sofreu e morreu para nos redimir, e também representa o convite à reparação e ao compromisso com Ele.
Tradicionalmente é também vocacionado para oração pelo clero, Bispos, padre e diáconos de modo muito especial pela santificação dos sacerdotes. Na nossa diocese por convite do nosso bispo celebramos o jubileu dos Sacerdotes no dia do Sagrado Coração de Jesus que será este ano no dia 29 de Junho em Fátima.
Pessoalmente penso nos padres que conheci antes de ser colega deles, recordo, com cada vez maior respeito, o falecido padre Manuel Ferreira – o único pároco que conheci até aos 16 anos, quando a Marinha mandou o padre Sérgio lá para Caxarias, terra de missão; e o padre Zé Luís que sempre me pareceu mais jovem que os jovens que acompanhava, mesmo quando lhe consegui ganhar os famosos 5€ no jogo das entrevistas.
E agora que sou colega deles todos, os que ainda cá andam, que o número reduziu assustadoramente, olho para eles, colegas, professores, amigos, que apreensão. Há cansaço. Nalguns há até desânimo, desencorajamento. Não só porque as forças vão faltando, mas também por uma má escolha de estratégia no decurso do ministério. Talvez porque a missão é mais desafiante neste mundo novo que teima em crescer e desenvolver demasiado rápido, para as nossas capacidades e até para a nossa saúde mental – dos padres e dos leigos.
Pelo que este ano me tocou de forma especial este desafio/convite a rezar pelos padres, a fazermo-nos presentes na sua vida, a suportar. Talvez seja dos 40 ou de assumir esta tarefa de Vigário, aumentou a minha sensibilidade, mas também a minha compreensão da realidade.
Sobretudo porque, e era aqui que queria chegar, não são só os padres que andam marafados pois não? Há um padrão semelhante nas famílias. Nos jovens que procuram perceber o seu lugar no mundo, os que são crismados amanhã e os outros todos.
Também os casais, que no meio disto tudo, parecem, como dizia um amigo padre: 2 carris do comboio, que se estendem paralelamente e nunca se cruzam, fora os que derivam e que criam um vazio entre eles.
O curioso é que os padres fazem o mesmo consigo mesmo! Parece que é um erro de software que a humanidade tem.
No dia em que fui ordenado, procurei refúgio no adro da Sé para ganhar coragem. Chovia torrencialmente e o barulho da chuva abafava o cavalgar do meu coração. Fui abordado por um padre que tinha abandonado o ministério há vários anos. Abordou-me com os olhos a chorar mais que o torrencial que se abateu em Leiria naquela tarde: “- Nunca te deixes isolar, nem ficar sozinho”.
De onde estou é o que vejo mais, gente sozinha, afogada em responsabilidade, boa-vontade e desejo de chegar a todo lado. Gente que engole para não incomodar. Que guardam para si, não como Maria, mas para silenciar e não incomodar. E o vazio aumenta no coração dos padres e no distanciamento dos casais que procurar desesperadamente chegar ao outro, mas que se sentem em planos diferentes, pelo que parece virtualmente impossível tocarem-se novamente.
Neste mês do Sagrado Coração desejo que sejamos todos capazes de ver nele um porto seguro, onde respirar, recuperar o fôlego e a coragem. Sonho que nos possamos sentir fortalecidos e inspirados por Ele. A Amar sem medida, sem medo e sem perder a coragem nem desistir.
Ao longo do mês de junho, que possamos deixar nossos corações serem moldados pelo amor do Sagrado Coração de Jesus. Que cada oração, cada gesto e cada pensamento sejam permeados pela graça divina que emana do Coração do Salvador. E que, unidos em fé e devoção, vivamos como testemunhas vivas do amor de Cristo no mundo.
Que o Sagrado Coração de Jesus abençoe e proteja cada um de nós, hoje e sempre. Amém.
Pe. Patrício Oliveira